26/11/2015
Além do livro lançado este mês de novembro, “Retratos do Tempo: 50 anos de Fotojornalismo” de Evandro Teixeira, os amantes da arte podem conferir a exposição “Evandro Teixeira: A Constituição do Mundo” em cartaz até dia 31 de janeiro no Museu de Arte do Rio (MAR). O livro e a mostra relembram fatos marcantes ao longo dos quase 60 anos de sua carreira.
Ao todo serão 150 obras que ocupam um espaço de 300 m². São imagens de Copas do Mundo, Olimpíadas, movimentações estudantis durante a ditadura militar, além de fotografias sobre o cotidiano das pessoas e de artistas famosos, como a dos amigos Chico Buarque, Tom Jobim e Vinicius de Moraes deitados sobre uma mesa em uma churrascaria.
O projeto do livro, em parceria com a editora Edições de Janeiro, reúne fotografias que marcam a trajetória de mais de 50 anos de fotojornalismo, além de contar com testemunhos marcantes como o do escritor Ruy Castro: “Um livro abrangente, que compreende os principais temas e cenários de uma extraordinária carreira fotográfica. Retratos do Tempo é surpreendente a cada virada de página. Era o que faltava para podermos nos debruçar sobre a obra de Evandro Teixeira”.
As 240 páginas de “Retratos do tempo” revelam o olhar singular do fotógrafo por mais de 160 imagens de coberturas nacionais e internacionais. No livro expõe imagens de famosos e anônimos. Mas Evandro, que afirma adorar flagrar o cotidiano de seu povo, garante que ainda há espaço para conquistar a sua realização profissional: “Mesmo com tanto tempo de dedicação, continuo a buscar o que ainda não fiz”, diz.
Um dos maiores fotojornalistas brasileiros, o baiano de Jequié Evandro Teixeira sonhava ser escultor, mas também gostava de brincar de cinema e, inspirado num primo que foi convocado para a Segunda Guerra, pensou na carreira de aviador militar. Passou a apreciar o fotojornalismo em 1954, através da revista O Cruzeiro, que considera a grande escola da reportagem fotográfica brasileira:
Com o fotógrafo Nestor Rocha, tio do cineasta Gláuber Rocha, Evandro aprendeu os primeiros segredos da profissão, fazendo fotos que chama de “acadêmicas”. Em seguida, foi estudar em Salvador, onde logo arranjou uma vaga como estagiário no Diário de Notícias. Em 1957, desembarcou no Rio com a indicação de um amigo para procurar estágio no Diário da Noite, onde foi designado para registrar casamentos:
— O chefe de redação me chamou e disse: “Você vai ser nosso santo casamenteiro. Vai ter um carro, uma lista das igrejas, e sair para cobrir casamentos. Só não me traga fotos de pretos.” No primeiro dia, consultando a listagem, percorri várias igrejas da cidade. Cheguei a uma onde um negro ia se casar com uma loura. Peguei a Rolleiflex e fiz a foto.
Evandro conta que voltou para a redação preocupado e revelou seu dilema para o laboratorista, que o consolou, dizendo:
“Não tem problema, pode deixar que ele vai ficar branco.” Mais tarde,o chefe da redação descobriu a falseta e,esbravejando,chamou-o à sua sala juntamente com o editor de Fotografia, Ângelo Regatto:
— O que houve? Eu não te disse que não queria preto? Demite! A sorte, para Evandro e para o fotojornalismo,é que Regatto apostou no talento do estagiário e o mandou para casa até que ele “amansasse a fera”.
Evandro foi para O Jornal, a revista Mundo Ilustrado e o Jornal do Brasil, onde está até hoje. Chegou ao JB em 1972. Sua foto da Passeata dos 100 mil, por exemplo, virou símbolo dos movimentos populares contra a ditadura militar. Era junho de 68 e Evandro devia acompanhar o líder estudantil Vladimir Palmeira, então ameaçado de prisão, do início ao fim do ato que se realizaria na Cinelândia, no Centro do Rio. Para fazer o registro histórico, ele subiu no palanque e, apesar da repressão policial, posicionou-se atrás de Vladimir e conseguiu o clique.
Fontes: Jornalistas & Cia; O G1