Morte do repórter Rodrigo Neto completa 100 dias


11/06/2013


Polícia Civil ainda não tem respostas sobre a morte do radialista e jornalista Rodrigo Neto. Polícia Federal não foi solicitada a entrar no caso. (Crédito: Arquivo Pessoal)

Polícia Civil ainda não tem respostas sobre a morte do radialista e jornalista Rodrigo Neto. Polícia Federal não foi
solicitada a entrar no caso. (Crédito: Arquivo Pessoal)

Nesta terça-feira, 11 de junho, completam-se 100 dias do assassinato do jornalista Rodrigo Neto, ainda não esclarecido pela polícia. Neto, morto a tiros dia 8 de março, em Ipatinga, Minas Gerais, foi lembrado em uma manifestação organizada pelo Comitê Rodrigo Neto, idealizado por parentes amigos, parentes e colegas de trabalho para não deixar o crime cair no esquecimento.

O ato aconteceu na Avenida Selim José de Sales, na altura do número 1000, em frente ao Churrasquinho do Baiano, local onde ocorreu o crime. Durante reunião realizada na última quinta-feira, 6 de junho, os integrantes do Comitê decidiram pelo protesto e também pela retomada das ações de cobrança por resposta para este e também outros crimes ocorridos na região do Vale do Aço.

Marcelo Luciano da Costa, membro do Comitê, acredita que o protesto servirá para cobrar respostas das autoridades que estão investigando o crime. Embora as autoridades policiais comuniquem que as investigações continuam em andamento, e apesar da força-tarefa que foi formada pelo Departamento de Investigação de Homicídios e Proteção à Pessoa (DIHPP), da Polícia Civil de Belo Horizonte, nada de concreto, quando à elucidação do caso, foi noticiado.

“Queremos o retorno positivo sobre a morte do Rodrigo Neto, pois ele era um jornalista que cobrava respostas de várias execuções que foram feitas no Vale do Aço e que acabaram caindo no esquecimento. Vamos para as ruas, de blusas pretas representando o luto, velas acesas e cruzes nas mãos, com objetivo de pedir agilidade nas investigações”, disse Marcelo Luciano.

Diante das frequentes cobranças, o DIHPP fez um apelo à imprensa para que pudesse trabalhar em uma “zona de conforto”, pois só assim conseguiria chegar aos autores da execução do jornalista. A trégua solicitada pela polícia foi concedida pelos órgãos de imprensa, mas a resposta do órgão resume-se que “as investigações ainda estão em andamento”.

“Ficamos mais de 40 dias sem noticiar nada sobre a morte do Rodrigo, e até o momento nada foi dito pela polícia. Resolvemos colocar esse assunto em pauta novamente e cobrar dos responsáveis uma resposta sobre a morte do jornalista o mais rápido possível”, disse outro membro do Comitê, que preferiu não se identificar.

Troca de comando

Um dia após a morte de Rodrigo Neto, os delegados da 1ª Delegacia Regional de Polícia Civil, Gilberto Simão e Ricardo Cesari, anunciaram, durante uma coletiva à imprensa, que trabalhariam seriamente na apuração do “Caso Rodrigo Neto”. No entanto, um dia depois, a equipe da DIHPP, coordenada pelo delegado Emerson Morais, assumiu a investigação. Formou-se então uma força-tarefa para apurar o crime contra o repórter, e também outros casos que eram cobrados pelo jornalista e ainda estão sem solução.

Atualmente, as investigações vêm sendo chefiadas pelo delegado Wagner Pinto, da DHIPP de Belo Horizonte, e acompanhadas de perto pelo Ministério Público da cidade. Tanto os agentes da PC, quanto do MP, afirmam que o caso está caminhando, e que uma solução pode estar próxima.

Wagner afirma que o silêncio por parte da Polícia Civil será mantido. Segundo o delegado, manifestar neste momento poderia atrapalhar o sucesso das investigações. “Não podemos abrir o teor das investigações, pois isso seria um tiro no pé. Esse caso é complexo e requer muita cautela por parte da polícia. O que eu posso dizer e que já temos uma linha investigativa e estamos fazendo isso de uma forma contundente e profissional. Enquanto não tivermos uma resposta completa para sociedade, nós não vamos manifestar. O silêncio será mantido”, relatou.

A assessoria de Comunicação da Polícia Federal em Belo Horizonte informou, na tarde desta segunda-feira, 10 de junho, que até o momento o organismo não está na investigação do caso, e sequer recebeu qualquer comunicado oficial sobre o ocorrido. Segundo o órgão, é necessário que as instituições responsáveis do estado encaminhem uma solicitação para que a PF aja, porque não podem agir sem essa solicitação.

Mas não está descartada a possibilidade da PF entrar nas investigações das mortes dos jornalistas. Na noite desta segunda-feira, 10 de junho, a assessoria da secretaria de Direitos Humanos informou que segue acompanhando o caso da morte do jornalista Rodrigo Neto, através do Grupo de Trabalho (GT) Comunicadores, ligado ao Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH).

A assessoria ressaltou ainda que o assassinato de Rodrigo Neto é um dos principais casos acompanhados pelo Grupo, formado com intuito de proteger os comunicadores do País.

Um relatório final do GT será elaborado e deverá apresentar recomendações sobre o enfrentamento às violações cometidas contra profissionais de comunicação. A SDH reafirmou a prioridade para que o Caso Rodrigo Neto não fique impune.

Após a morte de Rodrigo Neto, os jornalistas e moradores da região receberam a notícia de outro episódio trágico. No dia 14 de abril foi executado a tiros o fotógrafo freelance, Walgney Assis Carvalho, 43 anos, mais conhecido como Carvalho.Carvalho foi morto em um pesque-pague de Coronel Fabriciano, local onde ia com frequência. Ele foi atingido pelas costas.

Há quase dois meses, esse crime também permanece sem respostas. Após a morte do Carvalho, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, Durval Ângelo, chegou a dizer que a morte do fotógrafo séria uma queima de arquivo, visto que Carvalho sabia demais sobre o assassinato de Rodrigo Neto.