26/08/2022
Por Ricardo Kostcho, em Ultrajano
Lula estava tão ansioso para falar, depois de tantos anos de cancelamento e ataques na grande mídia, que nem reparei se ele deu boa noite aos entrevistadores e à grande plateia global reunida no país inteiro.
William Bonner foi direto ao ponto: “Vamos começar falando de corrupção”. O algoz Sergio Moro, que fazia comentários online, e os bolsominions em geral devem ter vibrado com a aparente provocação, que na verdade acabou sendo uma oportunidade para Lula dar, finalmente, a sua versão.
Para quem imaginava que o ex-presidente fosse se encolher na cadeira ou partir para a vingança, deve ter sido uma surpresa. Mesmo rouco, com dificuldades para falar, Lula agradeceu a pergunta e foi ao ataque, mas de forma serena, listando todas as medidas tomadas pelos seus governos no combate à corrupção, sem procurar abafar nada e dando toda autonomia aos órgãos controladores (Ministério Público e Polícia Federal, entre tantos outros). Isso ninguém pode negar.
Quem poderia imaginar que Lula fosse fazer, logo de cara, um veemente discurso contra a corrupção e garantir que, se for novamente eleito, todas as denúncias serão investigadas, como foram em seus dois governos, que acabaram levando o próprio Lula a passar 580 dias na prisão, em processos políticos viciados, ao final anulados pelo Supremo Tribunal Federal.
A partir daí, Lula ficou à vontade para falar com a alma, como se estivesse no Estádio de Vila Euclides, no início da sua carreira de líder metalúrgico, no final dos anos 1970, o sindicalista que apenas duas décadas depois chegaria ao poder, após três derrotas nas eleições presidenciais.
Se alguém disser que sou suspeito para falar que esta foi a melhor entrevista que Lula já deu carreira política dele, terá toda razão. Mas posso falar isso porque acompanhei de perto, em centenas, talvez milhares, de encontros dele com jornalistas, como repórter e depois amigo e assessor de imprensa, a trajetória improvável desse cidadão brasileiro, que nunca se conformou com o destino de ser gandula na vida. Falo como testemunha ocular e auricular de um tempo que vivi.
Que diferença em relação aos outros presidenciáveis já entrevistados pelo Jornal Nacional!
Parecia que seus adversários estavam falando de um outro país, sem nenhum contato com a realidade de 210 milhões de brasileiros _ um por mentir o tempo inteiro e outro por delirar o tempo todo com seus projetos inexequíveis.
Enquanto escrevo, recebi mensagens de duas colegas jornalistas, que estão longe de ser petistas e já foram muito críticas ao ex-presidente, resumindo o que foi a entrevista.
“Poderia citar muitas diferenças, mas me chama a atenção o respeito de @LulaOficial pela Renata. Ele o tempo todo coloca ela presente e participando da entrevista. Homem que respeita mulher é outra coisa (Leilane Neubarth).
Nem tinha reparado nisso.
O ex-presidente Lula se saiu muito bem na entrevista do JN. Ele não se intimidou com as perguntas delicadas de corrupção, até agradeceu. Fez frases de fácil comunicação. Acertou o tom, não se irritou. Conseguiu contornar a dificuldade de explicar o governo Dilma” (Miriam Leitão).
Ao final dos 40 minutos de embate duro, mas respeitoso, Lula, Bonner e Renata pareciam satisfeitos e aliviados com o resultado, que ajudou o país a escolher e seu presidente em 2 de outubro.
“Chorei vendo @LulaOificlal no JN. Mais do que quando votei nele em 2002. Tanto da nossa história!”, escreveu Caetano Veloso no Twitter.
Eu fiz força para não chorar, vendo a garra e a paixão deste cara de 76 anos, depois de tudo pelo que passou, recém-casado de novo, ao falar do futuro do nosso país, que ele promete reconstruir, citando sempre a parceria com seu vice, Geraldo Alckmin, antigo adversário, para mostrar que o país precisa se unir de novo, acima das divergências, sem medo e sem ódio.
Ao comparar as três entrevistas desta semana no JN, com os candidatos que sobraram na disputa, não dá mais para ninguém, em pleno gozo do seu juízo e de boa fé, ter dúvidas sobre como votar para presidente.
Depois de hoje, passei a ter certeza de que esta eleição será decidida no primeiro turno. Lula matou a pau.
Vida que segue.