Laudo do desabamento não saiu até agora


01/03/2012


Parentes e amigos das vítimas de desabamento de três prédios no Centro do Rio participaram na noite desta quarta-feira, 29 de fevereiro, de um ato ecumênico em benefício dos mortos e desaparecidos na tragédia.
 
 
Eles aproveitaram a cerimônia para reclamar da demora das autoridades na apresentação do laudo sobre as causas do acidente e na identificação dos responsáveis. Houve muita reclamação pela falta de informações sobre as vítimas que ainda não foram encontrados.
 
 
“As famílias estão desamparadas, querendo saber onde estão as pessoas que morreram no desabamento, sem que as autoridades lhe dêem uma satisfação. Cinco pessoas estão desaparecidas e até agora e ninguém aparece para falar do paradeiro delas”, disse Antonio Molinaro, que ajudou a organizar do ato.
 
 
A cerimônia foi organizada pela Associação dos Parentes das Vítimas da 13 de Maio, cujo Presidente, advogado Otávio Blatter, disse que considera dramática a situação que está sendo vivenciada pelos familiares das vítimas da tragédia. Segundo ele, a associação foi criada para defender os interesses das pessoas físicas e jurídicas que foram atingidas pelo acidente:
— Entre os mortos e desaparecidos são 22 pessoas, cujas famílias se encontram em desespero pela falta de amparo definido das autoridades, que têm responsabilidade em tudo isso que está acontecendo, afirmou.
 
 
Blatter disse que a associação não pode intervir diretamente nos procedimentos oficiais do estado, para apuração do que aconteceu:
— Mas podemos influenciar de maneira positiva, por meio da imprensa e de medidas judiciais, para que tudo isso seja feito com mais celeridade. Principalmente, com a retidão que se espera da apuração das responsabilidades de todos os envolvidos.
 
 
A primeira medida tomada pela associação foi tomada três dias após o acidente, por meio de um despacho da Justiça assegurando o direito de acompanhar todas as atividades feitas pelo estado e pela Prefeitura, para apuração do acidente:
— No entanto, a passividade da atuação das autoridades públicas não nos permite uma influência maior. Por isso, estamos agora cuidando de outra medida cautelar pedindo a alienação dos bens dos responsáveis pessoas físicas identificados.
 
 
Otávio Blatter informou que a medida cautelar já foi deferida pela 5ª Vara de Fazenda Pública. Disse também que a associação agora está aguardando o resultado dos laudos oficiais para promover as acusações, no foro cível, das indenizações das empresas que tiveram que parar suas atividades, por causa dos desabamentos.
 
 
Descaso
 
 
De acordo com parecer de advogados, enquanto não forem apuradas as responsabilidade pelos desabamentos as vítimas não podem pleitear indenizações pela Justiça. Esta questão afeta também as famílias das pessoas mortas e daqueles cujos corpos ainda não foram encontrados.
 
 
Marinez Mussi, cujo marido morreu no desabamento, manifestou a sua preocupação com a morosidade na conclusão do laudo do acidente, e acusa as autoridades de descaso na condução das investigações e na tomada de providências:
— Queremos respostas concretas. Onde estão os pertences das vítimas. A cada hora informam um local diferente. Cadê a empresa que ia catalogar esses pertences? Qual a atitude tomada em relação aos ladrões que saquearam os escombros no Cais do Porto? — disse a viúva do engenheiro Omar Mussi, 48 anos, que também era professor da Tecnologia Organizacional (TO) e dava aula na hora em que prédio desabou.
 
 
Marinez disse que as famílias estão cobrando também informações do Instituto de Pesquisa e Perícias em Genética Forense, responsável pelos exames de DNA necessários para identificar os restos mortais das vítimas encontradas até o momento:
— Por que o instituto está demorando tanto? Por que não foi tomada uma providência para a coleta de material de DNA de pessoas que foram enterradas por reconhecimento? Existem despojos que podem ser dessas pessoas, encontradas no Ponto Zero que não estão batendo com o DNA dos desaparecidos, disse Marinez.
 
 
Ela criticou também a demora na conclusão do inquérito policial — prorrogado por mais 30 dias — que está sendo conduzido pela 5ª DP, na Rua Gomes Freire (Centro). Um dos motivos do atraso seria a falta de coleta de dados das pessoas que já foram enterradas, cujos parentes não foram convocados à delegacia para prestar depoimentos.
 
 
Michele Barbosa, esposa de Marcelo Rebelo, morto no desabamento, reclama da falta de informações sobre os pertences e do exame de DNA:
— Não temos informação sobre os pertences das pessoas que estavam no prédio. Disseram que iam catalogar esse material para que pudéssemos ter acesso, mas até agora nada. A mãe do meu marido fez exame de DNA, mas deu inconclusivo, então pediram mais duas semanas de prazo. Ficamos sem poder fazer nada e com a família vivendo essa agonia, disse Michele.
 
Michele se queixa que as autoridades relaxaram no apoio às famílias das vítimas:
— Deixaram a gente de lado, há um descaso total das autoridades, que pelo menos poderiam agilizar as coisas, mas não fazem nada. Isso é muito triste, disse Michele.
 
 
Burocracia
 
 
Celso Renato — pai de Celso Renato Braga Cabral Filho, 44 anos — disse que o maior problema dos parentes das vítimas é a burocracia. Segundo ele, no lugar de facilidade, as pessoas estão encontrando dificuldade:
— Infelizmente não é nenhuma surpresa para a população, para quem está necessitando de ajuda numa hora dessas. Até quando vai se arrastar essa situação?
 
 
Inconformada, Vera Charles, que teve um filho morto no acidente, reclamou da maneira como foi feito o trabalho de resgate das vítimas:
— A única coisa que eles (estado e prefeitura) queriam era limpar a área. Eles agiram como se no local só tivesse escombros. Eles esqueceram que ali ainda tinha vida, suspiro de gente viva.
 
 
Como exemplo ela cita o caso de uma vítima que se salvou porque estava com a mão livre e conseguiu tocar na perna de um bombeiro:
— E se ele não tivesse tido essa possibilidade, será que não seria mais um corpo que apareceria despedaçado no Lixão ou no IML?
 
 
Ela contou que no dia do desabamento, por volta das 20h15, ligou para o filho Bruno Gitahy Charles, 25 anos, funcionário e aluno do curso da TO, perguntando se ele iria para casa jantar.
O rapaz lhe respondeu que tinha aula, por isso não voltaria cedo para casa.
 
 
Dona Vera ficou sabendo pela TV que tinha caído um prédio no Centro. Disse que ficou apavorada e ligou para o celular de Bruno, mas só caía na caixa de mensagem. Por iniciativa de alguns parentes, que já sabiam da tragédia, ela chegou ao local, onde teve a confirmação que o prédio que caiu era onde seu filho trabalhava.
 
 
O desabamento dos três prédios na Rua Treze de Maio ocorreu por volta das 20h30, do dia 25 de janeiro. Cinco semanas depois do acidente, o Corpo de Bombeiros confirmou a morte de 17 vítimas. Segundo a prefeitura, cinco pessoas ainda estão desaparecidas.
 
 
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