Mario Lago 110 anos: “não foi vida jogada fora a que vivi”, por Graça Lago


23/11/2021


Por Graça lago, jornalista, conselheira da ABI

A história de Mário Lago é bastante conhecida pela maioria de nós, que temos acima de 50 anos, amamos música, cinema, teatro, TV e rádio, que militamos em defesa da democracia, da Cultura, de uma sociedade com justiça social e igualdade. É uma longa história brasileira, que atravessou quase todo o século XX e chegou a adentrar pelo Século XXI.

O programa “Nada Além de Mário Lago”, que a ABI transmite nesta quarta-feira, dia 24 de novembro, às 19h30, lembra um pouco da arte desse carioca, ator, advogado, poeta, produtor, escritor, radialista, apresentador, compositor, dramaturgo, multiartista de sucesso, militante comunista histórico, nascido em 26 de novembro de 1911.

Mário Lago é um velho frequentador da ABI, que teve, em seus quadros, familiares do ator, todos jornalistas, como o sogro Henrique João Cordeiro, companheiro de diretoria de Herbert Moses, e os cunhados Henrique João Cordeiro Filho e José Henriques Cordeiro, o Zezé. Hoje, a família está representada na Casa pelo mais velho dos irmãos Lago, o Henrique, e por mim, Graça.

Mas, como eu dizia, Mário Lago é velho frequentador da ABI. Não sabemos exatamente desde quando, mas é quase certo que esteve na sede da nossa Associação em 22 de junho de 1942, no ato oficial de fundação da União Brasileira de Compositores, que ele ajudou a criar, em extraordinária parceria com Roberto Martins, Braguinha, Ataulfo Alves, Alberto Ribeiro, Oswaldo Santiago, Antonio Almeida, Paulo Barbosa, Roberto Roberti, José Maria de Abreu, Radamés Gnatalli, Ary Barroso, Benedito Lacerda, Cristóvão de Alencar , Erastóstenes Frazão, David Nasser, Haroldo Lobo, Saint-Clair Senna e Antônio Nássara, entre tantos militantes da luta pelos direitos autorais.

Também é certo que Mário Lago esteve na ABI nos atos públicos em defesa do petróleo brasileiro, o primeiro, em 4 de junho de 1948, e, o segundo, em 24 de setembro do mesmo ano. E foi ainda em 1948 que Mário lançou, na ABI, o seu pequeno livro de poemas políticos “O povo escreve a história nas paredes”, em um recital promovido, pouco antes da sua morte, pela atriz, jornalista, feminista, sufragista e comunista Eugênia Álvaro Moreira.

O poema que dá título ao livreto fala de um tempo de linotipos e rotativas hoje inexistentes, de perseguições e censura, que permanecem, e de resistência ao fascismo, que nunca pode esmorecer. No auditório da ABI, a voz que ecoou dizia:
“Isso é história, companheiro.
História que tu escreveste
à margem dos linotipos,
à margem da rotativa
e das tiras de papel.
História que tu escreveste
tendo ideal, mão altiva,
toco de giz ou pincel.
O VOTO É A ARMA DO POVO! O NOSSO PETRÓLEO É NOSSO!”

Neste 24 de novembro, quando moços e velhos de todas as idades cruzarem o espaço virtual da ABI, um pouco mais dessa história toda estará sendo escrita e contada, cobrindo de razão ao velho poeta quando ele escreveu, já nos idos de 2000, “não foi vida jogada fora a que vivi”.