Os cerca de 100 chefes de Estado e Governo participam do segundo dia de discussões em torno do documento final a ser apresentado no encerramento da Rio+20, nesta sexta-feira, dia 22.
O secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-monn convocou a imprensa para elogiar o rascunho zero apresentado na terça-feira, 19, ocasião na qual lamentou o conteúdo do texto. Nesta quinta-feira, entretanto, o secretário-geral da ONU apresentou discurso mais otimista:
—Este é um documento final contendo pacotes amplos, ambiciosos e práticos para o desenvolvimento sustentável, garantindo os três pilares dos nossos objetivos: equidade social, desenvolvimento econômico e sustentabilidade ambiental.
Ban Ki-moon parabenizou a equipe diplomática brasileira na condução dos acordos:
—Acredito que(o texto) foi um grande sucesso para a comunidade internacional. Uns podem ter visões diferentes, mas para as Nações Unidas, estamos muito agradecidos pela liderança da presidente Dilma Roussef e sua equipe, que levou as negociações a tamanho sucesso.
Dilma Roussef abriu nesta quinta, 20, o fórum “O Que as Mulheres Querem, promovido pela ONU-Mulheres, cuja direção executiva é da responsabilidade da ex-presidente do Chile Michelle Bachelet.
O papel das mulheres no desenvolvimento do País e na defesa do meio ambiente foi ressaltado por Dilma:
—As mulheres e as crianças são a face da pobreza no mundo. No Brasil são as grandes aliadas para a erradicação da pobreza, pois investem na renda da família e na comunidade. As mulheres devem ser parte disso, o planeta não vai suportar sem um novo paradigma de desenvolvimento sustentável.
Ao lado de outras líderes mundiais, entre as quais as presidentes da Costa Rica, Laura Chinchilla, e da Lituânia, Dália Grybauskaitè, Dilma acentuou a contribuição feminina na concretização dos objetivos da conferência da ONU.
—A Rio+20 nos apresenta a possibilidade e o desafio de incorporar os direitos das mulheres como dimensão crucial e estrutural do processo de desenvolvimento sustentável.
No primeiro dia de discurso dos líderes mundiais, quarta-feira, 20, o Presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, chamou a atenção, entre outros pontos, para a necessidade de união na busca de soluções:
—Estamos aqui para melhorar a situação atual, curando velhas feridas da sociedade humana. Todas as nações e governos eleitos democraticamente devem participar, construtivamente, com compromissos, no gerenciamento do mundo baseado em compaixão.
O Presidente da França, François Hollande, foi aplaudido ao propor um imposto sobre transações financeiras para o desenvolvimento sustentável, e manifestou insatisfação com o documento final da Rio+20:
—Propomos a criação deste imposto e lamento que a proposta inovadora de financiamento do desenvolvimento sustentável não tenha tido concordância dos países. Se não juntarmos novos financiamentos aos mecanismos já existentes, não será suficiente. Venho dizer que esse resltado da Rio+20 é apreciável, porém, decepcionante, diante das expectativas.
A não elevação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente(Pnuma) em agência especializada também foi alvo de crítica:
—Este era um objetivo muito caro à França e seria a melhor maneira de por todos os objetivos no mesmo lugar, porque essa agência ficaria em Nairóbi, na áfrica, o que seria uma confirmação do lugar do continente no mundo.
Aporte
Nesta quinta-feira, 21, a China anunciou um aporte de U$ 6 milhões para um fundo de financiamento de programas de proteção do meio ambiente em países em desenvolvimento. O primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, disse que a China está pronta para assumir suas responsabilidades como maior país em desenvolvimento do planeta. O premiê defendeu a ideia de que os ricos devem pagar mais pela promoção do desenvolvimento sustentável.
O Presidente de Cuba, Raúl Castro, disse em seu discurso que os países desenvolvidos devem “assumir suas responsabilidades históricas e avançar na construção de um mundo sustentável com inclusão social”.
Castro lamentou a falta de um acordo mais amplo na elaboração do texto final da Rio+20 e defendeu uma revisão na ordem de interesses relativos aos investimentos militares:
—Cuba aspira a que imponham a sensatez e a inteligência humana sobre a irracionalidade e a barbárie. Temos urgência de uma mudança transcendental, e a alternativa é construir sociedades justas, estabelecer uma ordem internacional mais equitativa, baseada no respeito a todos.
Ele citou o irmão Fidel Castro, ex-presidente de Cuba, que teve destacada participação na Rio-92:
—Cerca de 20 anos atrás, em 12 de junho de 1992, nesta mesma sala e recinto, o líder da revolução cubana, Fedel Castro disse: ‘Uma espécie biológica importante está em risco de desaparecer por conta do desaparecimento do seu habitat, que é o homem.’ O que poderia ser considerado alarmista, constitui uma realidade irrefutável.
O Presidente da Bolívia, Evo Morales, aconselhou os demais países a estatizarem seus recursos naturais e serviços fundamentais prestados aos cidadãos:
—Os serviços básicos jamais devem ser privatizados. São uma obrigação do Estado. A economia verde é o novo colonialismo para submeter povos e os governos anticapitalistas. Verticaliza os recursos naturais e transforma a natureza em mercadoria, em um bem privado a serviço de poucos. Querem criar mecanismos de intromissão para julgar e monitorar nossas políticas nacionais com argumen tos ambientalistas.
Parafrasenado o ex-presidente de Cuba, Fidel Castro, Evo Morales advertiu: “acabe com a fome, não com o homem”. É preciso pagar a dívida ecológica e não a dívida externa, concluiu.
Manifestações
Representantes das ONGs que participam da conferência da ONU iniciaram um abaixo-assinado contra o rascunho zero. A petição é intitulada “O Futuro Que Não Queremos”.
Durante um protesto nesta quinta-feira, no Riocentro, centenas de índios de diferentes partes do mundo entregaram ao ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, um documento com reivindicações e propostas para o meio ambiente.
Moya Nomenga, representante de uma tribo do Equador, afirmou à Agência Efe que os índios pediram o fim das atividades petrolíferas em seu país.
Mario Santos, ativista indígena, informou à Efe que o texto foi escrito em defesa da “mãe terra que é a que dá vida”.
Nas ruas do Centro do Rio, cerca de 3 mil integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizaram uma passeata em defesa da agricultura camponesa no País.
Ao passarem pela Zona Portuária, os manifestantes entraram como visitantes no espaço AgroBrasil, montado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) para a Rio+20.
Houve conflito entre os manifestantes e os seguranças do estande, e a Polícia Militar foi acionada.
Segundo a CNA, o grupo depredou o espaço. Já os representantes do MST negaram as acusações de vandalismo.
*Com Agência Brasil, G1, O Globo, Último Segundo.