Jornalistas despedem-se de Mário Gazzaneo


15/10/2012


                           
Dezenas de jornalistas participaram neste sábado, dia 13 de outubro, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju, do velório do jornalista Luiz Mário Gazzaneo, que faleceu na véspera no Hospital  Nacional de Cardiologia, em Laranjeiras,  após uma cirurgia que se seguiu a um infarto. Paulista radicado no Rio desde 1959. Gazzaneo iniciou-se no jornalismo muito jovem,  como crítico de cinema do jornal “Notícias de Hoje”, diário do Partido Comunista Brasileiro-PCB editado em São Paulo, e trabalhou nos periódicos partidários “Voz Operária” e “Novos Rumos” e, depois do golpe militar de 1º de abril de 1964, no jornal “Folha da Semana”, primeira publicação de oposição criada após o golpe,   lançada pelo PCB em setembro de 1965 e fechada pelo Governo Castelo Branco em 13 de dezembro de 1966;   na revista “Cartaz”, da Rio Gráfica e Editora;  no “Jornal do Brasil” e em “O Globo”. Entre 2000 e 2010, dirigiu a Assessoria de Comunicação Social da Fundação IBGE.
 
Dotado de sólida e versátil cultura, com fortes conhecimentos de Filosofia, Economia Política e Literatura, Gazzaneo era também tradutor de obras estrangeiras, principalmente italianas, e teve atuação destacada, ao lado dos escritores Carlos Nelson Coutinho e Leandro Konder,  na divulgação de obras do pensador italiano Antonio Gramsci. Após o fechamento da “Folha da Semana” por portaria do então Ministro da Justiça Carlos Medeiros, trabalhou com o escritor e teatrólogo Dias Gomes na Editora Civilização Brasileira, de Ênio Silveira, de quem se tornou grande amigo.
 
Responsável pela Editoria Internacional da “Folha da Semana”, na qual colaborava com o pseudônimo de Mário Patti, como forma de descaracterizar a ligação do jornal com o PCB, foi um dos responsáveis pela publicação nesse periódico de celebrada matéria do  “L’Humanté”, diário do Partido Comunista Francês, a série de reportagens “Dois Meses com os Vietcongs”,  em que se revelava pela primeira vez a vida dos guerrilheiros que enfrentavam as tropas dos Estados Unidos  e da ditadura do Vietnã do Sul.           
 
Apaixonado pelo jornalismo e conhecido pelo entusiasmo com que festejava as matérias de repercussão no meio profissional e no conjunto da sociedade, Gazzaneo foi um dos responsáveis pela edição de histórica primeira página do “Jornal do Brasil”, a de 12 de setembro de 1973, que noticiava o golpe militar que derrubara o Presidente do Chile Salvador Allende.  Como a censura militar proibira que se noticiasse com  destaque o golpe comandado pelo General Augusto Pinochet, ele e o então editor-geral do JB, Alberto Dines,  decidiram montar a primeira página sem manchete nem qualquer outro título, mas ocupando-a com as informações sobre o golpe em tipologia destacada. Então redator da seção in ternacional do JB, coube a Gazzaneo redigir o texto da extensa chamada.
 
Gazzaneo orgulhava-se também da cobertura do JB ao episódio do atentado terrorista de 30 de abril de 1981 contra o Riocentro, onde milhares de jovens assistiam a um show de música popular organzado pelo Centro Brasil Democrático, órgão de resistência à ditadura criado pelo PCB. Gazza, como era chamado pelos companheiros, recebeu um telefonema quando deixava a Redação, no qual uma pessoa que se intitulava “porta-voz do Comando Delta” sugeriu que se mandasse um repórter para o Riocentro, porque “a coisa lá estava feia”. O JB lançou-se então a minuciosa cobertura do episódio, a qual culminou com a concessão do Prêmio Esso de 1981 ao repórter Fritz Utzeri.
 
À frente do setor de comunicação social do IBGE, Gazzaneo promoveu a abertura de informações aos profissionais do jornalismo e a pesquisadores. Seus colegas de trabalho no órgão, assim como a direção do IBGE, divulgaram um anúncio com  convite para a vigília em sua homenagem.          
 
Gazzaneo foi casado com Aparecida Gazzaneo e, posteriormente, com a jornalista Thereza Ottoni de Siqueira. Deixou cinco filhos e sete netos. Sócio da ABI desde 31 de maio de 1977, estava com 84 anos.