Por Igor Waltz e Cláudia Souza*
01/01/2015
Ao menos 118 jornalistas morreram em ataques com bomba ou em incidentes de fogo cruzado no mundo em 2014, de acordo com dados da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) divulgados nesta quarta-feira, 31 de dezembro. Na América Latina, o regime de terror do crime organizado continua fazendo estragos, acrescentou a instituição.
O número é superior ao registrado há um ano, quando 105 jornalistas morreram exercendo sua profissão, segundo este último balanço. Estes números “são um lembrete da gravidade da crise de segurança vivida pelos meios de comunicação”, indica a FIJ em um comunicado, no qual pede que os governos “façam da proteção dos jornalistas sua maior prioridade”.
A FIJ cita “como exemplos as brutais decapitações públicas, como as dos repórteres autônomos britânicos James Foley e Steven Sotloff pelas mãos de militantes do autoproclamado Estado Islâmico”, o que “representa uma guinada na atitude dos governos em relação à proteção dos meios de comunicação”.
Como resultado da violência contra os repórteres, , “muitas organizações de meios de comunicação hesitam no momento de enviar repórteres às zonas de conflito por motivos de segurança, inclusive de utilizar material compilado por jornalistas autônomos”, lamenta o presidente da FIJ, Jim Boumelha.
Em sua 24ª lista anual, a FIJ classifica a região Ásia Pacífico pelo segundo ano consecutivo como a mais perigosa, com um total de 35 jornalistas mortos. Ela é seguida pelo Oriente Médio, com 31 falecidos, América, com 26, África, com 17, e Europa, com 9.
O Paquistão, com 14 jornalistas mortos, e a Síria, com 12, são os dois países mais perigosos do mundo para exercer a profissão. Na América Latina, 25 repórteres morreram em incidentes violentos registrados em Brasil, Colômbia, República Dominicana, Honduras, México, Paraguai e Peru.
“O implacável regime do terror e a violência do crime organizado continuam fazendo estragos no jornalismo na América Latina, especialmente em Honduras (6 mortos) e México (5)”, afirma a FIJ.
Nestes países, “muitos jornalistas pagam com sua vida por informar sobre fatos como a corrupção ou o tráfico de drogas”, acrescenta a FIJ, que extrai esta conclusão, explica, após a missão realizada em setembro no estado mexicano de Guerrero, “uma das áreas mais violentas do México”, com o propósito de “alertar as autoridades para a necessidade de uma ação drástica para proteger os jornalistas locais”.
O número da FIJ difere do publicado na semana passada pelo Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ) que, em seu relatório anual, indicou que 60 jornalistas morreram exercendo sua profissão em 2014.
Crescem assassinatos no Brasil
O ano de 2014, de acordo com dados da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj), foi um anos dos mais violentos para os jornalistas brasileiros. Em números absolutos, até o último mês de outubro, registrou-se a diminuição dos casos de agressões, em comparação ao ano de 2013, quando foram toralizaram 82 casos de violência contra profissionais da comunicação, ante os 189 casos ocorridos em 2014. O número de assassinatos no Brasil, entretanto, voltou a crescer: três repórteres foram assassinados em decorrência de suas atividades na imprensa.
A trágica morte do repórter cinematográfico Santiago Idílio Andrade, da TV Bandeirantes, em 10 de fevereiro, durante a cobertura de uma manifestação no Centro do Rio, chocou o País e o mundo. O câmera foi atingido na cabeça por um artefato explosivo lançado por manifestantes que participavam de um protesto contra o aumento das tarifas dos ônibus na cidade. Os responsáveis foram identificados e presos pela Polícia, e respondem a processos criminais.
Também em fevereiro do corrente ano foram assassinados os jornalistas Pedro Palma, no Rio de Janeiro, e Geolino Lopes Xavier, conhecido como Geo, na Bahia. Ambos os crimes foram encomendados.
Manifestações
Grande parte dos casos de violência registrados contra jornalistas e demais profissionais de imprensa ocorreram durante as manifestações de rua, por parte da polícia e da população.
Foram registrados 187 casos. Já em 2013, em meio a protestos nas ruas, 68 jornalistas e 11 cinegrafistas e fotógrafos foram alvos de ataques, totalizando 79 casos.
A Fenaj afirma que as agressões cometidas por policiais e populares “apontam para uma demonstração inequívoca de incompreensão do papel dos jornalistas para a garantia da democracia e dos direitos da cidadania”:
— Apesar desses episódios que surpreenderam e chocaram a Fenaj e os sindicatos da categoria, os jornalistas continuaram sendo vítimas de prisões, Intimidações, ameaças, agressões físicas e verbais, além do impedimento ao trabalho. Os números da violência contra jornalistas são alarmantes e exigem medidas urgentes por parte do Estado brasileiro e das empresas de comunicação.
Por intermédio do Ministério da Justiça, de acordo com a Federação, cabe a definição de um protocolo de atuação das forças de segurança que garantam a integridade física dos profissionais de imprensa. Já da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República exigimos a criação do Observatório da Violência contra Jornalistas para o levantamento preciso dos casos e o acompanhamento das investigações, com a consequente punição dos culpados, diz a Fenaj.
* Com informações da France Presse, Fenaj, e agências internacionais.