Ministra afirma que corpo de Jango será exumado até o final do ano


Por Cláudia Souza*

17/09/2013


Jango

Foi realizada nesta terça-feira, dia 17, a primeira reunião técnica com a equipe de peritos responsável pela exumação do corpo do ex-presidente da República João Goulart. O grupo de trabalho reúne peritos brasileiros, argentinos, uruguaios e um cubano, além de integrantes do Comitê Internacional da Cruz Vermelha, conforme pedido da família de Jango.

A exumação integra uma investigação para esclarecer se João Goulart morreu em decorrência de ataque cardíaco, como foi divulgado à época pelas autoridades do regime militar. A família suspeita que ele tenha sido envenenado por uma cápsula colocada no frasco de medicamentos que tomava para combater problemas no coração, dentro  de uma ação da Operação Condor, aliança entre as ditaduras militares da América do Sul nos anos 1970 para perseguir opositores dos regimes.

A reunião desta terça-feira aconteceu a portas fechadas em Brasília. O próximo encontro foi agendado para o dia 16 de outubro, na sede da Polícia Federal, em Brasília, quando deverá ser definida a data da exumação.

Na abertura do evento, a ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência, Maria do Rosário, destacou que a exumação integra um processo de pesquisa histórica sobre a Operação Condor.

— Sempre me dizem aqui que exumar o João Goulart é também exumar a ditadura para saber o que ela fez, que perversidades ela fez. Jango foi o único presidente brasileiro a morrer no exílio, tendo sido perseguido durante todo o período em que esteve fora do país pela ditadura milita, afirmou a ministra, que garantiu que, após serem periciados, na capital federal, os restos mortais retornarão ao município gaúcho de São Borja.

— A ideia é que o corpo saia de São Borja, venha para Brasília para ser periciado neste prédio da Polícia Federal e depois volte a São Borja. As amostras serão analisadas, em primeiro lugar, com excelência técnica, pelo governo brasileiro, com os peritos da Argentina, do Uruguai e de Cuba, como a família sugeriu, com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, que participa conosco, mas que depois essas amostras também estejam em laboratórios internacionais, mesmo procedimento utilizado com o poeta Pablo Neruda e com Salvador Allende, no Chile.

Mesmo sem garantir que o corpo de João Goulart será recebido em Brasília com honras de chefe de Estado, a ministra disse que o governo trabalha com a “ideia e a responsabilidade de quem lida com um presidente da República que não recebeu as honras devidas no momento da sua morte”.

De acordo com a Polícia Federal, o caixão deverá ser aberto em Brasília, onde serão feitos, no prédio da instituição, exames de DNA e toxicológicos. O chefe da Divisão de Perícias da PF, Amaury de Souza Junior, disse que se trata de uma investigação tecnicamente difícil, e ressaltou que as autoridades não têm ideia do estado em que os restos serão encontrados.

Documentos sigilosos

Em agosto último, peritos visitaram o túmulo de Jango para análises preliminares para a exumação. Segundo disse à época o perito Amaury de Souza Júnior, foi descartada a análise apenas de amostras dos restos mortais. A justificativa foi que o período de 37 anos desde o sepultamento pode dificultar a realização do exame que detectará se o ex-presidente foi vítima de envenenamento.

Presente à reunião, João Vicente Goulart, filho do ex-presidente disse que a exumação é um passo importante:

—A gente espera que o Estado brasileiro proceda a oitiva dos agentes americanos que teriam participado nessa operação Condor, nas décadas de 60 e 70, nas ditaduras latino-americanas, e que exija do governo americano os documentos ainda não liberados do Departamento de Estado, da CIA, da NSA.

Golpe militar

João Goulart presidiu o Brasil de 7 de setembro de 1961 a 1º de abril de 1964, quando foi deposto em um golpe militar. Ele morreu no exílio em 6 de setembro de 1976, em Mercedes, cidade do Norte da Argentina.

Em 2007, os parentes entraram com um pedido para que o Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul abrisse investigação sobre o assunto. Em 2011, o pedido foi estendido à Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos da SDH e este ano à CNV, que vai coordenar o processo.

 *Com informações da Agência Brasil e G1.