Jornalista foi primeira vítima da Revolução Farroupilha


20/09/2024


­Por João Batista de Abreu (*)

Neste dia 20 de setembro, o Rio Grande do Sul comemora o dia da Revolução Farroupilha (1835-1840), com festas e acampamentos no centro de Porto Alegre. A tradição fala mais alto e o jornalismo atua como sempre na esteira dos acontecimentos. Vinte de setembro é o dia em que irrompeu a revolta regional contra o Governo Imperial durante a regência (1831-1840). A data – 20 de setembro – marca o início da rebelião.

De acordo com o pesquisador Juílio Cesar Soares da Silva, a data marca o início da Guerra dos Farrapos, estimulada pela elite empresarial do estado, insatisfeita com a política fiscal do Império. “O movimento lutou contra o poder imperial. Nesta época, o Rio Grande do Sul possuía um grande mercado na produção e exportação de charque (carne seca) e as queixas se referiam à cobrança de impostos realizada pelo governo. O movimento, então liderado pelo estancieiro Bento Gonçalves, espalhou-se por boa parte do território do estado.\

O pesquisador Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite, coordenador do setor de imprensa do Museu da Comunicação Hipólito José da Costa, destaca a importância dos jornais da época no campo das idéias.

“A imprensa cumpriu um papel importante na fase pré-revolucionária e durante a Revolução Farroupilha. A partir do surgimento, em junho de 1827, do primeiro jornal da Província de São Pedro – o Diário de Porto Alegre – facções políticas, como liberais moderados, restauradores (Caramurus) e liberais exaltados (Farroupilhas), passaram a expressar suas ideias por meio da imprensa da capital e do interior. Estes jornais foram o embrião do jornalismo político-partidário no Estado”.

Os jornalistas Carlos Reverbel e Elmar Bones, autores do livro “Luiz Rossetti: o Editor sem Rosto & Outros Aspectos da Imprensa no Rio Grande do Sul” (1996), contam que entre 1827 e 1850 foram lançados 98 jornais na capital e nas cidades do interior gaúcho.

Não é surpresa dizer que a primeira morte durante a Revolução Farroupilha foi a de um jornalista. Na madrugada de 20 de setembro de 1835, no combate da Ponte da Azenha, caiu ferido mortalmente Antônio José Monteiro, conhecido como “Prosódia”, responsável pelo jornal legalista O Mestre Barbeiro.

Quase 190 anos depois, o tratamento dispensado aos jornalistas agravou-se ainda mais. Em 11 meses da guerra entre Israel e o o grupo Hamas, nada menos que 146 jornalistas foram mortos na faixa de Gaza, a grande maioria vítima dos bombardeios das Forças Armadas israelenses. Mas essa é outra história que barbariza o século XXI com a omissão da mídia hegemônica internacional.

(*) Conselheiro da ABI e professor do curso de Jornalismo da UFF