01/02/2017
O repórter-fotográfico Léo Pinheiro foi detido na tarde desta terça-feira (31), no centro de São Paulo, ao fotografar a abordagem de guardas civis municipais (GCM) a uma moradora de rua, suspeita de cometer um furto na região. O jornalista foi conduzido ao 3º Distrito Policial (Campos Elíseos), onde foi arrolado, contra sua vontade, como testemunha da GCM. Ele foi liberado em seguida.
Pinheiro disse ao R7 que estava fotografando em frente ao Teatro Municipal quando notou uma moradora de rua ser abordada por agentes da GCM na rua 24 de maio. Aparentemente com problemas mentais, segundo o jornalista, ela começou a se despir na via pública. O fotógrafo decidiu então posicionar sua câmera para registrar a abordagem dos guardas.
Nesse momento, um dos agentes se aproximou e lhe pediu que parasse de fotografar. Pinheiro se apresentou como jornalista e mostrou seus documentos, mas o agente decidiu que iria levá-lo até a delegacia como testemunha do caso.
— Eu falei que só iria obrigado até a delegacia, porque não sou obrigado a ser testemunha. Ele falou que eu iria algemado, e botou a algema em um dos meus braços. Mas depois parou a ação porque a cabo que estava com ele falou que não precisava me algemar.
Durante a ação, o guarda mostrou para o repórter-fotográfico um par de sapatos que a moradora de rua era suspeita de furtar. Segundo Pinheiro, ela não sofreu abuso policial durante a abordagem.
— Eu disse [ao guarda] que não estava questionando se era roubo ou não. Eu fotografei o que eu vi. Eu fui preso por fotografar.
O jornalista foi levado até a delegacia onde, inicialmente, “iria assinar um termo circunstancial, mas acabei sendo arrolado como testemunha”.
A Arfoc-SP (Associação de Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Estado de São Paulo) emitiu nota em repúdio à condução do jornalista.
“Claramente Léo foi desrespeitado, sofreu agressão verbal, ameaça de agressão física e em nenhum momento esteve na condição de testemunha. Foi preso! O profissional foi orientado pelo delegado a aceitar a condição de testemunha e posteriormente liberado. A prefeitura municipal de São Paulo foi procurada através da secretaria de comunicação e não quis se pronunciar. Fica registrado nosso repúdio, ao desrespeito e falta de preparo da Guarda Civil Metropolitana da cidade de São Paulo. Fica registrado nosso descontentamento e solicitamos providências urgentes por parte do prefeito João Doria e seu secretário de segurança”, diz a nota.
A Secretaria de Segurança Urbana, da Prefeitura de São Paulo, informou em nota ao R7 que Pinheiro foi “conduzido normalmente” até a delegacia.
“A Secretaria de Segurança Urbana informa que houve uma ocorrência de furto, na qual a suspeita começou a se despir no local. A Guarda Civil observou uma pessoa que estava fotografando a cena e teria pedido para que fosse testemunha no caso. Foi conduzido normalmente e, na delegacia, liberado pelo delegado de plantão. Se o jornalista sofreu algum procedimento irregular, deve procurar a Corregedoria da GCM, que está à disposição para receber qualquer notificação e apta a adotar as providências que forem necessárias”, diz a nota.
Em contato com o R7, o 3º Distrito Policial afirma que no boletim de ocorrência do caso consta que “Luciana Rodrigues Alves, de 35 anos, foi presa acusada de furtar uma loja na rua 24 de maio, na República. Um funcionário da loja afirmou que por volta das 11h a mulher saiu da loja e a sirene de alerta foi acionada. O empregado passou a segui-la e no caminho encontrou com guardas civis metropolitanos, que a abordaram. Com ela, encontraram cinco pares de sandálias com os dispositivos de segurança afixados. Ela não explicou a origem dos objetos.
Segundo os guardas civis, um fotografo começou a captar imagens e acusar que a mulher estava sendo abordada arbitrariamente por não ter feito nada atrapalhando o trabalho deles.
O caso foi registrado como furto qualificado.
Diante das provas, a mulher foi presa em flagrante. O fotografo foi acionado, prestou depoimento e foi liberado”.