30/10/2019
O presidente em exercício da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), o jornalista Cid Benjamin, em entrevista à Folha de S.Paulo, falou sobre as recentes ameaças do presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL) à TV Globo, nas redes sociais:
“Bolsonaro mostra, mais uma vez, seu destempero e sua incapacidade de conviver com a democracia. Para ele, a imprensa que serve é a que aplaude os absurdos que diz e que seu governo implementa.”
O presidente da República respondeu em tom agressivo, à reportagem da TV Globo desta terça-feira (29), que citou seu nome na investigação do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL). Em vídeo divulgado nas redes sociais, Bolsonaro se isentou de responsabilidade pelo crime e fez duras críticas à imprensa, sobretudo à TV Globo. Ele ainda insinuou que as informações do processo, que está sob sigilo, teriam sido vazadas pelo governador Wilson Witzel (PSC).
“Patifaria”, disse Bolsonaro em live gravada ontem em Riade, Arábia Saudita, onde o presidente está como parte de sua viagem por países do Oriente Médio. Bolsonaro mostrou indignação com a reportagem, chegando a gritar e falar palavrões. “Qual é a intenção da Globo fazer isso aí? Nós estamos vendo problemas ocorrendo na América do Sul. Argentina, Chile, Venezuela, Bolívia, Peru… Será que a Globo quer criar uma narrativa, ou que o povo deveria ir à rua para pedir meu afastamento? É o tempo todo isso”, afirmou Bolsonaro.
Bolsonaro ainda ameaçou não renovar a concessão da Globo em 2022. “Por que, TV Globo? Por que, revista Época? Essa patifaria por parte de vocês. Deixe eu governar o Brasil. Vocês perderam. Vocês vão renovar a concessão em 2022, e o processo está limpo. Vocês estão apostando em me derrubar no primeiro ano”.
O porteiro do condomínio onde morava Bolsonaro à época disse em depoimento que alguém com a voz “do seu Jair” autorizou a entrada de um dos suspeitos da morte da vereadora no dia do crime. Bolsonaro, no entanto, neste dia estava na Câmara dos Deputados, segundo registro de presença consultado pela reportagem da Globo.
De acordo com a TV Globo, o caderno da única portaria do Vivendas da Barra foi analisado pela polícia e apontou um visitante no local na noite do crime. No mesmo condomínio, vivia o policial militar reformado Ronnie Lessa, apontado pelo Ministério Público e pela Polícia Civil como o autor dos disparos que mataram Marielle e Anderson.
O suspeito teria anunciado ao porteiro que visitaria Bolsonaro, mas se direcionou para a casa de Ronnie Lessa. “Seus patifes da TV Globo! Seus canalhas! Não vai colar! Não tinha motivo para matar quem quer que fosse no Rio de Janeiro”, bradou Bolsonaro, que isentou o porteiro. “Tenho certeza de que o porteiro não sabe o que assinou”, acrescentou.
Os ataques e ameaças à imprensa também foram criticados pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).