Madrinha do samba no ABI Memória Musical


12/05/2021


Beth Carvalho no ABI Memória MusicalAonde a madrinha do samba foi, sambista nenhum jamais chegou: Marte. Em 1997, a interpretação de Beth Carvalho para Coisinha do pai, de Jorge Aragão, foi escolhida pela Nasa para “acordar” o robô Sojourner, enviado em missão ao planeta vermelho. Ela nos deixou há dois anos e, este mês, completaria 75. Por isso, o Memória Musical faz uma homenagem hoje, a partir das 19h30, à grande cantora e sambista, relembrando seus 51 anos de carreira.Participam do programa o apresentador e produtor cultural Paulo Figueiredo, os compositores Edmundo Souto e Sombrinha, o diretor musical Túlio Feliciano e a historiadora Bruna Coelho que falarão sobre os as músicas gravadas em seus 40 LPs, quatro DVDs, as quatro composições em parceria com Edmundo Souto e Paulinho Tapajós, os 22 shows, as quatro indicações ao Grammy Latino de melhor álbum de sangue e pagode, além de inúmeros outros prêmios. Para assistir, entre no canal da Associação Brasileira de Imprensa do YouTube.

 

A cantora

Elizabeth Santos Leal de Carvalho nasceu, no dia 5 de maio de 1946, no bairro da Gamboa, região portuária do Rio de Janeiro, área onde o samba surgiu, no começo do século passado. Mas, foi criada mesmo na Zona Sul, onde desenvolveu três paixões: o Botafogo, a Mangueira e o PDT de Leonel Brizola. Sua avó, Ressú, tocava bandolim e violão. Sua mãe tocava piano clássico. Sua irmã Vânia cantava e gravou discos de samba. Beth na adolescência estudou violão numa escola de música e também se tornou professora, passando a dar aulas em escolas.

Morou em vários bairros do Rio e seu pai a levava com regularidade aos ensaios das escolas e rodas de samba. Assim, na década de 1960, surgia a cantora Beth Carvalho, influenciada por tudo isso e pela bossa nova, gênero musical que passou a gostar depois de ouvir João Gilberto, passando a compor e a cantar. Em 1964, seu pai foi cassado pelo golpe militar por sua ideologia de esquerda. Para superar as dificuldades que sua família enfrentou durante a ditadura, Beth voltou a dar aulas de violão. Em 1966, já envolvida com o samba, participou do show A Hora e a Vez do Samba, ao lado de Nelson Sargento e Noca da Portela. Vieram os festivais e Beth participou de quase todos: Festival Internacional da Canção (FIC), Festival Universitário, Brasil Canta no Rio, entre outros.

No FIC de 68, conquistou o 3º lugar com Andança, de Edmundo SoutoPaulinho Tapajós e Danilo Caymmi, e ficou conhecida em todo o país.  A partir de 1973, se tornou sucesso de vendas, emplacando vários sucessos como 1.800 ColinasSaco de FeijãoOlho por OlhoCoisinha do PaiFirme e ForteVou FestejarAcreditarMas Quem Disse que Eu te Esqueço. Em 1972, buscou Nelson Cavaquinho para a gravação de Folhas Secas e, em 1975, fez o mesmo com Cartola, ao lançar As Rosas Não Falam. Frequentadora assídua dos pagodes, entre eles os do bloco carnavalesco Cacique de Ramos, Beth Carvalho revelou artistas como o grupo Fundo de QuintalZeca PagodinhoAlmir GuinetoSombraSombrinha, Arlindo Cruz, Luiz Carlos da VilaJorge Aragão, Bezerra da Silva e muitos outros. Por essa característica, Beth ganhou a alcunha de “Madrinha do Samba”. Ela introduziu em seus shows e discos novos  instrumentos que até então eram utilizados exclusivamente nos pagodes do Cacique.

Beth fez apresentações em cidades da África, Europa, EUA , América do Sul e Ásia e recebeu seis Prêmios Sharp, 17 Discos de Ouro, 9 de Platina, 1 DVD de platina, centenas de troféus e premiações diversas. Em 1984, foi enredo da Escola de Samba Unidos do Cabuçu. Dentre todas as homenagens já feitas à grande cantora, Beth considerava esta a maior de todas. Ela fez shows até antes de ser internada, morrendo três meses depois,   a 30 de abril de 2019, por infecção generalizada. Beth, deixou uma filha, Luana Carvalho.

 

Debatedores

O compositor e arquiteto Edmundo Souto fez 17 músicas com Paulinho Tapajós e seis com Danilo Caymmi, ficando célebre com Andança, 3º lugar no III Festival da Canção.  Tem muitas outras parcerias em músicas com Moacyr Luz, Iba Nunes e Luís Carlos da Vila. Ele participou de diversos festivais, fez trilhas musicais para novelas, escreveu dois livros e musicou um curta-metragem, Garoto de calçada.

 Sombrinha é cantor, compositor e músico e considerado pela crítica e no mundo do samba, um grande ícone da música popular brasileira. Em 1979, fundou no Rio, junto com Almir Guinéto, Jorge Aragão, Bira, Ubirani, Sereno e Neoci, o grupo Fundo de Quintal onde ficou até 1991 para seguir carreira solo. Tem mais de 400 gravações por cantores famosos de samba,  10 prêmios Sharp de Música, sendo 6 como melhor grupo de samba, 1 como artista revelação e 3 como melhor composição com as músicas: Além da razão, Nas rimas do amor e Ainda é tempo pra ser feliz.

lio Feliciano é produtor musical e diretor pernambucano, que trabalhou com os principais nomes da MPB, tornando-se um dos profissionais mais requisitados pelos sambistas nacionais. Exatamente como tantos discos que ajudou a tornar clássicos, fez shows com os maiores nomes da música como Nara Leão, Marlene, Cauby Peixoto e Elizeth Cardos, mas o espetáculo Cinco bailes da história de Silas, com Dona Ivone Lara e o grupo Fundo de Quintal o tragou de vez para o samba.  Vieram então, Zeca Pagodinho e Beth Carvalho. Ele diz: “já produzi até 10 shows diferentes até para o público japonês.”

 A historiadora  Bruna Coelho está no projeto A música de: História (pública) da música do Brasil realizado por um coletivo de historiadores que escutam música popular brasileira e as memórias de quem a pensa, elabora e executa.  Ela cita o LP De pé no chão, (1978), de Beth Carvalho e conta “-O divisor de águas na carreira de Beth Carvalho foi o disco De Pé no Chão quando os membros do Cacique trouxeram inovações musicais, com o banjo, tantã e um novo repique. Fato é que o pagode feito por membros do Cacique de Ramos nada mais era do que uma forma de se fazer samba. A cantora adotou um novo modelo em seus discos após 1978, que foi seguido por outros intérpretes de sambas.