Por omissão do atual Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e de seu antecessor, Luiz Eduardo Barreto, o jornalista e professor Antônio Idaló Neto morreu sem obter a anistia que requerera em 2001, para reparação da demissão política de que foi vítima em 1979, quando lecionava no Departamento de Comunicação da Puc-RJ. Cardozo e Barreto deixaram sem decisão o pedido de reconsideração que Idaló apresentara contra a rejeição de seu pedido de reparação pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça.
Demitido do Departamento de Comunicação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro/Puc-RJ no segundo semestre do ano letivo de 1979 e há mais de dez anos à espera do deferimento do pedido de anistia que formulou em 2002, o jornalista e professor de Comunicação Antônio Idaló Neto morreu em 13 de setembro sem encontrar a justiça que merecia, em razão de um julgamento equivocado na Comissão de Anistia e da omissão de dois Ministros da Justiça, o atual, José Eduardo Cardozo, e seu antecessor, Luiz Eduardo Barreto, que não atenderam ao pedido de reconsideração do indeferimento na Comissão por ele apresentado. Entre um e outro acidente dessa natureza, Idaló viu-se vítima também de um erro do Tribunal Federal da 1ª Região, sediado em Brasília, num processo que lá ajuizara, no qual um desembargador se referiu ao seu caso como ocorrido na Universidade de Brasilia, e não na Puc-RJ, numa indicação de que esse magistrado não leu ou fez uma leitura incorreta dos autos.
Estes dez anos foram de desesperança e acabrunhamento para Idaló, que se viu afastado do mercado de trabalho, pelo estigma que a demissão da Puc lhe impusera, e, talvez por desgosto, foi acometido por um câncer que terminou por matá-lo agora em setembro. Sua depressão só não foi maior porque ele pôde contar nestes anos todos com a solidariedade da esposa, a arquiteta Maria Elizabeth, transformada em arrimo da casa, e com o carinho do filho, de 25 anos, filho de Elizabeth e que ele criara desde os seis anos.
A longa provação de Idaló começou com a sua demissão da Puc, que em 1979 decidiu fazer uma correção de rumos políticos, deixando de ser cenário de movimentos de resistência à ditadura, na qual estudantes dos seus diferentes cursos se engajavam ao lado dos de outras faculdades e entidades estudantis do Rio. Sob o comando absolutista do então Reitor, Padre João MacDowell, a Puc promoveu vasto expurgo ideológico, demitindo quatro professores do Departamento de Comunicação (Antônio Idaló Neto, Carlos Henrique Escobar, Luiz Alberto Muniz Bandeira e Maurício Azêdo) e 32 do Departamento de Sociologia, à frente uma festejada intelectual, Professora Myriam Limoeiro. Em solidariedade com os demitidos e em defesa da liberdade de cátedra, os estudantes promoveram prolongada greve, mas o Reitor MacDowell se mostrou irredutível e recusou qualquer revisão da depuração que determinara.
Em 2001, Idaló cedeu à pressão dos companheiros que o instavam a lutar por justiça e ingressou com um requerimento na Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, pleiteando reparação pela punição política que lhe fora imposta pela Puc. Após 90 andamentos com atendimento de exigências que ele cumpriu com presteza, seu processo (número 2001.02.01752) foi submetido a julgamento em 25 de setembro de 2009 numa sessão tumultuada pela intervenção da Conselheira Suely Bellato, que divergiu da relatora, após esta manifestar-se pela concessão da anistia, e sustentou que as demissões feitas pela Puc-RJ tiveram no máximo uma motivação teológica, e não política. No clima conturbado que então se criou, um dos conselheiros pediu vista do processo. Em sessão posterior, a pétição foi indeferida por seis votos a três.
Como admitido pela legislação, Idaló formulou um Pedido de Reconsideração ao Ministro da Justiça Tarso Genro, mas este não chegou a se pronunciar sobre o pedido, que chegou ao Gabinete do Ministério da Justiça no dia em que ele se afastou do cargo para concorrer a governador do Rio Grande do Sul na eleição de novembro de 2010. Idaló e a ABI insistiram no Pedido de Reconsideração em expedientes ao Ministro Luiz Eduardo Barreto, sucessor de Tarso Genro, e ao Ministro José Eduardo Cardozo, este através de expedientes dirigidos ao Presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão Pires Júnior, a quem o Caso Idalo foi exposto também verbalmente, como se deu na 49ª. Caravana da Anistia, realizada na ABI em 30 de abril passado.
Nenhum dos expedientes de Idaló e da ABI mereceu consideração da Comissão da Anistia e dos dois Ministros da Justiça citados, que nem sequer acusaram seu recebimento.