Por Cláudia Souza*
13/03/2015
Armênio Guedes, 96 anos, estava internado há cerca de duas semanas no Hospital Samaritano, em São Paulo (SP), com problemas pulmonares. O óbito foi registrado na madrugada desta quinta-feira, dia 12, em decorrência de um quadro de infecção pulmonar e falência múltipla dos órgãos. O corpo foi velado no cemitério do Araçá, no Centro da capital paulista, e cremado no cemitério da Vila Alpina. Zona Leste de São Paulo.
Armênio Guedes foi um dos primeiros comunistas brasileiros defensores da centralidade do conceito de liberdade nas lutas da esquerda. De perfil, considerado “rebelde” foi boicotado pelos principais dirigentes do Partido Comunista, ao qual pertenceu por quase cinco décadas.
Natural do município baiano de Mucugê, Armênio mudou-se ainda na infância para a capital Salvador. A família de dez irmãos, sete do sexo feminino e três do sexo masculino, entre os quais Célio Guedes, morto por agentes da ditadura militar de 1964, quando fora designado para uma ação perigosa. Armênio não perdoou a direção do PCB por ter enviado o irmão para a morte, um dos motivos de seu afastamento do partido anos depois, nos anos 1980.
Em 1935, quando cursava a Faculdade de Direito, em Salvador, Armênio ingressou no Partido Comunista, embora já atuasse politicamente. Integrou o grupo de militantes baianos que tiveram participação relevante na defesa da democracia, entre os quais Carlos Marighella, Jorge Amado, Jacob Gorender, Mário Alves e Edison Carneiro.
Nos anos 1940, mudou-se para São Paulo e foi um dos principais articuladores da imprensa comunista no Brasil, fundando diversas publicações, com textos que muitas vezes contrariavam a linha oficial do Partido Comunista. As ideias de Armênio incentivaram o debate em torno de pensadores como Leandro Konder e o italiano Antonio Gramsci, que defenderam um novo pensamento para a esquerda brasileira.
A amizade entre Armênio e Luís Carlos Prestes teve início em 1945, quando Armênio foi designado para fazer a segurança pessoal de Prestes. Ao lado do líder comunista recebeu a notícia sobre o assassinato de Olga Benario, companheira de Prestes.
Nos anos 1950, Armênio mudou-se para a União Soviética com o objetivo de estudar. Integrou o grupo de dirigentes brasileiros que passaram pelo processo de formação na URSS, e casou-se com Zuleika Alambert, militante e escritora com quem viveu durante 27 anos.
De volta ao Brasil, com o golpe de 1964, Armênio passou a sobreviver na clandestinidade. Abandonou o Partido Comunista e ingressou na Redação da “Gazeta Mercantil”, em São Paulo. Em razão das perseguições dos militares, decidiu exilar-se no Chile, onde foi reconhecido como importante referência para a militância da esquerda local. Na época atendia pelo codinome Tio Júlio, por já ser um dos líderes mais velho. Logo depois do golpe militar no Chile, Armênio seguiu para Paris, França, onde conheceu Cecília Comegno, com quem viveu até o seu último dia de vida.
O desligamento definitivo do PCB ocorreu em 1983, após uma briga com Giocondo Dias, que censurou seu apoio a Davi Capistrano Filho em um processo de expulsão. Após 47 anos de militância, o grande nome da imprensa comunista trabalhou na revista IstoÉ , na “Gazeta Mercantil” e na Imprensa Oficial do Estado de São Paulo.
*Com “Valor Econômico” (Thiago Brandimarte Mendonça)