10/07/2020
Por Vera Perfeito, Diretora de Cultura e Lazer da ABI
Em uma manhã de 2006, conheci, pessoalmente, o ambientalista, escritor, jornalista e político Alfredo Sirkis. E no mesmo dia da entrevista que tivemos, eu me tornei sua assessora de comunicação no Instituto Pereira Passos (IPP) e na Secretaria Municipal de Urbanismo depois de lhe dizer que era admiradora de Leonel Brizola e de Lula. Logo depois, eu assinava um contrato.
De manhã no IPP, o presidente do instituto ficava de olho na pesquisa de expansão de favelas e consequente desmatamento dos morros do Rio e, à tarde, na secretaria de urbanismo, brigava para impedir o desrespeito aos planos urbanísticos da cidade.
Conhecia a história de Alfredo Sirkis desde a juventude quando entrou na luta armada, o sequestro dos embaixadores alemão e suiço, a ida para o exílio, a volta ao Brasil, em 1979, a carreira política e o envolvimento com o meio ambiente. E, após três meses de boa sintonia, ele deixou os dois cargos para se candidatar ao Senado. Não levou, mas continuou sua luta para salvar o planeta. Infelizmente, as pessoas de bem estão indo para outro plano e que Sirkis continue olhando por esse país tão sofrido em 2020.
Trajetória
Sirkis foi jornalista, escritor e roteirista de TV e cinema, gestor ambiental e urbanístico e deputado. Era Diretor Executivo do Centro Brasil no Clima (CBC). Sirkis foi também vereador em quatro mandatos, secretário municipal de urbanismo, presidente do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP), entre 2001 e 2006, além de secretário municipal de meio ambiente, entre 1993 e 1996, no Rio de Janeiro.
Iniciou o trabalho de jornalista em Paris, em 1973, no recém-fundado jornal Liberation. Contribuiu para a imprensa brasileira como repórter das revistas Veja (1982) e Istoé (1983) e colaborou com O Pasquim, Playboy, Jornal de Domingo e Shalom.
Elaborou diversos roteiros para a série Teletema, da TV Globo (1986-1987), como Maria Testemunha, Estrela do Mar, O Russo Desaparecido e a Mulata Esmeralda, O grande prêmio e A Árvore Mágica.
A última homenagem: uma foto que diz tudo
Este grupo, Defesa do Meio Ambiente, foi criado em 10 de outubro de 2018 e reúne pessoas de diferentes matizes do pensamento ambiental brasileiro. Em 10 de julho de 2020, o grupo decidiu mudar o nome para Sirkis Meio Ambiente, em homenagem a Alfredo Sirkis, que morreu nesta data.
Ex-ministra Izabela se emociona com homenagem da ABI
“Recebi com emoção essa homanagem da ABI ao amigo Sirkis. Perdemos um defensor da democracia e do meio ambiente. Perdemos um brasileiro dedicado ao seu país, à sua cidade e ao seu povo. Um defensor ímpar de suas convicções e de seus sonhos. Um legítimo carioca na energia inesgotável, na alegria e na ironia. Sua simplicidade com todos encantava. Perdemos mais uma pessoa do bem no Brasil. Estava numa fase de vida que misturava resiliência e a crença que poderíamos avançar com as agendas climática e da sustentabilidade. Eu brincava que era a urgência do presente, fazendo referência ao outro ecojudaico Israel Klabin. Estamos todos devastados ! Mas, vamos seguir em frente inspirados e motivados por esse descarbonário que teve a coragem de se transformar. Temos esperança ! Obrigada mais uma vez pela homenagem da ABI. Ele merece ! O Brasil do bem merece muito ! Pela democracia e sustentabilidade, sempre.
Krause: Sirkis continua vivo
Gustavo Krause, ex-ministro do meio ambiebte
“Como todo visionário, um combatente lúcido. Conheci na minha passagem pelo Ministério do Meio Ambiente e, ao compreender, naquela época, que o capitalismo seria domado pelo escassez dos recursos naturais, não tive maiores dificuldades políticas e ideológicas com os ambientalistas autênticos. Visão de mundo. Alfredo Sirkis deu uma contribuição inestimável. Agora, eu numa esfera e ele, chamado para outra esfera somos testemunhas dos avanços conquistados: finalmente a súplica pela integridade da Amazônia é um imperativo econômico que atende pelo nome de SUSTENTABILIDADE. Sirkis continua vivo no grão de areia, na gota d’água, no sopro da brisa e no viço indestrutível das florestas, respirando o ar celestial da unidade Homem/Natureza.
Grande sentimento de perda humana, mas fica o legado.