Por Igor Waltz*
20/02/2015
Vários jornalistas do jornal britânico The Daily Telegraph denunciaram a censura de notícias do veículo relacionadas a empresas e governos, especialmente relacionadas ao caso SwissLeaks/HSBC, por pressões comerciais. Os profissionais revelaram a insatisfação no programa “Newsnight”, exibido na noite de quarta-feira, 18 de fevereiro, pela BBC, pouco depois do pedido de demissão do famoso colunista de política do jornal Peter Oborne pelo mesmo motivo.
Na quarta-feira, Oborne denunciou no site Open Democracy que o jornal inglês teria impedido várias investigações jornalísticas sobre o banco HSBC, que nas duas últimas semanas foi alvo de investigações por suposto envolvimento em sonegação de impostos e lavagem de dinheiro de organizações criminosas e terroristas. Segundo Oborne, esses trabalhos nunca puderam avançar porque o banco era um dos principais anunciantes do jornal.
O colunista pediu uma investigação independente sobre a mistura de interesses jornalísticos e comerciais no jornal, que nos últimos meses retomou um acordo publicitário com o banco que tinha perdido anteriormente por notícias desfavoráveis.
De acordo com a Organização Independente para Padrões da Imprensa (IPSO), observatório independente da imprensa britânica, o The Daily Telegraph realmente publicou bem menos notícias que outros jornais sobre o escândalo do HSBC e em nenhum deles fez um trabalho de investigação.
Segundo o jornal The Guardian, o HSBC emprestou 250 milhões de libras (cerca de R$ 1,1 bilhão) aos donos do Telegraph pouco antes de a investigação pedida pelos jornalistas ter sido boicotada. O dinheiro não foi destinado diretamente ao jornal, mas sim à combalida empresa de entregas Yodel, que pertence aos irmãos Barclays, proprietários de um vasto império económico.
No programa “Newsnight” da BBC, outros jornalistas apoiaram a denúncia de Oborne e explicaram casos em que notícias tiveram de ser barradas ou modificadas para satisfazer interesses comerciais.
O grupo editor do Telegraph nega as acusações e garantiu em comunicado que “a distinção entre publicidade e a agraciada atividade editorial” do jornal “sempre foi fundamental” para a empresa. Em um editorial, o jornal diz que “não pede desculpa pela forma como acompanhou o grupo HSBC e as alegações de irregularidades praticadas pela sucursal suíça. Não aceitamos lições de jornalismo da BBC, do Guardian ou do Times”.
*Com informações da EFE e portal Observador (Portugal).