Por Igor Waltz*
12/12/2013
De 113 casos de agressão a jornalistas registrados durante os protestos que marcaram o País em 2013, pelo menos 70 teriam sido intencionais. É o que revela um levantamento da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) divulgado nesta quinta-feira, 12 de dezembro. Entre os episódios de agressão deliberada, 78,6% foram provocados por forças de segurança.
De acordo com a Abraji, foram considerados deliberados os ataques realizados a despeito da identificação das vítimas como profissionais da imprensa.
As ocorrências foram registradas entre junho e outubro de 2013. A partir de novembro, a Abraji tentou entrar em contato com todas as vítimas para verificar se a agressão havia sido deliberada ou não. Em 21 casos não foi possível localizar a vítima da violação ou ela não respondeu. Um dos repórteres localizados não soube dizer se a agressão havia sido deliberada ou não.
Excluindo-se esses 22 casos, o universo analisado reduziu-se a 91 agressões, das quais 70 (ou 77%) foram deliberados. A divulgação dos resultados deste levantamento marca os 6 meses do estopim das grandes manifestações: a repressão violenta da PM de São Paulo à marcha contra o aumento das tarifas de ônibus em 13 de junho.
As agressões incluem intimidação, violência física, tentativa de atropelamento, ataque de cães policiais, furto ou dano de equipamentos (não incluídos carros de reportagem ou sedes de empresas de comunicação) e prisão.
Do total de 70 ataques deliberados, forças de segurança protagonizaram 55 episódios. As polícias militares de diversos estados respondem por 53 ataques; a Guarda Municipal de Fortaleza participou de uma agressão e seguranças do terminal rodoviário de Niterói, de outra.
Outros 15 casos de agressão deliberada foram perpetrados por manifestantes (o equivalente a 21,4%). A maioria dessas ocorrências se deu no Rio de Janeiro (5), seguido de São Paulo (3) e Belo Horizonte (2). Em três casos, os equipamentos dos profissionais foram roubados. Uma repórter foi atacada com jatos de vinagre e outro profissional ameaçado com uma arma.
Dentre as cidades com mais casos de agressão deliberada destacam-se São Paulo e Rio de Janeiro, com 26 e 15 casos, respectivamente. Em São Paulo, as agressões se concentraram no dia 13 de junho, quando houve 14 ataques propositais (todos de autoria da Polícia Militar). Foi nesse dia que os jornalistas Giuliana Vallone (TV Folha) e Sérgio Silva (Futurapress) foram atingidos por balas de borracha no rosto. Apesar de ter perdido a visão do olho esquerdo, Sérgio não acredita que o ataque tenha sido deliberado.
Dos 21 casos em que a vítima classificou o incidente como não intencional, quatro envolviam manifestantes. Policiais respondem pelas outras 17 ocorrências, principalmente por causa de tiros de balas de borracha (7 casos).
Para o presidente da Abraji, Marcelo Moreira, os dados revelam um retrocesso na liberdade de expressão e de imprensa no Brasil durante os protestos, com uma “restrição de fato ao trabalho dos jornalistas”. “Isso é grave porque impede a liberdade de expressão e atenta contra os direitos humanos. Quando impedem o jornalista de fazer o trabalho dele, estão impedindo que a sociedade tenha acesso à informação, o que configura uma realidade muito ruim para o nosso país”, aponta Moreira.
*Com informações da Abraji