Por Cláudia Souza*
30/08/2013
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Norte (Sindjorn) divulgou nota lamentando a “postura equivocada, e falta de zelo e de respeito”, da jornalista potiguar Micheline Borges, que postou um comentário em sua página pessoal no Facebook nesta terça, 27, sobre a aparência de médicos cubanos que chegam ao Brasil para atuar em cidades indicadas através do programa Mais Médicos, do Governo Federal.
“Me perdoem se for preconceito, mas essas médicas cubanas tem uma Cara de empregada doméstica. Será que São médicas Mesmo? Afe que terrível. Médico, geralmente, tem postura, tem cara de médico, se impõe a partir da aparência…Coitada da nossa população. Será que eles entendem de dengue? Febre amarela? Deus proteja o nosso povo! (sic)”, diz a mensagem publicada por Micheline Borges.
A declaração foi reproduzida nas redes sociais por diversas pessoas que criticaram a postura da jornalista.
— Se eu chegar numa consulta e encontrar um médico com cara de acabado ou num escritório de advocacia e o advogado mal vestido vou embora, afirmou Micheline Borges antes de encerrar a conta no Facebook.
De acordo com o jornal Tribuna do Norte, ao perceber o avanço da polêmica, Micheline alegou ter sido mal interpretada, e garantiu não ser preconceituosa:
—Não agi, de forma nenhuma, com preconceito. Não tenho preconceito com ninguém. Só acho que a aparência conta, sim. Que é algo importante.
Devido à repercussão negativa, Micheline decidiu permanecer longe das redes sociais: — Vou deixar do jeito que está (sem redes sociais) porque as pessoas não aceitam o contraditório. Você não tem o direito de expressar a sua opinião, que logo vêm as críticas.
Em entrevista ao G1, a jornalista se desculpou pelas declarações:
— Foi um comentário infeliz, só gostaria de pedir desculpas, fiquei muito angustiada. Ganhou uma proporção muito grande nas redes sociais, onde as pessoas interpretam do jeito que querem. Não tenho preconceito com ninguém, não quis atingir ninguém, nem ferir a imagem nem a profissão de ninguém.
Discriminação
O Sindicato dos Empregados Domésticos do Rio Grande do Norte informou que pretende entrar com uma ação contra Micheline Borges por danos morais e racismo, além de pedir uma retratação.
De acordo com Israel Fernandes, presidente da entidade, a jornalista deve ser responsabilizada.
— Em pleno século 21 é um absurdo uma pessoa ainda ter esse tipo de pensamento. Não acredito que essa moça seja jornalista mesmo. É racismo, discriminação, é crime. E vai responder por esses crimes. Ela deveria trabalhar uma vez como doméstica para aprender a ter dignidade.
A Federação das Empregadas e Trabalhadores Domésticos de São Paulo também exige a retratação formal da jornalista e promete entrar na Justiça.
— Somente na cabeça retrógrada e preconceituosa dessa pessoa existe demérito em se parecer com uma empregada doméstica, uma profissão honrada, diz a nota divulgada pela federação,
A Casa de Amizade Brasil-Cuba Associação Cultural José Marti do Rio Grande do Norte manifestou repúdio ao episódio, através de seu presidente, o sociólogo Olavo Queiroz.
— Lamentamos que o Brasil tenha profissionais de mídia como ela. Há muita desinformação.
Leia abaixo a nota do Sindjorn:
“O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio Grande do Norte defende irrestritamente o jornalismo responsável e o exercício livre da profissão. Priorizamos nossa atuação na vigilância constante a toda e qualquer tentativa de cercear o direito de imprensa e de opinião. Todavia, não podemos admitir nenhum tipo de preconceito, muito menos partindo de colegas.
O Sindjorn lamenta a postura equivocada, a falta de zelo e respeito da jornalista Micheline Borges no caso envolvendo as médicas cubanas. Também prestamos nossa solidariedade a estas profissionais, bem como às empregadas domésticas. Todo trabalhador merece respeito, independente da classe.
A diretoria do Sindicato dos Jornalistas Profissionais”
Leia abaixo a nota da Federação das Empregadas e Trabalhadores Domésticos de São Paulo:
A Federação das Domésticas vem a público demonstrar sua indignação com a matéria divulgada em rede social pela Jornalista Micheline Borges que tratou de forma desrespeitosa a Categoria das Domésticas, a Categoria dos Médicos e o povo cubano!
Somente na cabeça retrógada e preconceituosa dessa pessoa existe demérito em se parecer com uma empregada doméstica, uma profissão honrada!
A Federação deixa claro que irá tomar as medidas judiciais cabíveis para obter uma retratação formal da Senhora Micheline Borges.
Chega de sermos tratadas como cidadãs de segunda classe!
Exigimos respeito, somos mais de sete milhões de Empregadas e não vamos mais nos calar!
Camila Ferrari,
Assistente Jurídico da Federação das Empregadas e Trabalhadores Domésticos de São Paulo.”
*Com informações do jornal Tribuna do Norte, portal G1, e Sindjorn.