Morreu nesta quinta-feira, 25 de novembro, no Rio de Janeiro, o jornalista e escritor Moacir Werneck de Castro, aos 95 anos, de pneumonia. O falecimento aconteceu às 9h45, na clínica São Vicente, na Gávea (zona Sul), onde ele estava internado desde o dia 6 de novembro. Seu corpo será cremado no sábado, às 14h30, no crematório do cemitério do Caju. A ABI lamenta a morte do seu ilustre associado.
Moacir Werneck de Castro ingressou na ABI em 31 de julho de 1945, e por um grande período integrou o Conselho Administrativo da entidade, transformado em Conselho Deliberativo após reforma determinada pelo Novo Código Civil.
Seu primeiro contato com a ABI aconteceu em 1934, após um episódio de violência policial contra um sindicato de trabalhadores, cuja assembléia ele cobria na sua primeira missão jornalística como foca do Jornal do Povo, de orientação comunista, cujo proprietário era Aparício Torelly, o Barão do Itararé. Sobre esse episódio Moacir Werneck de Castro contou que passou por um “corredor polonês” e foi espancado juntamente com alguns trabalhadores e levado preso por agentes da Polícia Especial, cuja sede funcionava na Rua da Relação.
A notícia da sua prisão em pleno exercício da profissão de jornalista foi relatada pelo seu irmão Luiz Werneck de Castro por meio de uma carta endereçada ao então Presidente da ABI, Herbert Moses, solicitando providências para localização do seu paradeiro e a sua soltura.
Herbert Moses prontamente atendeu ao pedido e articulou a libertação de Moacyr. Em seguida o Presidente da ABI escreveu a Luiz Werneck reiterando “o desejo da ABI de auxiliá-lo em tudo que for necessário, prestando ao seu irmão toda assistência e solidariedade”. Moacir Werneck de Castro foi solto, mas ao recordar o fato comentou: “Em consequencia fui posto em liberdade. Mas o rótulo ominoso ficou, pelos anos afora, registrado no meu habeas data”.
“Subversivo”
O fato está relatado no livro “Europa 1935”, no qual ele conta a história “dos seus vinte anos”, período em que era estudante de Direito “sem a certeza de vir a ser advogado”, desiludo com uma breve experiência no Fórum. “O jornalismo, em que eu ensaiava os primeiros passos, era o que mais me seduzia”, escreveu Moacir Werneck de Castro no primeiro capítulo da obra intitulado “Um jovem subversivo”.
Neto e bisneto de senhores de escravos, Moacir Werneck de Castro lamentava o fato de ter nascido no Rio de Janeiro, no município de Barra Mansa, em 28 de fevereiro de 1915. Desde cedo demonstrava o gosto pelos assuntos políticos, e por causa do engajamento familiar adquiriu por herança dos pais e dos irmãos as ideias de contestação e justiça social.
Mas o despertar de Moacir Werneck de Castro pelo socialismo se deu quando ele tinha 17 anos e estava ingressando na Faculdade Nacional de Direito. Ali ele se filiou a uma organização chamada Federação Vermelha de Estudantes que funcionava em um prédio da rua do Carmo. Segundo Werneck era uma espécie de linha auxiliar da Juventude Comunista, a qual ele nunca chegou a se engajar. Foi assim que Moacyr Werneck de Castro iniciou o seu “curso jovem de subversivo”.
Para o jornalista Villas-Bôas Corrêa, a morte de Moacir Werneck de Castro deixa “muitos buracos na imprensa brasileira”:
— O Moacyr era uma da figuras mais importantes do jornalismo brasileiro. Eu não convivi com ele no dia a dia das redações, porque ele era mais analista e comentarista e eu fazia coisas diferentes, mas era sem dúvida um dos nomes importantes da imprensa, pelo exemplo de caráter e de conduta e que tinha uma política definida que defendeu até o fim, disse Villas-Bôas Corrêa.
O mesmo pensamento, a respeito de Moacir Werneck de Castro, tem o jornalista e acadêmico Murilo Mello Filho, que disse que o admirava justamente pela fidelidade que ele tinha com as suas ideias. “Ele foi fiel até o fim aos seus ideiais socialistas, um homem que nunca recuou um milímetro das suas convicções”, afirma Murilo.
Murilo Mello Filho disse que se aproximou de Moacir Werneck de Castro quando este atuava no Conselho Deliberativo da ABI, mas somente há pouco tempo é que teve uma aproximação maior com o escritor e jornalista.
A carreira
Moacir Werneck de Castro iniciou a sua carreira profissional no jornalismo como redator da Revista Acadêmica e Diretrizes. Antes disso, fez um rápido estágio no Jornal do Povo que teve uma circulação meteórica de dez dias, em outubro de 1934, quando foi fechado por causa da repercussão das matérias do repórter Adão Pereira Nunes sobre as conseqüências da rebelião de marinheiros, conhecida como a Revolta da Chibata, ocorrida em 1910, liderada por João Cândido.
Segundo depoimento de Werneck no livro “Europa 1935”, oficiais da Marinha integralistas ficaram furiosos com a exaltação que o jornal fazia a João Cândido e seqüestraram Aparício Torelly, “que teve a cabeça raspada e foi solto de cuecas na Floresta da Tijuca”.
Durante a Segunda Guerra Mundial, redator do serviço de imprensa da Interamericana de Publicidade. A partir de 1945 e até 1954, redator dos jornais Tribuna Popular e Imprensa Popular. Em 1955, fundou, com Jorge Amado e Oscar Niemeyer, o jornal Para Todos — Quinzenário de Cultura Brasileira. De 1957 a 1971, redator-chefe de Última Hora, havendo colaborado com vários jornais e revistas do País. Até recentemente, foi articulista semanal do Jornal do Brasil e do Jornal da Tarde, de São Paulo.
Moacir Werneck de Castro foi também assessor editorial da “Encyclopedia Britanica do Brasil” (1972-1987), tendo participado da elaboração da “Enciclopédia Mirador Internacional”. Fez, com Antonio Houaiss, a revisão crítica dos originais do “Dicionário de Ciências Sociais”, da Unesco, publicado no Brasil pela FGV.
Livros
Moacir Werneck de Castro sempre foi um homem ligado à cultura e nessa área, além da sua produção literária, foi membro do Conselho de Cultura do Estado do Rio de Janeiro. Escreveu os seguintes livros: “Dois caminhos da Revolução Africana”; “O libertador” – A vida de Simon Bolívar”, traduzido para o espanhol em edição da Universidad de Caracas; “Mario de Andrade — Exílio no Rio”, ensaio sobre o período em que conviveu com o autor de “Macunaíma”, no Rio de Janeiro, de 1938 a 1941, seguido de cartas que lhe foram dirigidas por esse escritor.
Escreveu também “A Ponte dos Suspiros”, coletânea de artigos; “O sábio e a floresta” e “Missão na selva”, biografias, respectivamente, do naturalista Fritz Müller e do engenheiro Emil Odebrecht, pioneiros da colonização alemã em Santa Catarina; e “A máscara do tempo — Visões da era global”. Traduziu numerosos livros, entre os quais “O general em seu labirinto” e “Do amor e outros demônios”, de Gabriel Garcia Márquez.
* Colaborou Maria da Glória Lampreia.