Por Cláudia Souza*
01/07/2015
O jornalista e historiador escreveu a trilogia “A História dos Jornais no Brasil”, que abrange as primeiras manifestações da imprensa no País a partir do período colonial até os dias atuais.
O primeiro volume, intitulado “A História dos Jornais no Brasil – Da Era Colonial à Regência (1500-1840)”, o autor apresenta a história da imprensa no período colonial, quando o Rio de Janeiro era sede da Corte e estende-se até a Independência, quando os jornais manifestaram-se em torno das disputas políticas, finalizando com a ascensão de D. Pedro II ao poder nos anos 1840. O epílogo apresenta uma análise dos fatores que condicionaram o desenvolvimento da imprensa no País e elucida as razões da baixa penetração dos jornais na sociedade brasileira da época.
No segundo volume, Molina descreve as atividades dos jornais do Rio de Janeiro desde o Segundo Império até o início do século 21. Já os temas publicados nos veículos impressos de São Paulo, no mesmo período, são analisados no terceiro livro.
Trajetória
Licenciado em História pela Universidade de São Paulo (USP), Matias Molina, autor do livro “Os Melhores Jornais do Mundo”, trabalhou durante 29 anos no jornal “Gazeta Mercantil”, onde ocupou os cargos de diretor editorial, editor-chefe, secretário-geral, correspondente em Londres, editor de Finanças e do Internacional. Foi também editor e redator de Economia, e redator do Internacional da “Folha de S.Paulo”.
Molina fundou e foi o primeiro editor da revista “Exame”, e atuou ainda como
editor-chefe do Grupo de Revistas Técnicas da Editora Abril; e diretor de Análise Internacional da CND Análise e Tendências.
O jornalista Leão Serra entrevistou Molina, que detalhou o projeto que resultou na trilogia sobre o jornalismo brasileiro. A conversa foi publicada no site Observatório da Imprensa.
Leia abaixo a íntegra da entrevista:
1-Quando nasceu a ideia deste livro? Ele parece ser o livro de uma vida toda. Matías M. Molina – Quando escrevi o livro anterior, Os Melhores Jornais do Mundo (Globo, 2008), disse que a próxima obra seria sobre os jornais latino-americanos, pois tinha publicado uma série de artigos no Valor Econômico. Depois pretendia escrever sobre os jornais brasileiros. Por sugestão de Augusto Rodrigues, da CPFL, que me deu uma ajuda inicial, inverti a ordem. Sempre me interessei pela imprensa, do Brasil e do exterior, tanto sua história como a situação atual. Escrever o livro foi uma coisa natural. Tenho centenas de livros, revistas, ensaios, recortes acumulados durante décadas. Esse material me ajudou nos livros que escrevi e estou escrevendo.
2-Quantos anos o trabalho consumiu?
M.M.M. – Foram vários. Mas só durante um período me dediquei à obra em tempo integral.
3-Sobre a ausência de livros e jornais brasileiros, o fato de não encontrar uma lei não parece ser sinal de que não houve proibição, mas que ela se deu de forma diferente. Qual é a sua convicção dessa questão?
M.M.M. – Como escrevi, não foi encontrada nenhuma proibição à instalação de tipografias no Brasil. Não quer dizer que não houve, mas ninguém encontrou. Assim que Lisboa teve notícias de que funcionava um prelo no Brasil, do editor português António Isidoro da Fonseca, imediatamente mandou que fosse enviado de volta a Lisboa. Acho que Portugal não tinha interesse na instalação de uma indústria gráfica na colônia, assim como proibiu qualquer tentativa de industrialização. Mas o fato concreto é que não foi encontrado nenhum documento real proibindo a instalação de tipografias. A questão é bastante complexa: em todas as outras colônias portuguesas, os jesuítas instalaram prelos para a catequese dos indígenas. Por que não no Brasil? Ninguém tem a resposta.
4-Quando saem os outros volumes da “Primeira Etapa” de seu livro?
M.M.M. – O segundo volume, sobre os jornais do Rio, e o terceiro, de São Paulo, estão quase prontos. Faltam só algumas entrevistas e concluir o último capítulo. A data de publicação depende da editora. Eu gostaria que o segundo saísse neste ano e o terceiro, no próximo.
5-A “Segunda Etapa” está em que fase de criação?
M.M.M. – Já adiantei algum material. Quando iniciei a obra sobre os jornais brasileiros abri bastante o leque e pesquisei e escrevi um extenso rascunho sobre alguns jornais de Pernambuco e da Bahia. Fiz uma viagem a Curitiba e pesquisei sobre a imprensa paranaense. Ao perceber que a obra ficaria maior do que imaginava, decidi concentrar-me nos primeiros tempos da imprensa e nos jornais do Rio e São Paulo. Só depois cuidarei da segunda etapa.
6-Qual a missão de uma história dos jornais em um tempo que parece ser de morte da imprensa?
M.M.M. – Eu não sei se os jornais vão sobreviver ou não. Eu me concentrei em pesquisar e escrever sobre seu passado e seu presente, não seu futuro.
7-O livro não trata disso, mas qual é o destino dos jornais, na sua opinião? Encontram um novo espaço? Qual?
M.M.M. – Antecipar a morte dos jornais é arriscado, assim como é arriscado dizer que vão sobreviver. Talvez consigam adaptar-se ao mundo digital; talvez possam ter uma circulação mista. Não sei. O que pretendo fazer é observar a sua luta para sobreviver.
*Fonte: Observatório da Imprensa