Por Igor Waltz*
13/01/2015
Jogadores do Barcelona e do Atlético de Madrid ficaram do mesmo lado por um momento, no último domingo, 11 de janeiro, antes da partida válida pelo Campeonato Espanhol, no estádio de Camp Nou. Os atletas posaram com a faixa “#Justiça para Topo”, em referência ao jornalista Jorge “Topo” López, de 38 anos, morto após uma perseguição policial em São Paulo durante a Copa do Mundo de 2014. O falecimento do argentino completou seis meses na sexta-feira, 9 de janeiro.
López era amigo pessoal do jogador do Barcelona Lionel Messi e do técnico do Atlético Diego Simeone. Os jogadores das equipes espanholas fizeram coro a outros atletas e ex-atletas, como Maradona, D’Alessandro e Diego Forlan, que também manifestaram sua indignação por meio das redes sociais. O repórter, que trabalhava para a rádio “La Red” e o jornal Olé, da Argentina, e o jornal Sport, da Espanha, na cobertura do Mundial, morreu após o táxi onde se encontrava ser atingido por um veículo dirigido por bandidos que fugiam da Polícia Militar.
O acidente ocorreu no cruzamento da Avenida Tiradentes e a Rua Barão de Mauá, no centro de Guarulhos, por volta das 1h30 (de Brasília) do dia 9 de julho de 2014. Após o choque, o táxi rodou e se chocou contra um poste. Com o impacto, o jornalista argentino, que estava no banco traseiro, foi arremessado para fora e morreu na hora.
O jornalista estava no Brasil com a família, a também jornalista esportiva Verónica Brunati, que cobria o evento para o jornal espanhol Marca, a filha de três anos e o filho, que completou cinco no dia da sua morte. A repórter reclama do total descaso por parte do Estado brasileiro e exige ser indenizada.
“Sinto muita dor. Os brasileiros nos trataram de forma espetacular durante a Copa, viajei de férias com meus filhos, não foi a primeira vez que fiquei no Brasil. Mas sinto muita dor pela ignorância, o desprezo, a pouca cordialidade dos brasileiros. Fui com minha família sonhando em desfrutar a Copa, era uma festa para nós e voltei com meu marido em um caixão. Nem mesmo os colegas da imprensa brasileira tenham se manifestado”, conta Verónica.
Ela conta que estava hospedada a poucos metros do local do ocorrido, mas foi completamente ignorada pelas autoridades. “A polícia nunca entrou em contato comigo, sequer me comunicaram ou tentaram falar com meus familiares ou colegas. Nem comunicaram à embaixada argentina ou nos ajudaram a encontrar o corpo, simplesmente nos acompanharam para retirar os pertences.”
Além do tratamento das autoridades brasileiras — de segurança e do futebol; a CBF não enviou condolências —, Verónica pede esclarecimentos em relação à ação dos policiais durante a perseguição aos bandidos, que teria sido imprudente.
Como não tem condições de tocar sua empreitada do Brasil e tampouco de arcar com os custos de um advogado no país, a jornalista contou com ajuda de um tradicional clube argentino, o River Plate, para pagar os honorários do advogado Carlo Muller.
“Existe uma ação criminal contra as pessoas envolvidas no acidente, eles roubaram um carro, estão respondendo por roubo e homicídio, estamos acompanhando. Ainda não existe ação civil, mas também estamos preparando as medidas legais cabíveis para pedir indenização do governo do estado por imprudência, negligência dos policias. Questionamos a forma pela qual se deu a perseguição policial, era véspera de semifinal de Copa, em local com grande aglomeração da torcida argentina. No mundo inteiro existem normas de perseguição policial de segurança para evitar que acidentes ocorram. Pelo que apuramos e por depoimento da polícia, eles estavam em altíssima velocidade, sem se preocupar com transeuntes. ‘Topo’ morreu na hora”, acusa Muller.
A Fifa pode ser outra parte acionada no processo, já que vigorava no país uma lei especial referente à própria entidade durante a disputa do Mundial. A segurança é um dever do estado, lembra o advogado. Verónica acredita que a polícia ignora seu drama porque “sabe que foi responsável pelo que aconteceu.”
“Colocaram em perigo a vida dos jornalistas e dos turistas, Guarulhos era a base dos argentinos, havia mais de cem mil pessoas. A rua estava cheia de gente naquele dia, os argentinos estavam comemorando a eliminação do Brasil – para a Alemanha. É incrível que a policia tenha agido da maneira que agiu.”
Leia na íntegra a nota publicada pelo Barcelona nesta terça:
Jogadores do FC Barcelona e do Atlético de Madrid aderiram à campanha #JusticiaParaTopo no último domingo, no Camp Nou. Ambas as equipes mostraram o seu apoio ao jornalista argentino Jorge López, falecido durante a Copa do Mundo da FIFA 2014, disputada no Brasil. A ação conjunta dos clubes está tendo uma grande repercussão tanto nos meios de comunicação como nas redes sociais.
Antes do início da partida, os jogadores das duas equipes fizeram uma foto com um cartaz com a etiqueta #JusticiaparaTopo, criada por Verónica Brunati, viúva do jornalista. O objetivo dessa campanha seria reivindicar que a morte de Jorge López seja considerada um homicídio e não um acidente por parte das autoridades brasileiras.
Desse modo, a iniciativa vista no Camp Nou acumula na última semana mais de 13 mil menções no Twitter e mais de 600 notícias na imprensa digital e escrita. Além disso, foi uma das informações mais comentadas nas TV’s e Rádios que transmitiram a partida.
Jorge López, que se encontrava cobrindo a Copa do Mundo do Brasil, faleceu quando o táxi em que se encontrava foi atingido por um veículo roubado por delinquentes que fugiam da polícia no município de Guarulhos (São Paulo).
Além da fotografia feita antes do jogo, Verónica Brunati foi recebida pelo presidente do FC Barcelona, Josep Maria Bartomeu e pelo seu homólogo no Atlético de Madrid, Enrique Cerezo. Por último, assistiu a partida com seus dois filhos.
*Com informações da ESPN e do jornal Clarín (Argentina).