Ex-presidente e atual senador uruguaio é homenageado na Casa do Jornalista


Por Por Claudia Sanches

27/08/2015


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Vice-Presidente da ABI, Paulo Jerônimo (Pajê), Samuel Guimarães, José Mujica, Darc Costa, Carlos Lessa e Maria Hernandez

Em cerimônia realizada nesta quinta-feira (27), na Associação Brasileira de Imprensa (ABI), o ex-presidente e atual senador uruguaio José Mujica foi homenageado pela Federação de Câmaras de Comércio e Indústria da América do Sul (Federasur) com o prêmio “Personalidade Sur 2015”, por sua atuação política e social em seu país. Segundo Darc Costa, presidente da Federasur, o objetivo da premiação é celebrar figuras ilustres de destaque mundial nas Américas.

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Durante a solenidade, Mujica falou sobre a América Latina, o momento político atual e a importância de viver em coletividade e da valorização de cada minuto da vida. Seu discurso é marcado pela crítica à civilização do consumo e à política, à acumulação de bens e riquezas, o esbanjamento das elites, que compram artigos supérfluos e questionou: “Isto por acaso é felicidade? “É necessário tempo, para beijar os filhos, bater papo com os amigos, e namorar com a mulher amada. Isso não é apologia à pobreza e à violência, é um outro tipo de riqueza”, defendeu.

De acordo com Mujica, é preciso mudar a mentalidade das pessoas e o comportamento dos políticos, que devem defender a maioria do povo, ao invés de preservar o interesse de uma minoria privilegiada. “Não há homem grande, há causa grande”, disse, arrancando aplausos entusiasmados:  “Os políticos têm que viver como a maioria e não como a minoria. Não há homens grandes, mas sim grandes causas. Somos seres coletivos. Temos que viver, e o capita não é mais importante que a vida. O homem, com a tecnologia, conquistou mais 40 anos de vida, apesar de ninguém saber o que isso de fato significa.

 

Diretor de Lazer e Cultura da ABI, Jesus Chediak, vice Presidente da ABI Paulo Jerônimo (Pajê), Samuel Guimarães, José Mujica, Darc Costa, Carlos Lessa e  Maria Hernandes

Diretor de Lazer e Cultura da ABI, Jesus Chediak, Vice-Presidente da ABI, Paulo Jerônimo (Pajê), Samuel Guimarães, José Mujica, Darc Costa, Carlos Lessa e Maria Hernandes

Na Casa do Jornalista

Jesus Chediak, Conselheiro e Diretor de Cultura e Lazer da ABI,  inaugurou o encontro cumprimentando o companheiro de lutas políticas:  “Esta é a sua casa porque a história da  ABI se confunde com a sua própria história. Essa entidade esteve na luta contra a Ditadura Militar, aqui começou a Petrobrás e a campanha da Diretas Já. Aqui já estiveram personalidades como  o Che Guevara, presidente Kennedy e Fidel Castro. E nesse contexto, em que a maioria no Brasil usa a política para enriquecimento próprio, ninguém vem tão a propósito como Mujica, que viveu com 10% de seu salário de presidente da república”.

O professor Carlos Lessa, ex-reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), lembrou o fato de Mujica ser, antes de tudo, um educador, e que, apesar de ter sido isolado em uma cela durante 14 anos em condições absolutamente sádicas, o  que o impediu de ter contato com pessoas, ele surpreende pela força com que saiu da prisão: “Ele é um filósofo moderno e de imensa honestidade. Na prisão ele buscou novas formas de vida. A solidão não o tornou rude, muito pelo contrário, saiu da cadeia para fazer pós-graduação e se tornar um professor, com a palavra “pacificação”, como Nelson Mandela. Descobriu essa lição: a repressão lhe deu oportunidade de ver a importância da vida. Ele é um exemplo, e nada mais pedagógico do que o exemplo”.

Paulo Jerônimo (Pajê), Samuel Guimarães, José Mujica e Darc Costa

Paulo Jerônimo, Samuel Guimarães, José Mujica e Darc Costa

Darc Costa entregou o troféu nas mãos de Mujica. Para ele, o ex-presidente representa a quebra de um paradigma, o futuro: “Mujica acredita que a América Latina é capaz de construir um novo mercado. A Federação de Câmaras de Comércio e Indústria da América do Sul criou esse prêmio como símbolo de que temos potencial econômico e político. Somos a favor de que o capital seja usado como forma de construção e não de escravização. Acreditamos na sociedade latino-americana”, finalizou.

Conhecido pela sua trajetória pessoal e política inquestionável, José Mujica foi perseguido e preso durante 14 anos pela Ditadura Militar. O ex-presidente doou 90% de seu salário de presidente da república à ONGs e às pessoas carentes. Ele liderou a discussão sobre política de descriminalização de drogas em 2013 e é querido pelo seu jeito simples e posições radicais contra a sociedade de consumo.

Entre a política nas Américas e a feijoada

Antes de seguir para a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), onde tinha na agenda um encontro com estudantes e ativistas sociais, o ex-presidente do Uruguai pediu para almoçar em um local bem popular, com uma comida tipicamente carioca.

Em companhia de seu assessor Jesus Hernandez, Pepe foi levado, por sugestão do professor Carlos Lessa, ao “Bar do José”, localizado na rua Barão de Ubá, na Tijuca.

Entre uma cerveja e outra, Mujica, acompanhado do vice-presidente da ABI, Jerônimo, do professor Carlos Lessa e William Gonçalves, professor da Uerj e diretor da Federasur, comeu rabada, de entrada, e feijoada.

Num ambiente muito descontraído, Pepe e os companheiros conversaram sobre política, e pensaram na próxima homenagem da premiação da Federasur. O ex-presidente mostrou grande conhecimento sobre os países da América Latina e defendeu a integração do bloco Sul. Os clientes do bar, ao reconhecerem de quem se tratava, começaram a conversar sobre política na América Latina e a pedir “selfies” com o ex-presidente. Comerciárias que passavam fora do estabelecimento paravam para cumprimentá-lo. Muito simpático, Mujica fazia questão de atender a todos.

De acordo com Paulo Jerônimo, Pepe também disse que a comida estava muito boa, e que aquela tinha sido a melhor feijoada que comeu em sua vida.