A Associação Brasileira de Imprensa(ABI) lamenta a morte do fotógrafo Jorge Nunes, um dos mais importantes fotojornalistas da imprensa brasileira, ocorrida nesta terça-feira, dia 1º, às 13h50. Ele estava internado no INCA – Hospital do Câncer III, em Vila Isabel, zona norte do Rio, com diagnóstico de câncer no intestino. O enterro será realizado nesta quarta-feira, dia 2, às 14h, no Cemitério Jardim da Saudade, em Paciência, onde o corpo está sendo velado na Capela 8. Ele deixa a mulher Edna Gonçalves e os filhos Fabíola, Igor, Rafael e André.
Jorge Nunes era Conselheiro da ABI e fez parte da Diretoria da entidade, à qual se associou em 30 de junho de 1987, tendo como proponente Nilson Ferreira de Azevedo.
Nascido em 22 de julho de 1949, em Campos, região Norte do Rio de Janeiro, Jorge Nunes iniciou a carreira de fotógrafo aos 16 anos, quando trabalhava na Rio Gráfica Editora.
Ao longo de mais de quatro décadas, trabalhou na revista Manchete, Editora Vecch, O Dia, Tribuna da Imprensa. Foi Diretor do Sindicato dos Jornalistas do Rio, e da Associação Profissional dos Repórteres Fotográficos do Rio de Janeiro(Arfoc), e teve destacada atuação na imprensa sindicalista, vinculado a partidos políticos, sindicatos, ONGs e movimentos sociais. Foi proprietário da Prisma, agência de fotografias localizada no edifício-sede da ABI.
Durante a ditadura, Jorge Nunes atuou na militância política e interrompeu o trabalho em redação, só retornando em 1986 pelas mãos do fotógrafo Alcyr Cavalcanti, Conselheiro da ABI, e Diretor da Arfoc. Em 1994, Jorge Nunes foi afastado do jornal O Dia acusado de promover agitação pelas atividades sindicais, o que determinou a sua opção pela carreira de frelancer.
Em dezembro último, Jorge Nunes esteve em Brasília para passar as festas de fim de ano com a família. Dias depois, sentiu-se mal e se submeteu a uma série de exames que revelaram o câncer no intestino em processo de metástase.
Alcyr Cavalcanti recordou os longos anos de convivência com o amigo:
—Na época em que o conheci, eu trabalhava no jornal O Globo, e ele em O Dia. Nós conversávamos muito. Ele tentou me levar para O Dia, mas acabei indo trabalhar lá tempos depois. Em 1986, eu era chefe na Tribuna e convidei-o para retornar às redações. Depois disto, ele chegou a trabalhar novamente em O Dia, e percorreu uma trajetória marcante, como autônomo, na imprensa sindicalista. Na semana passada, eu e o jornalista Mário Augusto Jakobskind o visitamos no hospital. Ele estava muito abatido e debilitado pela doença. Lamento demais a perda dele.
Em março de 2006, a ABI publicou entrevista de Jorge Nunes concedida ao jornalista José Reinaldo Marques, na qual o fotógrafo relata os principais momentos de sua carreira na imprensa.
Veja a íntegra da entrevista:
“A pauta social sob o prisma das lentes de Jorge Nunes”
José Reinaldo Marques
O repórter-fotográfico Jorge Nunes vive um momento especial em seus 40 anos de carreira: prepara-se para lançar o site da Agência Prisma de Fotojornalismo, que criou há 13 anos.
Jorge estreou na fotografia aos 16 anos, quando era office-boy da Rio Gráfica Editora e queria conseguir outro trabalho:
— Precisava complementar meu salário, perguntaram o que eu queria fazer e escolhi a fotografia, mas não tinha noção do que poderia acontecer.
Com uma Rolleyflex, Jorge deu seus primeiros cliques profissionais:
— Foi para as revistas da Rio Gráfica Garotas e Destino, que à época se dedicavam às fotonovelas, mas publicavam também contos e algumas matérias.
De lá, Jorge foi sucessivamente para a Manchete, a Editora Vecchi e os jornais Tribuna da Imprensa e O Dia. Com o golpe militar, abandonou temporariamente o trabalho em redação:
— Era duro ser pautado para uma cobertura, chegar ao local e acabar sendo impedido de registrar o assunto por intervenção de agentes do regime ditatorial. Isso me incomodava tanto que eu resolvi trabalhar em estúdio, fazendo fotografia comercial. Só retomei o fotojornalismo em 86, convidado pelo Alcyr Cavalcanti para voltar à Tribuna.
No ano seguinte, Jorge retornou também ao Dia, até ser afastado em 94, acusado de promover agitação devido às atividades sindicais, e tornar-se freelancer.
Para ele, o padrão de qualidade dos repórteres-fotográficos brasileiros é um dos melhores do mundo, “com profissionais históricos como Nicolau Drey, Juvenil de Souza, Indalécio Vanderley,Walter Fimo, Evandro Teixeira, e Sebastião Salgado”.
— Nosso fotojornalismo é de vanguarda, apesar do difícil acesso à tecnologia que já tivemos que enfrentar. Houve um tempo em que era impensável o aproveitamento de muitas fotos que hoje são consideradas obras-primas. O profissional tinha que dominar o processo de produção em todas as suas etapas. A menor abertura de diafragma tinha que ser 8 e a menor velocidade, 125; os filmes eram de baixa sensibilidade e os fotógrafos precisavam usar tripé e muita luz, cuja intensidade era medida com o velho fotômetro Weston Master II.
Ex-diretor da ABI e do Sindicato dos Jornalistas, Jorge destaca também colegas especialistas na operação de filmes coloridos, como Fernando Seixas, Gervásio Batista, Sebastião Barbosa, Antônio Rudge, Nilton Ricardo, Luiz Garrido, Fernando Abrunhosa, Adir Mera, Hugo de Góes, Klaus Meyer, Jader Neves, Gil Pinheiro e muitos outros da Manchete e de O Cruzeiro:
— Havia também o Joel Maia e o velho Veneziano, da Abril no Rio. Tínhamos o privilégio de trabalhar sem temer o desemprego. As demissões eram raras. Geralmente, só se deixava uma empresa a convite de outra.