Por Claudia Sanches*
17/08/2015
A repórter e acadêmica Manuela Picq Lavinas será julgada nesta segunda-feira (17/8) por permanência irregular no Equador. O visto dela foi cassado após participação em um ato contra o governo.
Detida desde a noite de quinta-feira (13) no Equador, a jornalista, 38, que tem nacionalidade francesa, é mantida pelo governo do presidente Rafael Correa em um centro de detenção para pessoas com situação imigratória irregular.
Manuela relatou à “Folha de S.Paulo” que não pode sair de um quarto e tem acesso restrito aos seus advogados. Ela disse que está um antigo hotel, onde estão imigrantes haitianos, espanhóis e argentinos em situação ilegal. Manuela é mantida sozinha e afirmou ser tratada como presa política.
A repórter e seu companheiro, o líder indígena Carlos Pérez Guartambel, foram agredidos por policiais, arrastados e retirados à força do protesto. A jornalista havia sido levada ao Ministério do Interior, mas, como estava muito machucada, foi encaminhada a um hospital da polícia.
Ela relatou que recebeu muitos golpes de cassetete na cabeça e no rosto e que até o momento não foi informada do que é acusada:
— Começaram a me interrogar e eu disse que era brasileira. Quando se deram conta de que eu era a companheira do Carlos, vi um brilho nos olhos deles, iam deportar a mulher do Carlos.
O consulado brasileiro está lhe dando apoio, afirmou, mas não evitará seu julgamento e provável deportação.
— Estão inventando uma situação criminal para me tirarem do país. Me sinto sequestrada, tudo é arbitrário e ilegal, é difícil prever o que vai acontecer nos próximos dias. O processo não é um processo jurídico, é um processo político, de discriminação política.
Protesto
A jornalista estava participando de um protesto indígena que acabou de forma violenta. A marcha da Confederação de Nacionalidades Indígenas do Equador reuniu milhares de pessoas em Quito e terminou em conflito com policiais.
Manuela, que também escreve artigos para a rede Al Jazeera e outros jornais independentes participava frequentemente dos protestos indígenas ao lado de Carlos Pérez Guartambe, principal líder da causa no país. A mídia local especula que ela tenha sido presa em retaliação, porque o namorado já sofria ameaças de prisão do governo Rafael Corrêa nos últimos meses, segundo os jornais.
*Fonte: “Folha de S.Paulo, G1
Rio de Janeiro, 14 de agosto de 2015.
Nota Oficial
A Associação Brasileira de Imprensa deplora as agressões cometidas pela Polícia Nacional do Equador contra a jornalista brasileira Manuela Lavinas Picq, na cidade de Quito, durante manifestações realizadas contra o Governo Rafael Correa, na noite de quinta-feira.
A jornalista, que trabalha como correspondente da Rede de Televisão al-Jazeera, foi espancada e presa, além de ter o passaporte, o computador e a câmera confiscados pelas autoridades policiais. Com graves hematomas no rosto, Manuela foi incialmente conduzida ao Hospital Espejo e levada em seguida para uma clínica particular. A jornalista mora há oito anos no Equador e também leciona na Universidade de San Francisco de Quito. Manuela encontra-se no momento detida em um centro de imigrantes ilegais, enquanto aguarda sua expulsão do país.
A atitude do Governo Equatoriano viola tratados diplomáticos, ignora a legislação em vigor e lembra as antigas forças de repressão política do início do século XX, quando estrangeiros considerados “indesejáveis” eram sumariamente deportados sem o devido processo legal e qualquer direito de defesa. A prisão da jornalista e professora configura um desrespeito à Liberdade de Expressão e uma afronta às garantias individuais, valores inerentes a todas as Democracias.
A ABI espera que o Ministério das Relações Exteriores convoque ao Itamaraty o Embaixador do Equador, em Brasília, para prestar esclarecimentos, garantir os direitos e a integridade física da jornalista presa no exercício da profissão.
Domingos Meirelles
Presidente da ABI