Ministério Público do Rio de Janeiro apura caso de racismo contra apresentadora


Por Claudia Sanches

06/07/2015


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(Foto: Editora Abril)

Na última quinta-feira dia 2, a jornalista Maria Júlia Coutinho foi alvo de comentários preconceituosos na página oficial do “Jornal Nacional”, no Facebook. Diversos internautas escreveram mensagens sobre a cor da pele dela numa publicação que continha sua foto com a previsão do tempo. Outros usuários da Rede afirmaram que “Maju, que fala sobre a previsão do tempo, só entrou no JN por causa das “cotas”.

O promotor Marcio Mothé, do MPRJ, disse estar surpreso com a quantidade de ataques racistas que a jornalista sofreu e pediu que as pessoas denunciem casos como esses pela ouvidoria ou pelo telefone 127:

— Cada vez entendo menos do ser humano, é uma aberração. O Ministério Público vai agir com todo rigor possível para que essas pessoas sejam punidas de forma exemplar. Existe uma Delegacia de Repressão a Crimes de Informática e estamos encaminhando um pedido para apurar o caso com todo rigor. Essas pessoas têm que ser punidas. É um absurdo que esse tipo de atrocidade aconteça em pleno século XXI.

O Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP), que resolveu abrir inquérito por conta própria após a repercussão do caso, instaurou Procedimento Investigatório Criminal para apurar prática de racismo e injúria qualificada contra a apresentadora da TV Globo. O Promotor de Justiça Criminal Christiano Jorge Santos, especialista no tema, disse que já o MP de São Paulo já teve outros casos de condenação de internauta neonazistas:

— É uma investigação. Vai depender muito do acesso que tivermos às informações e colaboração de pessoas que possam contribuir conhecendo quem praticou os crimes. Vamos tentar rastrear de onde vêm os xingamentos e identificar os autores.

Racismo é crime

A pessoa acusada por injúria racial pode ser autuada pelo Art. 140 do Código Penal, com pena de reclusão de um a três anos e multa. Segundo trecho do código penal, se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência. Pena – reclusão de um a três anos e multa.

A TV Globo entrará na Justiça com notícia de crime por injúria racial cometido por pessoas que atacaram a apresentadora.

O “Jornal Nacional” desta sexta-feira noticiou o episódio e deu espaço para Maria Júlia responder às declarações:

— Estava todo mundo preocupado. Muita gente imaginou que eu estaria chorando pelos corredores. Mas a verdade é o seguinte: eu já lido com a questão do preconceito desde que me entendo por gente. Claro que eu fico muito indignada, triste com isso, mas eu não esmoreço, não perco o ânimo. Eu fiquei feliz com as manifestações de carinhos, e-mails as mensagens, que é o mais importante, e faço minha militância através do meu trabalho, com muito carinho, dedicação e competência.

A hashtag #somostodosmajucoutinho chegou aos Trending Topics, os assuntos mais comentados do Twitter, durante a tarde desta sexta, com várias mensagens de apoio dos internautas.
A jornalista e apresentadora Glória Maria, em entrevista ao colunista Bruno Astuto, da revista Época, prestou apoio à jornalista Maria Júlia. Glória foi a primeira repórter negra a aparecer em rede nacional na emissora carioca e a primeira negra a apresentar o Jornal Nacional e o Fantástico:

—O que eu digo para a Maju é que ela vá em frente e não desista nunca, porque é isso que os racistas querem, que a gente fraqueje e desista. Mas que ela fique mais forte com essa experiência e siga adiante.

A Coordenadoria de Direitos Humanos pede para que denúncias de racismo na internet sejam encaminhadas à Ouvidoria do MP, pelo telefone 127, pelo site ou por meio do atendimento pessoal na sede do Ministério Público, naAv. Marechal Câmara, 370 – subsolo.

*Fonte: Informações do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, do jornal Folha de São Paulo e O Globo.