Por Cláudia Souza
10/04/2015
O corpo da ativista foi enterrado no final da tarde desta quarta-feira, dia 8, no cemitério Memorial do Carmo, Zona Norte do Rio, em cerimônia que contou com a presença de parentes, amigos, companheiros de militância política, jornalistas e dezenas de admiradores de Maria Augusta Tibiriçá, que morreu em 7 de abril, Dia do Jornalista. Ela deixa os filhos, Carlos Henrique e Aloísio Tibiriçá.
Carlos Henrique Tibiriçá, filho de Maria Augusta passou a integrar os movimentos políticos de esquerda em 1966, no PCdoB e na Ação Libertadora Nacional (ALN). Contudo, quando da decretação do AI-5, Caíque, como é conhecido, decidiu integrar os quadros da ALN. Participou ativamente do processo de construção da União da Juventude Patriótica, que reunia estudantes secundaristas, fundado em março de 1970. Um dos capítulos do estatuto afirmava que se tratava de uma “organização revolucionária de jovens patriotas e democratas, sem distinção de raça, classes, princípios ideológicos, religiosos e filosóficos, cujo objetivo era mobilizar, unir e organizar os jovens cariocas na luta pela derrubada da ditadura militar, pela libertação do Brasil do imperialismo norte-americano, pela extinção do latifúndio, pela conquista de um governo democrático e popular que assegurasse ao povo brasileiro liberdade, progresso, cultura e vida digna”
Notória defensora da democracia, da igualdade de gênero e da soberania nacional, Maria Augusta, de 97 anos, apesar da idade avançada, lutou com disposição implacável pelos direitos humanos e as liberdades, com destacada atuação na campanha “O Petróleo é Nosso, lançada na ABI nos anos1940. Presidiu com firmeza o Movimento em Defesa da Economia Nacional (Modecon), após a gestão do jornalista Barbosa Lima Sobrinho, fundador do grupo na década de 80, contra o entreguismo, o capitalismo selvagem e a ideologia das elites.
Nascida em São Paulo, militante política desde a juventude, Maria Augusta Tibiriçá seguiu o exemplo da mãe, Alice Tibiriçá, uma das principais ativistas da causa do voto feminino no Brasil, concedido em 1932 por Getúlio Vargas, ainda no governo provisório, logo após a vitória da Revolução de 30.
Ao longo de sua trajetória, Maria Augusta Tibiriçá ocupou o cargo de secretária-geral da campanha “O Petróleo é Nosso”, que resultou na criação da Petrobrás em 1953, pelo então presidente Getúlio Vargas, teve papel decisivo nas grandes causas nacionais entre as quais a luta dos petroleiros e dos representantes da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet) contra os leilões de áreas para exploração de petróleo, por empresas estrangeiras, promovidos pela Agência Nacional de Petróleo (ANP), e ainda nas campanhas pela anistia ampla, geral e irrestrita e pelas eleições diretas. É também autora de diversos livros, entre eles, “O Petróleo é Nosso – a luta contra o entreguismo” (Ed.Vozes, 1983) escrito em parceria com o marido Henrique Miranda, companheiro de militância de Luíz Carlos Prestes.
Homenagens
Em nota oficial o atual presidente do Modecon, Lincoln de Abreu Penna, lamentou a morte da ex-presidente da entidade: “Nossa Presidente de Honra, líder da campanha “O Petróleo é Nosso”, nos deu adeus neste dia 7 de Abril, menos de trinta dias antes de completar os seus 98 anos de idade. O dia 7 de Abril é a data de fundação da ABI, onde protagonizou emocionantes momentos de sua militância em defesa dos princípios da soberania nacional e na defesa intransigente de postulados caros ao povo brasileiro. E na sede dessa entidade, juntamente com o doutor Barbosa Lima Sobrinho, manteve acesa a luta patriótica e popular. Sua atitude altaneira combinava com o bom trato nas relações sociais e políticas, marcando suas posições sem perder a ternura. Por coincidência sempre feliz, também no dia 7 de Abril comemora-se o Dia Mundial da Saúde. Sabe-se, que Maria Augusta herdara de sua mãe, Alice Tibiriçá, a bandeira de luta pela saúde pública no País. E para completar esta data registre-se que foi também nesse dia que se deu a criação da organização Mundial de Saúde, em Genebra. Mas foi a sua participação na campanha do monopólio do petróleo que mais se pode associar a luta de Maria Augusta, que juntamente com seu companheiro e pai de seus filhos, o professor Henrique Miranda, correram o País afora com o destemor dos que sabem enfrentar as adversidades em nome do bem comum. Sua trajetória de vida jamais será esquecida, porque sua fibra e determinação irão, com certeza, nos embalar para dar continuidade a tantos outros enfrentamentos em prol do povo brasileiro, pois sua presença mais do que nunca estará em nossas lembranças.”
João Lemos Batista Lemos, presidente estadual do Partido Comunista Brasileiro (PCdoB-RJ) também divulgou comunicado de pesar pelo passamento da ativista: “Nós do PCdoB prestamos homenagem à grande brasileira Maria Augusta Tibiriçá Miranda, que desenvolveu ao longo da sua vida intenso e produtivo engajamento nas causas médicas, sociais e políticas. Maria Augusta, através da sua atuação pela democratização do país, pelas causas feministas e pela campanha “O Petróleo é Nosso” nas décadas 40-50, que resultou na formação da Petrobrás, tornou-se um ícone da luta pela soberania nacional e pelos interesses mais nobres do nosso povo. Um dos livros de sua autoria, “O Petróleo é Nosso! – A luta contra o entreguismo e pelo monopólio estatal” (Ed. Vozes, 1983), é referência histórica para todos os brasileiros e brasileiras. Maria Augusta presidiu o Movimento em Defesa da Economia Nacional (MODECOM), criado por Barbosa Lima Sobrinho, estando até seus últimos momentos na linha de frente da defesa do Brasil. Nossos fraternos sentimentos a Caique Tibiriçá, a Aloísio Tibiriça e à toda a família. Obrigado, Maria Augusta Tibiriçá Miranda.”