02/06/2022
Foto: Radis/Fiocruz
A jornalista Marinilda Carvalho, que durante mais de 40 anos trabalhou em redações do Rio de Janeiro e de Brasília, morreu nesta quinta-feira, 2 de junho, no Rio, como viveu durante 76 anos – indignada com as injustiças do mundo. Conhecida pelo texto lúcido e irrepreensível e pela coerência na defesa das causas sociais, Marinilda também foi pioneira, desde os anos 1990, no uso e no conhecimento das potencialidades e armadilhas da internet. Mari, como era conhecida, trabalhou no Diário de Notícias, no Correio da Manhã, na Última Hora, nas revistas Veja e Istoé e no Jornal do Brasil, onde, nos anos 1990, foi redatora e repórter de política e de internacional. Foi ainda coordenadora e articulista do Observatório da Imprensa, site criado por Alberto Dines, e editora da revista Radis, da Fundação Oswaldo Cruz.
Em 1975, no governo do general Ernesto Geisel, após uma noite de fechamento da edição da Veja, ela desapareceu. Foram dias e dias de buscas e interferências de amigos, fontes, deputados e advogados amigos, até que se descobriu que ela fora levada para os porões da rua Tutóia, em São Paulo, sede paulista do Doi-Codi. Ficou numa cela próxima à de Vladimir Herzog, morto sob tortura. Torturada, Marinilda foi libertada, mas permaneceu sob vigilância da ditadura.
Culta, entusiasmada, indignada, exigente com a apuração e sempre com um imenso respeito pelo ser humano desvalido, ela foi e seguirá sendo referência para muitos profissionais da imprensa que tiveram a sorte de trabalhar ao seu lado. Em entrevista em 2010 à Radis, a veterana Marinilda ressaltou a experiência de aprendizado que tivera ao participar, em seu primeiro trabalho para a revista, da 12ª Conferência Nacional de Saúde, em 2003. Ela definiu o encontro como “democracia participativa em dose cavalar” e falou de sua satisfação em fazer “jornalismo do bem, jornalismo em sua função social, de serviço público, coisa que a imprensa comercial deixou de fazer há tempos”.
O velório de Marinilda será realizado nesta sexta-feira (3), a partir das 8h00, na Capela 7 do Cemitério da Penitência, no Caju.