28/04/2006
José Reinaldo Marques
07/07/06
Acervo pessoal |
Maria Vitória Vélez graduou-se em Jornalismo pela Universidade Gama Filho e seu primeiro contato com a carreira foi como estagiária no escritório da Agência France Presse, no Rio, onde trabalha há 11 anos.
Filha de uma brasileira e um colombiano — o filósofo Ricardo Vélez Rodríguez, autor de livros como “Patrimonialismo e a realidade latino-americana”, lançado em abril —, Maria Vitória é fluente em português, espanhol e inglês — “também me defendo bem no francês e no alemão”. Tímida, não gosta muito de falar de si mesma, mas diz que ama o que faz e que se sente privilegiada por ser jornalista:
— Tive dúvidas no início. Minha família queria que eu fosse diplomata e cheguei a cursar três períodos da faculdade de Direito, mas não me encontrei ali.
A certeza de ter escolhido a profissão certa veio quando realizou sua primeira reportagem, numa cobertura sobre trabalho social no morro Dona Marta, na Zona Sul do Rio — “quando terminei, estava exausta, mas me senti plena.” E se confirmou ainda mais na recente viagem ao Cazaquistão, onde cobriu a missão do astronauta brasileiro Marcos César Pontes.
Maria Vitória cumpre uma jornada de oito horas diárias na AFP, onde a sua função é editar o material de ciência, cultura e sociedade que chega à agência, além de redigir a pauta e fazer coberturas especiais. Para cumprir bem esse papel, escrevendo sobre assuntos tão diversos, o principal, diz ela, é ter jogo de cintura:
— Numa agência de notícias, dificilmente o jornalista escreve exclusivamente sobre um assunto. É preciso ter versatilidade e disponibilidade para executar missões diferentes.
Sobre edição, ela diz que é um aprendizado diário e, apesar de gostar do que faz, não esconde a preferência pelo trabalho de campo, a reportagem — como a da viagem à Rússia e ao Cazaquistão, que apresentou desafios significativos, “pois às vezes a burocracia russa torna o trabalho do jornalista quase impossível”. Segundo Maria Vitória, é preciso ter autorização para tudo e, mais uma vez, jogo de cintura, para insistir sem ser inconveniente:
— Além disso, tem a barreira do idioma. Poucas pessoas na Rússia — e menos ainda no Cazaquistão — falam outra língua que não o russo ou o cazaque. Em alguns momentos, foi preciso recorrer à ajuda de colegas russos para entender o que estava acontecendo. Mas foi uma experiência fantástica, que demandou muita pesquisa, devido à natureza científica da missão.
A persistência e o tal jogo de cintura — além de senso de oportunidade e uma certa dose de sorte, “de que todo jornalista precisa” — renderam bons frutos: ela foi a única repórter a entrar, juntamente com um cinegrafista, na aeronave que resgatou o astronauta brasileiro e entrevistá-lo.
— Tive um contato bastante positivo com os militares russos encarregados de escolher quem seguiria nos 17 helicópteros que participaram da missão de resgate da cápsula Soyuz. Felizmente, eu e o Marco Aurélio, da Radiobrás, fomos escalados para acompanhar o Marcos César Pontes e seu médico, Dr. Luiz Cláudio Lutiis, de Arkalyk para Koustanay, no Cazaquistão. Na viagem, apesar do cansaço, Pontes se dispôs a responder a algumas perguntas e a entrevista acabou sendo publicada em diversos jornais.