Maternidade ancestral


05/09/2024


Por Nicoly Ambrosio, da Amazônia Real

Samela Sateré Mawé e seu filho Wynoa Tukumai (Foto: reprodução).

Luciene Kaxinawá, grávida de nove meses, ouviu de mais de uma pessoa que ela, por ser indígena, tinha de ter um parto normal. “As índias são acostumadas a terem muitos filhos, não sentem dor, sabem parir, fazem isso até no mato”, foi uma das falas. Outros revelavam uma curiosidade até ofensiva: “Perguntaram se eu teria a minha filha dentro do rio”.

Mãe de primeira viagem, Luciene decidiu expor ao mundo as delícias e também as dores da gravidez para ajudar outras mulheres. A jornalista e apresentadora de TV usa as redes sociais para explicar como a sua cultura lida com a maternidade. Ela não está sozinha.

Postagens de mães indígenas mostram aspectos de suas culturas e cosmovisões, como o preparo dos alimentos tradicionais, o significado dos rituais espirituais, o ensino de palavras ou frases na língua materna, registros do primeiro banho de ervas ou de rio dos bebês. E tentam romper com narrativas estereotipadas e preconceituosas sobre os costumes dos povos originários.

“Ainda fico chocada com as coisas que ouço por aí”, conta a jornalista, que colabora com a Amazônia Real. Ela tem 28 anos e é do povo Huni Kuin (que significa “povo verdadeiro”), também conhecido como Kaxinawá, que vive em territórios localizados na fronteira do Brasil com Peru. “Filmes e novelas retratam a maternidade da mulher indígena de maneira universal e selvagem. A internet tem possibilitado  desconstruir isso, mostrando a nossa diversidade, já que cada povo trata a maternidade dentro da sua cultura, em diferentes contextos”, diz.

Jovens mães indígenas de diversas etnias estão dando visibilidade à cultura indígena na maternidade por meio de plataformas como Instagram, TikTok e Youtube. A internet, para essas lideranças e ativistas, é mais do que apenas um instrumento tecnológico. É um meio de resistência e preservação das culturas ancestrais, repassadas entre as gerações. É também um gesto de conscientização, cuidado e defesa da primeira infância, uma questão urgente no Brasil.

A taxa de mortalidade infantil (de até 1 ano) a cada mil nascidos vivos é maior  entre as crianças indígenas: 34,9 em 2018 e 34,7 verificados quatro anos depois, segundo dados do estudo “Desigualdades em saúde de crianças indígenas”, do Comitê Científico do Núcleo Ciência pela Infância. É mais do que o dobro da registrada entre as crianças não indígenas: 13,3 (2018) e 14,2 (2022). (Leia mais abaixo sobre a importância da promoção da primeira infância indígena).

No primeiro vídeo de uma minissérie em três capítulos, Luciene Kaxinawá destaca que a maternidade é o próprio símbolo da ancestralidade para as mulheres indígenas. “Significa a nossa continuação, a continuação das nossas histórias, do nosso povo. E, em meio de tantas lutas, disputas e preconceitos, também é um ato de resistência. É a responsabilidade de preparar as nossas futuras gerações para as lutas. Passar nossos conhecimentos, as nossas sabedorias, a cultura e nossas autonomias”.

Em outras postagens, Luciene escreve sobre os desafios da gestação em contexto urbano e a união de duas culturas indígenas: a do povo Huni Kuin, do qual ela faz parte, e a cultura do pai de sua filha, Sérgio Suruí, que pertencente ao povo Paiter Suruí. Durante a gravidez, o pai repetiu em voz alta: “Magūye ikind, bah Sade egãne xamēomi ikãy, ēnateh ayah kanē”.

Traduzida, a frase acima, que significa “papai te ama, meu amor, e a mamãe também”, ajuda a acalentar a bebê de Luciene. Falar no seu idioma acalma a filha quando está agitada na barriga da mãe. “A minha língua materna é Hatxa Kuin.  A do pai dela é Tupi Mondé. Ele conversa muito com ela na língua materna, dizendo que a ama, que tem muita gente aqui fora querendo conhecer ela, que está ansioso para conhecer e pegar no colo. Ela vai nascer tendo contato com três línguas diferentes”, orgulha-se.

Por não viver mais dentro do território, mas em Porto Velho (RO), onde nasceu, Luciene sabe que criar uma criança longe das origens exige cuidados para que não ocorra o apagamento da cultura indígena. Sempre que possível, ela volta ao seu território, na aldeia Vida Nova, localizada na Terra Indígena Kaxinawá Ashaninka do Rio Breu, no município de Marechal Thaumaturgo (AC). É onde consegue “imergir na energia do lugar, na cultura e ter contato com outras crianças indígenas”. O bebê do casal nasceu no dia 26 de agosto.

“Um mundo não acostumado”

Samela Sateré-Mawé, 27 anos, é bióloga, comunicadora, influencer e ativista indígena da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga). Mãe de Wynoã, que tem 3 meses, ela mora em Manaus, no Amazonas, e utiliza as redes sociais para fazer com que sua atuação política alcance multidões. A jovem liderança discute temas como o marco temporal,  denúncias de crimes ambientais, preservação dos territórios ancestrais, impacto da crise climática na vida dos povos indígenas e os direitos das mulheres indígenas.

Seu filho com Tukumã Pataxó, também influenciador digital indígena, nasceu da união dos povos Pataxó, da Bahia, e Sateré-Mawé, do Amazonas. Para ela, é muito importante mostrar como é a criação de uma criança indígena “para um mundo que não está acostumado com os povos indígenas ocupando espaço”.

Apesar das dificuldades, mães como Samela mostram que estão na linha de frente da luta indígena por meio de campanhas nas redes sociais, petições online e participação em movimentos globais do meio ambiente, como a COP, conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas. Com suas vozes, elas têm conseguido mobilizar apoio internacional e ajudado a conscientizar a sociedade.

“A galera tem muita curiosidade em saber como os povos indígenas criam seus filhos. Quais são os conhecimentos tradicionais e ancestrais em torno da criação de uma nova vida? Difundir isso na internet faz com que as pessoas aprendam mais com a cultura dos povos indígenas, com as mães indígenas e se solidarizem mais com a nossa pauta da maternidade e da nossa cultura”, explica.

A primeira infância indígena

Atener Ambrósio é professora da etnia Wapichana e atua na Terra Indígena Yanomami (TIY), em Roraima, em ações relacionadas à defesa e promoção das primeiras infâncias indígenas. Representante da Texoli Associação Ninam do Estado de Roraima, a líder aponta que as principais causas da mortalidade na primeira infância nas comunidades indígenas são as doenças e infecções como gripe, pneumonia, malária e diarreia, principalmente em territórios vulneráveis e tomados por invasores, como é o caso da TIY.

“As comunidades indígenas não têm remédio, canoa, gasolina para fazer missão. Às vezes não têm uma guarda de endemia para ler as lâminas de malária aqui no nosso território e em outras regiões onde tem mortalidade infantil indígena”, afirma Atener. O desafio de fazer chegar nas redes sociais a luta das mães indígenas pela vida dos seus filhos se dá nesse contexto, onde muitas delas não contam com telefone ou acesso à internet.

Para a professora, é essencial que a política pública e o cronograma de saúde para as crianças indígenas seja melhorado, apoiando as mães indígenas na redução da mortalidade nas comunidades. Sem políticas públicas “na ponta”, ou seja, nas bases comunitárias, é impossível prover uma vida melhor às crianças indígenas e às mães durante a gestação e criação dos filhos.

“As mães indígenas são as mães guerreiras da ancestralidade, que trazem com elas uma força imensa e que usam essas forças para buscar o melhor para os seus filhos, nas matas e nas plantas, com as rezas das benzedeiras e dos pajés, os grandes médicos tradicionais dentro das nossas comunidades. É a resistência para existir junto aos seus filhos e não ver eles chegarem no marco da mortalidade infantil”, manifesta Atener.

Difusão do conhecimento ancestral

A resistência se dá por conteúdos simples e produzidos nas redes sociais pelas mães indígenas que capturam as práticas culturais no cotidiano, como quando a liderança Marciely Ayap Tupari, 25 anos, empreendedora e ativista do povo Tupari, de Rondônia, mostrou o filho se banhando pela primeira vez no rio Jamari, dentro da Terra Indígena Uru-Eu-Wau-Wau, em Rondônia, na aldeia onde o pai do bebê nasceu.

O jovem Bitaté Karendere, de 6 meses, filho de Marciely com o fotógrafo, comunicador e liderança indígena Bitate Juma Uru Eu Wau Wau, pertence a três povos: Tupari, Uru Eu Wau Wau e Juma. Coordenadora-secretária da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), Marciely reflete que, ao compartilhar esses momentos, está criando um registro vivo da sua cultura.

O uso da tecnologia ajuda a garantir a continuidade da cultura ancestral indígena e inspirar outras mães. Essa presença nas redes sociais revela ainda a vivência de Marciely e seu filho entre os dois mundos, indígena e não indígena.

“A internet serve para mostrar o que a gente sempre praticou, o nosso dia a dia mesmo. A gente tenta mostrar o que talvez possa servir de exemplo, que é desafiador ser mãe, ativista e essa mulher que está à frente de organizações indígenas”, diz Marciely. Em diversas postagens no seu perfil, a mãe faz questão de mostrar que está com seu bebê no colo e presente de forma ativa em agendas políticas, formações e incidências de clima e meio ambiente.

As redes sociais ajudam a preservar essas memórias e práticas culturais indígenas. São fotos, vídeos e textos que estão sendo usados por mães como Marciely, Samela e Luciene para documentar as histórias de seus parentes, registrar eventos importantes, como rituais tradicionais, além do contato das novas gerações com o território, as pessoas e a natureza.

Os registros digitais servirão de acervo para as futuras gerações, que poderão acessar e continuar as tradições Tupari, Juma, Uru Eu Wau Wau e tantas outras. As memórias deixarão de se perder com o tempo.

Em gestos simples, como explicar o uso de uma tipoia, da pintura, do canto em sua língua, do ato de tomar banho de rio e de comer a alimentação tradicional, independente do lugar em que esteja, Marciely está fazendo mais do que educar seu filho. Ela está evitando o apagamento de uma cultura.

Quando Bitaté completou os 6 meses, Marciely celebrou com fotos dele nadando no rio Guaporé, numa visita que os dois fizeram à aldeia Ricardo Franco, em Rondônia. O bebê se diverte na água, senta e afunda seus pezinhos na areia, tomando água direto de uma cuia. A mãe chama ele de “neném viajante”.

“É saber escutar e deixar o meu filho nessa liberdade. Eu deixo ele brincar no chão livremente e ele não gosta de ficar usando muita roupa, então respeito isso”, afirma Marciely. Sua outra filha, Pagüiyatig Gameb Paiter Suruí, tinha o mesmo hábito. “A forma que eles querem viver é uma forma que a gente já vivia antes. Então, a gente agrega essas duas realidades que temos hoje, de estar com um pé na cidade e outro na aldeia.”

O uso da língua materna

A transmissão de línguas indígenas maternas e tradições orais de uma geração para outra, especialmente em contextos onde essas línguas e práticas estão ameaçadas, é um dos maiores desafios. Na cultura indígena, dependendo do povo, o filho descende de hierarquias patrilineares e matrilineares. No caso dos povos Tupari, Juma e Uru Eu Wau Wau, a descendência é patrilinear. “Mas ambos concordamos que vamos deixar o nosso filho ter essa autonomia de escolher a qual povo ele quer seguir, ou se vai ser os três”, explica Marciely.

Nesse caso, o bebê é criado ouvindo palavras em três línguas diferentes. “Eu falo algumas palavras que sei para ele, tipo mãe que é ‘Yã’, ou também na língua do pai dele que é ‘Tumã’ (mãe) ou ‘Tumãhea’ (mamãe), Apsi (pai) na língua do meu povo ou pai na língua Uru Eu Wau Wau, ‘Apinagá’ (papai), ‘Apin’ (pai)”, descreve.

Marciely reforça que, se seu filho se tornar uma liderança, ele precisa saber se comunicar na língua materna, “por conta das dificuldades de se falar com os mais velhos”. “Cobro muito do pai dele também para que o ensine a falar na língua, pois é enquanto criança que já vai entendendo e falando”, reforça. É uma forma de evitar o apagamento linguístico, uma questão sensível entre os povos indígenas.

Tradições mantidas

Depois do nascimento de Tayná (estrela brilhante em Guarani), Luciene Kaxinawá irá cumprir algumas tradições de resguardo das duas culturas, Huni Kuin e Paiter Suruí. Nos primeiros dias, ela evitará comer carne, frango e peixe. Ela também não poderá dormir com o companheiro durante 3 meses.

A filha de Luciene tem outro nome: “Walela soe Magūye Ikin”,  escolhido pela família paterna, seguindo a tradição do pai. Significa “as riquezas sagradas que Deus dá a uma mulher”. Na cultura Huni Kuin, a bebê será reconhecida também como Panteany, descendência da avó materna. O nome não tem um significado, mas é uma representação.

“O nome da minha mãe é Maria de Fátima, mas na nossa língua ela é Panteany. Nós herdamos o nome dos nossos mais velhos seguindo uma lógica do próprio povo. A filha mais velha herda o nome da avó, e se for menino, herda o nome do irmão da mãe ou do avô. Eu sou Ibatsai, porque existe uma ancestral com esse nome que é a minha avó e ela ainda mora na nossa aldeia, que fica no Acre, na região do Rio Breu”, afirma a jornalista. Segundo os mais antigos, a palavra “Ibatsai” significa cura, ancestralidade e a mulher que cuida. A avó dela era uma parteira.

Contra o apagamento cultural

Um dos maiores desafios enfrentados pelas mulheres indígenas que criam filhos indígenas em contexto urbano é o risco de apagamento cultural. Elas presenciam situações de violência enfrentadas pelos filhos, netos e sobrinhos em contato com a sociedade não-indígena.

Preservar a língua e as tradições culturais, como a pintura corporal, é um enfrentamento de desafios constantes, incluindo o preconceito. Luciene compartilha a experiência de seu sobrinho de quatro anos, que adorava se pintar, mas foi desencorajado na escola por considerarem a prática “feia”. A família teve que explicar a ele o significado cultural das pinturas para que ele compreendesse o valor de manter sua identidade. “Tentamos entender o que tinha acontecido, conversamos e explicamos a importância da arte, como é feita, o que significa e voltamos a fazer a pintura corporal”, lembra.

Ela própria, Luciene Kaxinawá, lembra que pintou o corpo do pescoço aos pés com jenipapo , antes de anunciar a gestação. Sem grafismos, a pintura única serviu como elemento de proteção. “Na minha cultura, mãe e filho tomam um banho de jenipapo para que não fiquem doentes e para que coisas ruins não aconteçam. Na cultura do pai, eles pintam quando o neném já está quase andando ou andando, e somente do pescoço para baixo. Decidimos fazer as duas coisas em respeito aos nossos costumes e aos nossos povos”, conta.

Para o povo Tupari, o uso do jenipapo também serve para proteção. “Quando a gente está nesses espaços que não são dentro do nosso território, a pintura do jenipapo afasta aquelas coisas ruins e energias negativas, porque às vezes você pode estar no espaço e as pessoas trazerem mau-olhado para criança”, explica Marciely.

A empreendedora e ativista passa o pasīng (breuzinho), uma resina tradicional da floresta amazônica, na criança para impedir que a maldade chegue. “Quando você molha o breuzinho, ele solta um cheirinho muito gostoso. Tem também a questão do uso do urucum. O povo Juma usa muito. Esses elementos culturais são usados para proteção dos nossos filhos e nossa também”, enfatiza.

Vivendo em contexto urbano, Marciely Tupari questiona como as mães indígenas podem educar as crianças diante de um mar de informações e muito delas distantes das origens e dos costumes tradicionais. “Quando você está na cidade, não pode se desligar realmente do seu povo e do seu território e sempre contar isso para o seu filho”, recomenda. No caso dela, fazer parte de uma organização indígena e transitar entre outros territórios indígenas auxilia. Há três semanas, o pequeno Bitaté participou da cerimônia Zemuxihaw (Festa do Mel), do povo Guajajara, na Terra Indígena Araribóia, no Maranhão. Ele foi abençoado pelo cacique José Maria (Pai Paulo Paulino Guajajara) e bebeu o mel, ao som de um canto forte das mulheres Guajajara. “Ele ganhou o apelido de goiabinho dado pela Sulu (som parecido com Coiab). Ele é ‘filho’ da Coiab”, escreveu em uma postagem.

A jornalista Luciene Kaxinawá aponta outra necessidade na proteção dos filhos indígenas. Os povos originários são guerreiros, e não raras vezes precisam ir às ruas para protestar, reivindicar, lutar por seus direitos. As crianças vão junto. Desde o colo nas mobilizações e nas agendas indígenas, elas estão inseridas desde pequenas no mundo das marchas. “Um fato que aconteceu esse ano pela primeira vez foi um espaço todo dedicado para as crianças indígenas no ATL 2024 [Acampamento Terra Livre], na tenda da Coiab. É um exemplo para outros eventos e mobilizações para a preparação dos nossos futuros guerreiros e guerreiras”, celebra.

Proteção online dos filhos

As mães indígenas já montam estratégias guiadas pelos conhecimentos tradicionais de seus povos para proteger as crianças nas redes sociais. Nos primeiros meses, por exemplo, a bebê de Luciene Kaxinawá não vai poder ser vista e nem visitada por questões culturais. No máximo, a mãe poderá postar fotos do pezinho. Do rosto, não.

Apesar dos perigos que existem na internet, Samela Sateré-Mawé e Marciely Tupari decidiram criar páginas próprias nas redes sociais para seus filhos. Para Samela, a proteção da imagem deve se estender a todas as crianças indígenas, porque “diferente dos não indígenas, a gente não tem um filho só para a gente, um filho é um filho do movimento, todo mundo é responsável pelas nossas crianças”.

O raciocínio é simples. Os ataques virão de todas as partes, certamente, então é preciso uma união entre os povos indígenas para defender também as crianças desde já. “Elas são o nosso futuro. São elas que vão lutar pelos nossos territórios quando não estivermos aqui”, declara Samela.

Nas redes sociais, a influenciadora digital foi impactada pelo preconceito e pelo ódio em relação aos povos indígenas, como a negação de sua identidade indígena. “A internet é o espaço onde isso rola solto. A gente ignora mesmo os não indígenas que nos atacam nas redes sociais e mostramos nossas vivências”, diz.

Nas redes sociais do jovem Bitate, a mãe, Marciely, viu que os povos indígenas precisam se apoderar dessa ferramenta para mostrar a cultura. Ela repassa nas publicações o respeito pela realidade de outros territórios, que as crianças indígenas devem cultivar. Nas postagens, o pequeno aparece tomando a chicha, bebida tradicional tupari, e comendo peixe e tracajá.

“Teve uma época que eu escutei que ele era um menino da cidade e não um menino da aldeia”, lembra Marciely. As redes sociais mostram que ele gosta de escutar os cantos na língua independente do povo, observa e gosta de escutar e estar no meio das pessoas. Bitate dorme ouvindo os cantos, balançando na rede, gosta de ficar aninhado à tipoia. “Eu busco trazer muito essas partes culturais nossas e a riqueza da nossa cultura”, resume a mãe.