28/04/2023
Por Geraldo Cantarino, conselheiro da ABI
A jornalista inglesa Jan Rocha, ex-correspondente da BBC e do jornal The Guardian no Brasil, lançou na quinta-feira (27), em Londres, o livro Clamor: the search for the disappeared of the South American dictatorships. A obra, publicada pelo Latin America Bureau (LAB) e pela Practical Action Publishing, é uma versão em inglês mais compacta do livro Solidariedade não tem fronteiras: a história do grupo Clamor, que acolheu refugiados das ditaduras sul-americanas e denunciou os crimes do Plano Condor (Editora Expressão Popular, 2018).
O livro narra a história do Clamor, um grupo ecumênico de voluntários em São Paulo apoiado pela Igreja Católica e pelo Conselho Mundial de Igrejas, do qual Jan Rocha foi uma das fundadoras. Participaram também da formação do grupo, entre outros, o cardeal arcebispo de São Paulo, dom Paulo Evaristo Arns, o pastor presbiteriano Jaime Wright e o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh.
Criado em 1978 e em operação até 1991, o Clamor foi um centro de resistência e ajuda a refugiados da Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai e Bolívia, que buscavam proteção contra a violenta repressão política em seus países. “O Clamor foi uma luz de esperança e da força de um povo na sua luta pela defesa da vida e na reclamação da volta da democracia”, escreveu o artista e ativista argentino Adolfo Pérez Esquivel, vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 1980, no prefácio da edição em português.
O grupo Clamor foi uma das primeiras organizações a denunciar a existência de centros clandestinos de detenção na Argentina, que eram usados como parte do plano sistemático de desaparecimento de pessoas pela ditadura militar daquele país. Além disso, o Clamor foi pioneiro em denunciar a colaboração entre as forças de segurança das ditaduras do Cone Sul, que incluía sequestros transfronteiriços, tortura e assassinato de dissidentes. Esse esquema ficou conhecido depois como Operação Condor.
O arriscado trabalho do grupo incluiu investigações para localizar crianças desaparecidas pelas ditaduras sul-americanas, o que levou à localização das primeiras delas e contribuiu para a busca de muitas outras. Ao longo de mais de uma década, o Clamor tornou-se uma importante fonte de informação para organizações de direitos humanos, como a Anistia Internacional. Por meio de seus boletins publicados em português, espanhol e inglês, o grupo relatava casos de desaparecimentos, torturas, assassinatos e outras violações de direitos humanos, bem como informações sobre as atividades do regime militar na região.
O lançamento do livro, que lotou o auditório da Lumen, Igreja Reformada Unida & Centro Comunitário, no bairro de Bloomsbury, contou com uma apresentação da Jan Rocha e a participação de duas palestrantes: Jenny Pearce, especialista em América Latina e professora da London School of Economics (LSE), e Marcela López Levy, consultora e especialista em direitos humanos na Argentina. A mediação ficou a cargo da jornalista Sue Branford, que foi correspondente do jornal Financial Times no Brasil na década de 1970.
Fundadora da ACE, Associação dos Correspondentes Estrangeiros no Brasil, Jan Rocha ganhou em 1980 o Prêmio Vladimir Herzog por uma reportagem sobre a resistência dos mineiros bolivianos ao golpe militar. É autora de outros livros, entre eles Nossa correspondente informa: notícias da ditadura brasileira na BBC de Londres: 1973-1985 (Alameda, 2021). Atualmente, Jan Rocha tem um blog no site do Latin America Bureau, onde escreve sobre política brasileira.
SERVIÇO
O livro Clamor: the search for the disappeared of the South American dictatorships, de Jan Rocha, está disponível para venda no site da editora Practical Action Publishing.
Link: https://practicalactionpublishing.com/book/2679/clamor
Blog da Jan Rocha no site do Latin America Bureau:
Link: https://lab.org.uk/series/jan-rochas-blog/