09/07/2021
Por Gustavo Girotto e Tercio David Braga, publicado no Portal Imprensa e Revista imprensa
uem já assistiu aos filmes ou leu os livros de Harry Potter com certeza se lembra do jornal “O Profeta Diário”, com fotos que se mexiam e a interatividade
mágica da leitura. Como os jovens con sumirão notícia no futuro? A resposta mais
óbvia a essa interrogativa é: jamais como no passado! Mas refletir o contexto atual, sem dúvidas, é necessário. Imagi ne duas cenas icônicas do cotidiano: – O pai lê o jornal em papel; já o filho consome a mesma publicação no sofá, mas no tablet – formas diferentes de acessar o mesmo conte údo.
O recado é objetivo: as novas gerações quase não leem jornais (em papel), e por vários motivos. Seja por razões econômicas (papel é caro), ecológicas (papel é feito de ár vores) ou práticas (papel é pesado), a tendência é que as impressões cessem em um futuro não muito distante.
A tiragem mundial despenca e, cada vez mais, as edi ções em papel migram para o ambiente eletrônico. Embora esta profecia já tenha sido varrida para debaixo do tapete algumas vezes, em algum momento ela vai se concretizar. Se não pelos motivos acima descritos, será pela falta de interatividade que um jornal pode ter com o seu “leitor”.
Ao contrário daquela enorme mancha cinzenta – com uma foto ou ilustração -, as novas formas de se consumir a informação agora são totalmente interativas (que rea gem aos seus gestos e comandos de voz), com muitas fotos (podem ser vídeos também). Além da “notícia”, ainda será possível ler espicaçadas referências sobre um determinado tema, ou mesmo o apontamento instantâneo de palavras e traduções. Agora a “notícia” não termina ao fim da edi ção diária, mas é contínua. Ao invés da assinatura de uma publicação – o conceito caminha na direção de um Netflix editorial. Esse modelo já é quase realidade.
Mas o que fica cada vez mais claro – como o sol do meio-dia – é que os jovens consomem mais informação em smartphones, onde algoritmos e inteligência artificial selecionam conteúdo “mais adequado”. As novas gerações também não estão dispostas a pagar para ter acesso a con teúdo informativo, abandonando sites de veículos “tradi cionais ” e optando por outras formas de navegação, como redes sociais ou aplicativos de troca de mensagens.
E o problema está justamente nesta ardilosa armadilha, que tempera uma saborosa sopa de letras (e emojis) que os faz confundir publieditorial, fake news e conjecturas com fatos embasados (ou notícias, como preferem alguns). E os ‘influencers’ passam a moldar um novo estilo de consumo. O famoso “quem” (indica) se contrapõe a uma leitura qua lificada.
Essa fórmula também foi amplamente usada por políti cos e governos populistas como Trump, Erdogan e Bolso naro para ficar em evidência na internet, criando polêmicas que se transformaram em verdadeiros nevoeiros para a in formação. Constroem-se verdades paralelas e, a mídia tra dicional, passa ser o algoz da sociedade moderna. O novo fast-food de heróis (populistas) e vilões (jornalistas).
A guerra dos algoritmos hoje se transformara em axioma de engenharia, ao invés de se resgatar a essência do bom e velho jornalismo. É a ditadura dos ‘likes’, que se mistura de forma inebriante pela conquista de seguidores. O vale
-tudo abarca desde bots até perfis falsos em redes sociais. E esse é o desafio do futuro: se livrar da dependência de likes e do feedback dos seguidores.
Não há dúvidas de que o avanço tecnológico impacta em novas formas de interatividade com o noticiário, mas, quando acaba a energia ou a bateria, o velho papel entra em campo.
Algoritmos não enganam jornais impressos, que a cada dia estão mais analíticos. Eles ficam por aqui mais um tempo.
O binômio direito-dever de informar, quanto à imprensa do futuro, transcorre em ensinar as novas gera ções o que compartilhar no WhatsApp, uma vez que uma eleição (ou decisão) protagonizada por aplicativos deixa mais que uma trinca – se torna um desastre de longo prazo. Mais sal na sopa, menos algoritmos; e um futuro previsível?… esse ainda nem com bola de cristal(…)
Gustavo Girotto é jornalista, foi um dos primeiros we brepórters do portal IMPRENSA, é sócio da agência Tamer Comunicação Empresarial;
Tercio David Braga é jornalis ta com passagens pelo O Estado de São Paulo, foi repórter de tecnologia do jornal Metro, do Grupo Bandeirantes, e trabalha na agência FSB. Ambos são autores da série docu mental “A tirania da minúscula coroa”.