09/07/2020
*Alcyr Cavalcanti, da Comissão de Liberdade de Expressão e Direitos Humanos da ABI
A Pandemia do Covid-19 tem crescido de maneira alarmante nas mais de 950 favelas cariocas. A proliferação rápida do Vírus se dá principalmente em virtude da densidade populacional, em pequenos espaços o que obriga a uma proximidade entre as pessoas. A “Maior Favela da América do Sul” assim como todas as favelas do Rio de Janeiro têm enfrentado problemas em meio à Pandemia, que tem atingido a todos, sem distinção. Com um dos maiores índices de tuberculose do país o atendimento médico tem sido prejudicado pelo alto índice de moradores afetado pelo Covid-19. A Prefeitura mesmo com índices alarmantes de contaminação pelo vírus, decidiu permitir uma flexibilização do isolamento em vários setores. Deve-se ressaltar que a maioria das favelas não seguiu as regras de um isolamento, devido a inúmeros fatores, principalmente por falta de um auxílio governamental em tempos de crise. A maioria dos moradores trabalha no setor de serviços, um dos mais afetados pela Pandemia e são obrigados a sair de casa para procuras recursos em uma época de crise.
No final de junho a Prefeitura em parceria com IBOPE fez uma amostragem em moradores de localidades que estariam contaminados pelo Vírus e concluiu que 16.059 pessoas poderiam estar contaminadas. Os pesquisadores usaram 3.210 testes rápidos em moradores de seis regiões da cidade, Rocinha, Maré, Rio das Pedras, Cidade de Deus, Realengo e Campo Grande. Na Rocinha foram feitas 500 amostras envolvendo uma estimativa de cerca de 70 mil habitantes, um percentual de 23% deu positivo e 77% deu negativo. Lideranças comunitárias, no entanto, estimam uma população de pelo menos 150 mil moradores, sendo assim o número de infectados certamente será muito maior. A agente comunitária Rita Smith moradora da Rocinha, há muitos anos, disse que é necessário haver transparência no fornecimento de dados, devido à gravidade da situação, principalmente quando começa a haver uma flexibilização em todos os níveis.
Em meio a tantas dificuldades, um rastro de esperança voltou com o retorno das obras na Rocinha do “Programa Comunidade Cidade” que foram retomadas, depois de mais de três meses de paralisação. São as obras da implantação das redes de água, esgoto sanitário, drenagens e a pavimentação da Vila Cruzado, na parte alta da localidade. O Projeto está previsto para término da obra em doze meses em função dos R$18 milhões que a Construtora VIX vai receber para efetuar as melhorias.
A Prefeitura criou uma Comissão para acompanhar e fiscalizar as mortes de moradores pelo Covid-18 na UPA da Rocinha, publicado no D.O. Municipal no início de junho, sem um diálogo com lideranças locais, visto que nenhuma foi consultada nem convidada para integrar o grupo. Três funcionários da Rio Saúde foram designados, o médico Rafael Alvim Lobo, coordenador tendo Robson Vieira e Fabiana Silvestre como auxiliares.
A grande maioria da imensa população de moradores em Favelas é invisível aos olhos dos governantes, não existe nenhum censo oficial que mesmo aproximadamente possa dar uma estimativa do número de moradores. A Pandemia do Covid-19 é invisível, não existem números oficiais que são essenciais no controle no combate ao Vírus.
A mortalidade pode ser bem maior em função das desigualdades econômicas, falta de saneamento e a intensa circulação de moradores que não podem deixar de trabalhar e fazer uma das medidas básicas para evitar a propagação do Covid, o isolamento social. Além disso, a falta de urbanização e a proximidade entre as pessoas que muitas vezes são obrigadas a dividir a pequena moradia às vezes com mais de dez pessoas facilita a propagação rápida do Vírus. Para a pneumologista da Fiocruz Margareth Dalcomo “A transmissão comunitária está absolutamente fora de controle. É uma transmissão verticalizada e descontrolada que atinge sobre tudo as camadas menos favorecidas da sociedade”. Para José Martins de Oliveira da Rocinha, a Pandemia tem trazido à tona os imensos problemas das Favelas cariocas, que só eram conhecidas pela violência, pelas invasões policias ou pela disputa dos pontos de venda de drogas pelas redes criminais e espera que os governantes cumpram as promessas feitas em épocas de eleição.
Fontes: Fala Roça, Portal Favelas e Redes da Maré |