23/03/2023
Por José Reinaldo Carvalho, da Comissão de Relações Internacionais da ABI, em 247
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva viaja para a China, à frente de uma numerosa delegação composta por ministros, diretores de agências governamentais, assessores especiais, o presidente do Senado, outros parlamentares e cerca de 200 empresários.
A visita começa em Pequim e termina simbolicamente em Xangai, onde está a sede do NDB, o banco dos Brics, cuja chefia deverá ser assumida pela ex-presidente Dilma Rousseff, o que é visto no Brasil com o resgate da chefe de Estado que foi afastada do poder pelo golpe parlamentar de Estado em 2016.
A presença de Lula na China é tratada tanto no Brasil como no país socialista asiático como uma visita de Estado e tem como ponto culminante o encontro de alto nível com o presidente Xi Jinping, recentemente reeleito para cumprir seu terceiro mandato. Há expectativa de que os dois líderes, para além das discussões sobre o aprofundamento dos laços bilaterais, troquem pontos de vista sobre o palpitante tema da guerra na Ucrânia. Entre as forças de esquerda e progressistas brasileiras, mesmo algumas que integram o governo da ampla coalizão, não foi positiva a repercussão do voto brasileiro na última assembleia especial na ONU que se pronunciou sobre o tema. Os progressistas brasileiros preferiam a abstenção e não o voto favorável a uma resolução redigida pelas potências ocidentais. Lula já propôs publicamente que a China assuma papel protagonista na promoção de uma solução política que ponha termo ao conflito.
O governo brasileiro espera tirar o máximo de proveito do encontro em termos de cooperação na área econômica. Podem ser firmados de 15 a 20 acordos nas mais diferentes áreas: comércio, investimentos, reindustrialização, transição energética, mudança climática, agricultura, ciência e tecnologia, semicondutores e construção conjunta de satélites. O comércio bilateral e os investimentos chineses no gigante do Cruzeiro do Sul, que já são robustos, podem se avolumar ainda mais. O volume do comércio bilateral entre a China e o Brasil em 2022 atingiu cerca de US$171,5 bilhões, mostrando um aumento anual de 4,9%, enquanto os investimentos diretos chineses ultrapassam 100 bilhões de dólares.
Inevitavelmente, essa cooperação fortalecerá o Brics, contrariamente às pretensões do imperialismo estadunidense.
A China, que já tem com o Brasil uma “parceria estratégica de alto nível”, no quadro de relações diplomáticas que no próximo ano completam 50 anos, valoriza a presença do líder brasileiro, agora mais tarimbado no exercício do seu terceiro mandato. Lula será tratado como um “velho amigo da China”.
Os laços bilaterais se desenvolvem cada vez mais. A China é, desde 2009, o principal parceiro comercial brasileiro. A China tornou-se também o principal investidor externo direto no Brasil, investimento de importância estratégica para o desenvolvimento econômico porque gerador de crescimento, emprego e renda. As relações comerciais passaram a ser uma importante alavanca para o Brasil ocupar um lugar relevante na economia internacional. As relações econômicas e especificamente comerciais são favoráveis ao Brasil. A abertura do mercado chinês favorece o comércio exterior brasileiro, principalmente de commodities do agronegócio. A política externa chinesa de proporcionar um futuro compartilhado para toda a humanidade, preconizada pelo Presidente Xi Jinping, pode favorecer o desenvolvimento econômico e social do Brasil e fortalecer ainda mais a amizade entre os dois países e povos.
O Ministério chinês das Relações Exteriores publicou comunicados destacando que a China e o Brasil são “grandes países em desenvolvimento e importantes mercados emergentes”, duas nações “parceiras estratégicas globais” que constituem “um exemplo de solidariedade, cooperação e desenvolvimento comum entre grandes países em desenvolvimento”. Ambas as partes consideram que esses laços podem alçar um novo patamar a partir da visita de Lula.
No plano político, a visita de Lula à China tende a reforçar ainda mais o engajamento na construção de um novo sistema internacional multipolar. Ambos os países defendem o multilateralismo genuíno e têm políticas externas distantes das confrontações bélicas, por isso estão em melhores condições de exercer protagonismo em favor da paz mundial. Objetivamente, o fortalecimento das relações com a China marca uma diferença fundamental com os Estados Unidos, que pretendem deslocar o grande país socialista da América Latina.