Morre o jornalista e cineasta Miguel Borges


Por Cláudia Souza*

19/06/2013


Miguel Borges

Miguel Borges

O jornalista e cineasta Miguel Borges, 76 anos, morreu nesta segunda-feira, dia 17 de junho, em São Lourenço, Minas Gerais, onde residia e editava a revista “2016”, da Sociedade Brasileira de Eubiose.

Segundo Maria Elisa Garcia, mulher do cineasta há 29 anos, Borges estava em casa, quando passou mal por problemas respiratórios. O sepultamento ocorreu nesta terça-feira, 18, em São Lourenço. Ele deixou um filho.

Nascido no Piauí e criado no Maranhão, Miguel Borges se estabeleceu no Rio de Janeiro a partir de 1955.

Antes de começar a fazer cinema, trabalhou nas redações dos jornais O Metropolitano, Tribuna da Imprensa, Última Hora e Jornal do Commercio.

Miguel Borges tornou-se um dos precursores do Cinema Novo ao dirigir um dos episódios, “Zé da Cachorra”, do filme coletivo “Cinco Vezes Favela” (1962), um marco da estética do Cinema Novo, produzido pelo Centro Popular da Cultura da UNE. No ano seguinte, Borges atuou como ator em “Boca de Ouro” (1963), de Nelson Pereira dos Santos.

Ao longo de sua carreira, o cineasta dirigiu os longas Canalha em Crise (1965), “Perpétuo contra o Esquadrão da Morte”(1967), “Maria Bonita – Rainha do Cangaço”(1968), “As Escandalosas”(1970), “O Barão Otelo no Barato dos Bilhões”(1971), “O Último Malandro”(1974), “O Caso Cláudia”(1979), “Consórcio de Intrigas”(1980). E ainda os curtas “A Festa da Maldição”(1970), “Radar Cativo”(1970), “Zona Oeste”(1971), “O Jovem e o Mar”(1972), “Projeto Cabo Frio”(1972), “A Lavagem do Cristo”(1973), “O Balé do Beija-flor”(1974) co-dirigido por Rubem Braga; “O Nadador do Infinito”(1985), “Os Sapatos”(1985).

Concine

Em 1974 fundou a Miguel Borges Produções Cinematográficas, para a qual dirigiu e produziu “O Último Malandro” (1974), e produziu “A Cartomante” (1974), ”Fogo Morto”(1976), ambos com direção de Marcos Farias, e “Tensão no Rio(1982), de Gustavo Dahl.

Borges atuou também como roteirista de ”Tati, a Garota”(1973), de Bruno Barreto; “A Noiva da Cidade”(1978), de Alex Vianny; “A Batalha dos Guararapes”(1978), de Paulo Thiago; “As Tranças de Maria”(2003), de Pedro Carlos Rovai.

Na década de 70, montou “Emboscada” (1971) e “Fogo Morto” (1976).

Entre 1979 e 1980, foi Presidente do Conselho Nacional de Cinema (Concine). No Governo Collor ocupou o cargo de secretário-adjunto de Cultura da Presidência da República. O titular da pasta era Ipojuca Pontes.

Em 1997, Miguel Borges mudou-se para São Lourenço (MG).

Sua biografia integra a Coleção Aplauso – Cinema, sob o título “Miguel Borges – Um lobisomem sai da sombra”(2008), de Antonio Leão da Silva Neto.

Lembranças

O jornalista Pinheiro Júnior, Conselheiro da ABI, homenageou o amigo Miguel Borges com um texto, que tem o seguinte teor:

“Minhas lembranças de Miguel

Ex-Presidente do Conselho Nacional de Cinema-Concine, Miguel Borges foi um sensível cineasta brasileiro. Fez “O Caso Cláudia” e dirigiu um dos episódios de “Cinco Vezes Favela” (“Zé da Cachorra”), entre longas, curtas e médias-metragem e produções.

Miguel foi a primeira pessoa que me falou de Vivaldi.

Estávamos diante de um chope no Bar Luiz, na Rua da Carioca, e era o ano de 1956:

– Você já ouviu Vivaldi? – me perguntou a propósito de João Sebastião Bach.

Eu não conhecia Vivaldi. Fora dos círculos europeus iniciados poucos então tinham conhecimento do veneziano Antonio Lucio Vivaldi, talvez o maior dos renascentistas e barroquista sem par. Tratei de conhecê-lo. Conhecer Vivaldi era saber um pouco mais dos sentimentos e da arte de Miguel Borges.

Pouco tempo depois ouvi o “Concerto para Dois Bandolins”. Nunca mais parei de ouvir Vivaldi. Na Rádio MEC, em meu programa “Música de Sempre”, toda vez que botava Vivaldi no éter me lembrava de Miguel Borges.

Miguel Borges era também jornalista. Dirigiu a Redação do meteórico diário carioca “A República” na década de 1960. Com quem só não trabalhei… porque o jornal acabou depressa.

Que Bach e Vivaldi o recebam em sua glória eterna.”