Mais um torturador do Doi-Codi morre sem pagar pelos crimes que cometeu


17/09/2024


O delegado da Polícia Civil de São Paulo, David dos Santos Araújo, um dos mais violentos torturadores do Doi-Codi, onde usava o codinome de Capitão Lisboa, morreu na semana passada, aos 86 anos, sem pagar pelos crimes que cometeu.

David dos Santos Araújo foi torturador do DOI-Codi. No órgão, braço repressivo do Estado durante o período da ditadura, atuava sob o nome falso de Capitão Lisboa e era subordinado ao então major Carlos Alberto Brilhante Ustra. Também foi delegado da Polícia Civil de São Paulo até se aposentar. Em 1981, recebeu do Exército a Medalha do Pacificador.

É acusado de assassinar, em 1971, o militante Joaquim Alencar de Seixas e torturar o filho dele com apenas 16 anos, Ivan Seixas, que foi conselheiro da ABI, além três familiares e mais uma pessoa. Em 2010, foi processado pelo Ministério Público Federal (MPF) pelas violações que cometeu durante o período em que trabalhou no DOI-Codi. Segundo o MPF, as vítimas se lembram ainda hoje de como era a face do Capitão Lisboa.

Em 2012, a sede da Dacala, em São Paulo, empresa de segurança privada de propriedade de David dos Santos, foi alvo de um “escracho”, organizado pelo Levante Popular da Juventude. Os manifestantes expressavam repúdio aos crimes praticados pelo Capitão Lisboa durante a ditadura e às fraudes cometidas por sua companhia.

O relatório final da Comissão Nacional da Verdade diz que David dos Santos Araújo, delegado de polícia do estado de São Paulo, atuou de abril a outubro de 1971 no Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna
(DOI-CODI) do II Exército, onde era conhecido como “Capitão Lisboa”. Teve participação em casos de tortura, execução e desaparecimento forçado. Convocado pela CNV, foi ouvido em março de 2013, negando as acusações contra ele formuladas. Recebeu a Medalha do Pacificador em 1981. Vítimas relacionadas: Aylton Adalberto Mortati e Joaquim Alencar de Seixas (1971); torturas de Ivan Akselrud de Seixas e Ieda Akselrud de Seixas (1971).