03/10/2018
O mundo perdeu um de seus maiores cartunistas. Poderia ser uma perda do Uruguai, país em que nasceu, ou da Argentina, onde brilhou até o fim da vida, mas Hemergenildo Sábat se tornou uma referência internacional em desenhos políticos.
Acostumado a se comunicar com um lápis na mão, foi descansar de maneira silenciosa enquanto dormia – a causa da morte não foi divulgada. Tinha 85 anos, mais da metade deles dedicados ao jornal Clarín, da Argentina, onde trabalhava desde 1973.
Chamado de Hermenegildo “Menchi” Sábat, o caricaturista nasceu em Montevidéu, no Uruguai, e até chegou a ser editor no El País. Mas fez seu trabalho romper fronteiras com uma visão crítica e um humor sofisticado em desenhos publicados no Clarín, cujo portal dá destaque ao seu mais brilhante colaborador.
Desafiou a ditadura argentina de Jorge Rafael Videla, que o proibia de desenhar, e, mesmo no regime democrático, não abandonou o tom crítico e divertido. Carlos Menem e Cristina Kirchner também foram retratados por ele em situações relevantes de seus governos.
Sábat era muito ligado aos países da América Latina. No Brasil, participou do Salão Internacional de Humor de Piracicaba e gostava bastante de Bossa Nova. Fez amizade com os irmãos Paulo e Chico Caruso, além de Luís Fernando Veríssimo. Paulo, inclusive, tratava o amigo como “mestre”. Chegou a citá-lo em um artigo que escreveu para o Jornal do Brasil (A arte da irreverência).
“Mais perto de nós, aqui na Argentina, a primeira-dama que virou presidenta cerrou os dentes em discurso na Plaza de Mayo para dizer-se vítima de uma ‘mensagem quase mafiosa’ da caricatura que lhe fez o mestre Sábat, do El Clarín. Tal desatino provocou uma reação por parte da imprensa até dos jornais concorrentes, como os artigos estampados no Página 12, defendo o mestre com carinho”.
O caricaturista recebeu importantes prêmios durante sua carreira, entre eles o Moors Cabot da Universidade de Columbia, para os seus desenhos durante a ditadura militar argentina, e o Nobel de Literatura Gabriel García Márquez, oferecido pela Fundação Novo Jornalismo Iberoamericano (FNPI).
“Ele era muito observador de jornais e da mídia em geral. Seu escritório era quase um museu e seus desenhos não acompanhavam as anotações, mas eram uma nota em si. É uma grande perda. O jornalismo argentino e latino-americano está de luto. Menchi merece um importante e definitiva lugar no panteão do jornalismo”, disse Ricardo Kirschbaum, secretário geral do jornal Clarín, em entrevista à Rádio Mitre.
Fonte: Portal Imprensa