Por Igor Waltz*
25/07/2014
Manifestantes concentrados em frente ao Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, agrediram jornalistas que estavam no local para cobrir a soltura de três ativistas acusados de ações violentas durante protestos. Elisa Quadros Sanzi, conhecida a Sininho; Igor D’Icarahy; e Camila Jourdan, coordenadora do programa de pós-graduação em filosofia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), foram libertados por volta das 18h desta quinta-feira, 24 de julho, sob forte tumulto e brigas entre manifestantes e profissionais de imprensa.
A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) repudia tal violência contra jornalistas. A entidade, que já havia se manifestado contra as prisões dos ativistas, consideradas arbitrárias, entende que ataques contra profissionais são um passo atrás na luta pela promoção de ideais democráticos. A ABI reitera que não há democracia sem o exercício livre da imprensa.
A confusão começou quando os fotógrafos tentaram registrar imagens dos réus. No momento em que os profissionais da imprensa se aproximaram de Sininho, houve empurra-empurra, xingamentos, e as agressões começaram. A situação só teria se acalmado quando os acusados foram embora e os manifestantes saíram em vans. O cinegrafista Tiago Ramos, que presta serviço para o SBT, ficou ferido e o fotógrafo do jornal O Dia, André Mello, teve o equipamento danificado.
“Cerca de 30 manifestantes tentaram impedir que a imprensa registrasse imagens. No tumulto, além do meu equipamento atingido, um familiar avançou com o carro, quase ferindo um dos repórteres que estavam no local”, contou Mello.
Ramos foi levado para um hospital particular e passa bem. “Pensei que iam me chutar, pisar em mim. Se não fossem os colegas, não sei o que poderia acontecer”, relatou o cinegrafista, que se machucou na boca, no braço e tornozelo.
Agentes penitenciários não interferiram. Um grupo de dez servidores da Secretaria Estadual de Administração Penitenciária pôs barreiras no acesso à cancela, para proteger a entrada do complexo de Bangu.
Os três ativistas foram libertados depois da concessão de um habeas corpus na quarta-feira, dia 23, pelo desembargador Siro Darlan, da 7ª Câmara Criminal. Acusados de associação criminosa armada, eles agora vão responder em liberdade ao processo iniciado com base em investigação da Polícia Civil.
Continuam presos Caio Silva de Souza, o Dick, e Fábio Raposo Barbosa, o Fox, porque respondem a outra ação, pela morte do cinegrafista Santiago Andrade, da Rede Bandeirantes, atingido por um rojão durante um protesto na Central do Brasil, em fevereiro deste ano.
Mais de 90 jornalistas agredidos
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio de Janeiro (SJPMRJ) orientou que os profissionais agredidos durante a libertação dos ativistas registrem a ocorrência na delegacia, e ofereceu apoio jurídico aos profissionais. De acordo com levantamento feito pela entidade, 90 jornalistas foram agredidos no município desde maio do ano passado, sendo 99% dos casos em manifestações. Em 80% das situações, a ação foi praticada por policiais.
“Repudiamos qualquer tipo de violência contra jornalistas, inclusive de parentes de manifestantes. Além de extrapolar os limites do direito no que se refere às manifestações políticas, isso viola os direitos humano dos jornalistas e, na verdade, impede o exercício da profissão, fundamental para a democracia. Se estamos lutando por democracia, por direitos, precisamos compreender que o papel do jornalista é fundamental — disse Paula Máiran, presidente do sindicato.
Outras entidades
A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) manifestou repúdio à agressão ao cinegrafista Tiago Ramos. “Preocupa-nos especialmente aqueles que clamam por liberdade e se dizem atuar em nome dela, mas buscam ações para impedir a livre atuação da imprensa na investigação de fatos de interesse público. Pedimos às autoridades do Estado do Rio de Janeiro que apurem o caso e punam seus autores, a fim de que se assegure a plena liberdade de imprensa e o amplo acesso dos cidadãos a informações,” informava a nota a associação.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/RJ) e A Associação de Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Rio de Janeiro (Arfoc Rio) também emitiram notas de repúdio.
“Desde o início dos protestos na cidade, a Ordem vem condenando atos de violência de qualquer natureza, independentemente de sua origem e de quem vitima. A liberdade de imprensa é um marco pelo qual a OAB sempre lutou. Foi graças à livre expressão que o país obteve conquistas significativas para o florescimento, a manutenção e a evolução da democracia brasileira,” afirmou a nota da OAB.
“Jornalistas que cobriam a soltura dos “ativistas” presos em Gericinó, denunciados por praticar atos criminosos, foram agredidos por parentes e integrantes do mesmo grupo dos “ativistas”. Pelo menos dois repórteres fotográficos foram agredidos e tiveram seus equipamentos danificados. Exigimos que as autoridades de segurança do Rio tomem providências imediatas, instaurando inquérito policial para identificar, processar e prender os agressores,” cobrou a nota da Arfoc Rio.
*Com informações do Jornal O Globo e O Dia.