02/07/2021
Por Flavia Oliveira, parte do artigo publicado no jornal O Globo
Foto Instagram de Januário Garcia
Januário Garcia deixou um acervo de mais de 100 mil fotos, documentos e histórias. “Na minha geração, ninguém vai poder falar que o negro não tem memória, porque vai ter. Eu vou fazer essa memória”, prometeu. E cumpriu. Não perdia uma ocasião, um ato de organizações do movimento negro. Registrou, com beleza, verdade e altivez, anônimos e famosos, entre os quais Abdias do Nascimento, Mãe Stella de Oxóssi e Joaquim Barbosa. Tem capítulo também na história da MPB por assinar algumas das mais emblemáticas capas da discografia nacional, a começar por “Alucinação” (1976) e “A arte negra” (1980), álbuns históricos de Belchior e dos mestres Nei Lopes e Wilson Moreira, respectivamente.
Um ano atrás, começou a postar em perfil no Instagram imagens e histórias de seus trabalhos icônicos. Contou da aventura que foi a capa do LP “Urubu” (1976), de Tom Jobim. É que o maestro não queria um urubu qualquer, mas um camiranga, conhecido como urubu-de-cabeça-vermelha. Uma foto de Dona Canô acarinhando os cabelos de Caetano Veloso foi parar na capa de “Muito” (1978). Fotografou Leci Brandão para três capas, Tim Maia para duas, assim como Chico Buarque e Raul Seixas. Filó Filho, idealizador e diretor do canal “Cultne”, o maior acervo digital de cultura negra brasileira, preparava para este mês a exibição de uma entrevista inédita, gravada em 1978, de Januário com Beatriz Nascimento, historiadora, professora, escritora e ativista negra, morta aos 52 anos em 1995.
Link do artigo de Flavia Oliveira no jornal O Globo: https://blogs.oglobo.globo.com/opiniao/post/morrendo-de-brasil.html