Por Igor Waltz e Cláudia Souza*
14/06/2013
O jornal Folha de S. Paulo teve sete de seus repórteres atingidos, sendo que dois levaram tiros de bala de borracha no rosto, na noite da última quinta-feira, 13 de junho, durante a cobertura dos protestos ocorridos em São Paulo. Um repórter do portal Terra também foi agredido por policiais e dois jornalistas, um da revista Carta Capital e outro do jornal Metro, foram detidos enquanto realizavam seu trabalho.
A Folha informou que os repórteres atingidos com tiros foram Giuliana Vallone, da TV Folha, e Fábio Braga, Folha Online. Giuliana, atingida no olho por uma bala de borracha da PM, afirmou que já consegue enxergar pelo olho ferido, mas continua internada no Hospital Sírio-Libanês.
A publicação citou uma testemunha na edição de hoje que teria visto um policial “mirar e atirar covardemente” na repórter. Segundo o jornal, o fotógrafo Fábio Braga foi atingido por dois disparos.
Na edição de hoje, a Folha publicou um editorial chamado ‘Retomar a Paulista’, no qual cobra ação da Polícia Militar para conter os protestos. “No que toca ao vandalismo, só há um meio de combatê-lo: a força da lei”, afirma o texto.
Já o fotógrafo Sérgio Silva, que trabalha na agência Futura Press, também foi atingido por uma bala de borracha no olho e corre o risco de perder a visão. Ele está internado no Hospital Nove de Julho e de acordo com boletim médico suas chances de recuperação da visão do olho esquerdo são inferiores a 5%. “Ele está sedado e estamos providenciando sua transferência para um centro médico especializado em oftalmologia”, disse Kátia Passos, mulher do fotógrafo.
Outro fotógrafo, Filipe Araújo, de O Estado de S. Paulo, que também acompanhava as manifestações, foi atropelado por um carro da polícia enquanto registrava o evento, por volta da 22h30. Ele estava com um grupo remanescente de manifestantes que seguia pela Avenida Paulista, em direção à Consolação. “Eles estavam calmos, levantando flores, pedindo paz, não estavam quebrando nada quando a tropa de choque veio pra cima”, conta.
Durante a fuga, alguma pessoas atearam fogo em lixeiras para fazer barricadas. Alguns carros da polícia furaram o bloqueio e partiram agressivamente contra os manifestantes. “Eu estava na rua, perto da calçada, fazendo fotos da viatura passando por cima do fogo. Nisso, o motorista de outra viatura que estava em outra faixa da rua me viu e virou o carro na minha direção. Ele viu que eu era fotógrafo, mas veio criminosamente para cima de mim. Eu virei de costas, tentei ir para a calçada, mas fui pego. Estava com um capacete de skate, mas machuquei a cabeça. Machuquei as costas, pernas, cotovelo, me ralei todo”, relata Araújo.
Detenções
O fotógrafo do Terra Fernando Borges foi detido à tarde pela Polícia Militar enquanto cobria a manifestação. Ele portava crachá de imprensa, equipamento fotográfico de trabalho e se apresentou como jornalista, mas foi levado pelos policiais. Ele passou 40 minutos detido junto com outros manifestantes, de frente para a parede, com as mãos nas costas e a cabeça baixa, mas acabou sendo liberado.
Os policiais revistaram os pertences e documentos dos detidos, e só liberaram o fotógrafo alegando que ele “não portava vinagre”, que é usado como “antídoto caseiro” contra os efeitos da bomba de gás lacrimogêneo. Alguns profissionais de imprensa utilizam o produto para conseguir trabalhar registrando as imagens do protesto.
Foi o caso do repórter Piero Locatelli, da revista Carta Capital, também detido. Ele foi preso enquanto fazia a cobertura das manifestações após os policiais encontrarem um pote de vinagre em seus pertences. “Minha mochila foi aberta enquanto eu continuava filmando, como é possível ver no vídeo, e pedia para pessoas próximas fazerem o mesmo. Questionei algumas vezes qual lei, norma ou portaria proibiria o porte de vinagre, mas não obtive resposta”, disse em texto publicado no site da revista.
Veja abaixo o vídeo gravado pelo repórter no momento da detenção:
A repórter do Terra Marina Novaes tentou fugir das bombas lançadas pela polícia e se refugiou na garagem de um prédio próximo à praça Roosevelt, junto de um grupo de outras pessoas. A polícia isolou a área e levou o grupo para o camburão. Retida, ela só foi dispensada depois que se apresentou como jornalista.
O repórter do jornal Metro, Henrique Beirange, foi atingido por um jato de spray de pimenta, enquanto cobria a manifestação. “Jogaram spray de pimenta de forma aleatoria contra os jornalistas. Isso é um absurdo. A gente está aqui trabalhando”, protestou.
Jornalistas que estavam trabalhando no local estudam acionar o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo – SJSP. A direção do SJSP enviou ofício à Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Tribunal de Justiça de São Paulo, Ouvidoria das Polícias de São Paulo, Corregedoria das Polícias Civil e Militar, Comandos da PM e GCM, ao Palácio dos Bandeirantes, ALESP, entre outros, exigindo providências contra as arbitrariedades ocorridas contra os jornalistas. Este é o teor do documento:
“Tendo em vista que muitos jornalistas foram agredidos e detidos por autoridades policiais enquanto realizavam seu trabalho jornalístico, fato ocorrido na última manifestação e amplamente divulgado pela imprensa, solicitamos garantia à integridade física e o direito à Liberdade de Imprensa aos Jornalistas que cobrem o evento para que possam trabalhar sem o ‘risco’ de serem detidos ilegalmente ou constrangidos no exercício da função de informar o cidadão sobre este acontecimento de importância pública relevante”.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo – Abraji também se pronunciou sobre o ocorrido. A instituição condenou os ataques deliberados à imprensa. “A Abraji cobra dos responsáveis que os agentes envolvidos nas agressões físicas contra repórteres e manifestantes sejam identificados e punidos. A Abraji também espera uma explicação oficial da Secretaria de Segurança Pública para a prisão de todos os jornalistas detidos. Impedir o repórter de realizar seu trabalho é violentar toda a sociedade; é atentar contra a democracia”.
Soltura
Dos 13 manifestantes presos na última terça-feira, 11, durante um dos protestos contra o reajuste da tarifa de transporte coletivo em São Paulo, dez foram soltos na tarde desta sexta-feira, 14. A maior parte deles estava no 2º Distrito Policial (DP) na capital paulista.
O primeiro a ser liberado, depois de três dias preso, foi o jornalista do Portal Aprendiz, Pedro Ribeiro Nogueira. Muito emocionado, ele saiu chorando e foi bastante aplaudido por amigos e familiares que o aguardavam na calçada.
O jornalista dividiu a cela com outros sete manifestantes presos na mesma passeata. Seis deles foram liberados também nesta sexta. O único que continua no 2º DP é Raphael Sanz Casseb, que não pagou a fiança arbitrada em R$ 20 mil. O Movimento Passe Livre(MPL) está tentando reduzir o valor na Justiça.
Outros dois detidos, encaminhados ao presídio de Tremembé, no interior paulista, foram soltos na manhã desta sexta-feira. A única mulher integrante desse grupo, que estava detida no presídio de Franco da Rocha, na Grande São Paulo, também foi liberada durante o dia.
Segundo o MPL, foi revertida na Justiça a acusação de formação de quadrilha que recaía sobre 10 manifestantes. Por falta de provas o juiz teria aceito a fixação de fiança para estes detidos em dois salários mínimos para cada. À liberação deles foram impostas condições tais como: solicitação de autorização para se afastar da cidade e proibição de participar de novos atos. No caso do jornalista, a imposição feita é para que esteja em casa entre as 20h e as 6h. O advogado de Nogueira disse que vai recorrer destas exigências.
*Com informações do SJSP, da Abraji, dos jornais Folha de S. Paulo, O Globo e O Estado de S. Paulo, do Portal Terra, e da revista Carta Capital.