23/06/2022
Uma das personalidades mais marcante do high society carioca do século 20, Danuza Leão morreu nesta quarta-feira (22), aos 88 anos, no Rio de Janeiro. Danuza sofria de enfisema pulmonar e morreu de insuficiência respiratória.
Ex-modelo, Danuza Leão foi um dos rostos mais marcantes do universo da moda em seu tempo. Ela iniciou a sua carreira na década de 50, tendo sido uma das primeiras brasileiras a desfilar no exterior.
Irmã da falecida cantora Nara Leão, Danuza foi testemunha dos primeiros acordes da Bossa Nova, muitos deles tocados no apartamento onde ambas viviam, em Copacabana, na Zona Sul do Rio, local das reuniões dos grandes artistas da época.
Muito bem relacionada, Danuza Leão também trabalhou como atriz no filme Terra em Transe, de 1967, roteirizado e dirigido por Glauber Rocha, criador no Cinema Novo.
O sucesso como escritora veio de forma inesperada, em 1992, com a publicação do livro de etiqueta social: Na Sala Com Danuza. A obra foi uma das mais vendidas daquele ano, tornando-se uma referência entre os manuais de boas maneiras.
Doze anos depois, Danuza lançou o Na Sala Com Danuza 2. Em 2005, publicou o livro de memórias Quase Tudo, contemplado com o Prêmio Jabuti. Em 2008, ela levaria outro Jabuti com a publicação de Danuza Leão Fazendo as Malas. Em 2009 e 2011, viriam Danuza Leão de Malas Prontas (2009) e É Tudo Tão Simples, respectivamente.
Danuza Leão foi também cronista no Jornal do Brasil, na Folha de S. Paulo e O Globo, abordando assuntos que iam desde comportamento, política, relacionamento, família e, é claro, dicas de etiqueta.
A jornalista dizia o que pensava e, por isso fazia afirmações consideradas polêmicas. Em uma das suas colunas, ele perguntou: “Qual graça tinha Nova York” quando até o seu porteiro podia viajar para lá. Ela também se disse contra a PEC das domésticas e o movimento “MeToo”, que combate assédio contra as mulheres na indústria do entretenimento.
Samuel Wainer, fundador do jornal Última Hora, foi o seu primeiro marido e com ele teve 3 filhos: Samuel Wainer Filho, jornalista que morreu em uma acidente de carro em 1984, a artista plástica Pinky Wainer e o empresário do ramo do cinema Bruno Wainer.
Ela também se casaria mais duas vezes, com o cronista e compositor Antônio Maria e com o jornalista Renato Machado.
Essa percepção torna preciosas e plenas as escolhas de Danuza. No falar, no sorrir, no vestir-se, no comer, no morar. Sobretudo no conviver. Para tudo isso existe um tom que não é o dos livros de etiqueta nem o das cartilhas de rebeldia. Achar esse tom custou a Danuza alguns anos de trombadas (que ela distribuiu sem a menor cerimônia), muito tempo em buscas afetivas, uma boa dose de decepção com as bobagens mundanas e, acima de tudo, muito romantismo e muito bom humor.
São, aliás, os dois polos deste livro de “savoir-vivre”. A cada conselho, Danuza não consegue esconder o arfante sorriso da romântica sempre à espera da valsa no final. E a cada sugestão de conduta, o leitor não vai conseguir segurar o riso solto que – mais que vestidos, pratos e belezas – ela sempre fez questão de exibir e provocar nos outros.
Não que tenha sido esse percurso apenas o deleite ditoso e despreocupado de quem vagou à procura da melhor bolsa no Hermès ou do melhor prato em Marrakech. Danuza passou por momentos maus e deles tirou uma tranquila sabedoria. Aquela que abre nela mesma – e tenta abrir nos outros – a doçura da alma e as emoções do afeto”
Renato Machado, jornalista, foi casado com Danuza Leão