Uma inusitada abordagem sobre a pluralidade de identidades sexuais que circulam no Brasil nas capas de jornais e revistas é o tema do livro “Impressões de identidade: um olhar sobre a imprensa gay no Rio de Janeiro” (Editora da UFF, 2010), do professor e design gráfico Jorge Caê Rodrigues, lançado recentemente no Rio de Janeiro.
O livro é o resultado de uma investigação vigorosa acerca da formação da imprensa gay nacional, entre os anos de 1978 e 1995, em que o autor leva destaca em sua pesquisa, como parte constituinte do processo, os movimentos sociais, políticos, culturais e históricos que envolveram os periódicos em questão e a própria formação da identidade gay contemporânea no País.
O trabalho de Jorge Caê Rodrigues apresenta uma análise muito abrangente dos veículos pesquisados, desde o conteúdo dos artigos, seções e colunas diversas até o projeto gráfico, conformando uma investigação precisa entre o conteúdo e as opções gráficas e estéticas de cada jornal ou revista, o que revela, de um ponto de vista amplo, as estratégias necessárias de apelo ao leitor.
Partindo do jornal O lampião da esquina (1978-1981), chegando à publicação da revista Sui Generis (1995-2000), Caê traça o mapa de memória mais recente do que se denomina, genericamente, comunidade gay brasileira. Trata-se de uma obra de interesse tanto para pesquisadores, em busca de informações e análises mais precisas para além da mera descrição, quanto ao leitor, menos comprometido com as atividades acadêmicas.
Do ponto de vista crítico, o livro está sendo considerado “como um mapa da memória e carta de navegação da história recente da década de 1970”. É neste ponto que reside a relevância da obra na opinião do professor da USP César Lugarinho, uma vez que a identidade gay, no fim dos anos 70, é completamente diversa daquela que se encontra nas três décadas subseqüentes, seja nas páginas dos jornais e revistas brasileiros, identificados com o público gay, “ou nas ruas, como indivíduos, e ainda nas formas de representações artísticas ou da própria indústria cultural”.
Jorge Luís P. Rodrigues, conhecido como Caê, é designer gráfico, mestre em Design e doutor em Literatura comparada. É professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia — IFRJ e da faculdade de moda do Senai/CETIQT. Escreveu também o livro “Os anos fatais — design, música e tropicalismo”.