Por Cláudia Souza*
17/04/2015
Gao Yu, de 71 anos, foi julgada nesta sexta-feira, 17, sete meses após a suposta divulgação, a fontes do exterior, de um comunicado interno do Partido Comunista da China que ressalta os “perigos” da democracia multipartidária na China e a censura.” Após a divulgação da sentença, que prevê ainda a perca dos direitos políticos da ré por um ano, dezenas de pessoas protestaram em Hong Kong, em frente à sede do governo central chinês.
Em razão dos comentários contrários ao regime do país, Gao Yu foi presa em 2014, durante a campanha de detenções que precedeu o aniversário de 25 anos do Massacre da Praça da Paz Celestial. Na ocasião também foram detidos defensores dos direitos humanos, advogados e ativistas políticos.
Em 1989, a jornalista esteve presa durante 15 meses, pouco antes dos protestos na Praça Celestial da Paz. Em 1996, permaneceu detida durante seis anos acusada de filtrar segredos de Estado, o que, de acordo com representantes de organizações de defesa dos direitos humanos, é um argumento frequentemente usado para calar vozes dissidentes.
Subchefe da revista “Economics Weekly”, Gao Yu recebeu em 1997 o Prêmio Mundial da Liberdade da Imprensa da Unesco, em sua primeira edição. A jornalista era colaboradora de diversos vários meios de comunicação no exterior.
A revista “Minjing News”, de Hong Kong, que publicou o documento, que faria um alerta sobre a democracia ocidental e pedia o combate a influências subversivas, entre as quais a liberdade de expressão, confirmou que o texto não foi enviado pela jornalista. Em 8 de maio último, em entrevista à uma emissora de TV chinesa, Gao Yu relatou que só havia admitido a revelação do documento por ter recebido ameaças contra a vida de seu filho.
Interesses econômicos
A Anistia Internacional (AI) considerou a condenação da jornalista um ataque à liberdade de imprensa: “Esta sentença chocante contra Gao Yu não é nada mais do que uma perseguição política flagrante. Ela é vítima de uma lei arbitrária sobre segredos de Estado, utilizada para reprimir os defensores da liberdade de expressão”, disse William Nee, especialista em China da AI.
A ONG Repórteres sem Fronteiras(RSF) afirmou que “a comunidade internacional não deve dar uma carta branca a Xi Jinping em nome dos interesses econômicos que a vincula com Pequim”.
Para os Estados Unidos, a prisão da jornalista representa uma “ação inquietante” contra aqueles que questionam as políticas de governo. “Pedimos às autoridades chinesas que liberte imediatamente Gao Yu e respeite os compromissos internacionais em matéria de direitos humanos”, declarou um funcionário do Departamento de Estado à agência de notícias AFP.
*Com O Globo e AFP