26/11/2009
Museu Villa-Lobos |
Villa-Lobos e Getúlio Vargas |
O cinqüentenário de morte do maestro Heitor Vila-Lobos (1887-1959), um dos mais importantes nomes da história da música nacional, está sendo marcado por eventos em todo o Brasil e na França, onde Vila-Lobos residiu na década de 20. O Rio de Janeiro, cidade natal do maior compositor das Américas, é palco de uma série de homenagens, com destaque para a exposição “Viva Vila!”, a maior já realizada sobre a vida e a obra do maestro, em cartaz no Arquivo Nacional, até o dia 5 de janeiro.
Com curadoria de Fabiano Canosa, a mostra pretende aproximar o público do contexto histórico da música no Brasil e no mundo, através da trajetória genial de Vila-Lobos, que une o erudito e o popular.
Produzido com linguagem multimídia, o evento recebeu o apoio de instituições nacionais e estrangeiras, como o Museu Vila-Lobos (RJ), Library of Congress (Washington), Richard Rodgers Library, Spanish Institute, New York Public Library (New York), Bibliotheque Nationale (Paris), Accademia Nazionale di Santa Cecília, Cinemateca de Praga.
A primeira parte de “Viva Vila!” abrange a trajetória do maestro no Brasil, em Paris (anos 20) e nos Estados Unidos, iniciando no século XIX e seguindo até a primeira metade do século XX. Painéis de textos, cartazes, pinturas, capas de discos, partituras, instrumentos musicais e objetos pessoais de Vila-Lobos ambientam o cenário, com destaque para a reprodução da sala de sua casa, o Cinema Odeon, o Teatro Recreio e a Confeitaria Colombo, locais onde Vila-Lobos ganhava a vida tocando choro. Também estão retratados as apresentações na Semana de Arte Moderna, o concerto em São Januário —que reuniu cerca de 40 mil crianças durante o Estado Novo de Getulio Vargas e o desfile carnavalesco do Sôdade do Cordão, bloco criado pelo maestro, que arrastava multidões pelas ruas do Centro do Rio.
Na segunda parte da mostra o visitante encontra a reprodução de um trem com cinco vagões (Sertão, Paris, Anos 30/40, Amazônia e Américas) representando o“Trenzinho Caipira”, uma das mais conhecidas composições do maestro, parte integrante da peça Bachianas Brasileiras nº 2. O objetivo da ambientação é resgatar a trajetória musical de Vila-Lobos.
Crianças
Museu Villa-Lobos |
Concentração orfeônica no campo do Vasco em 1942 |
A terceira parte da exposição resgata o amor do maestro pelas crianças. Ele adaptou melodias infantis, muitas delas baseadas em cantigas de roda, que chegaram a ganhar a interpretação de grandes cantoras líricas. Vale lembrar que Vila-Lobos criou o projeto “Canto Orfeônico”, introdutor da educação musical nas escolas e que resultou na formação de diversos corais infantis e apresentações apoteóticas, como a que reuniu cerca de 40 mil crianças no estádio São Januário. Figuras do folclore nacional e reproduções ampliadas de brinquedos artesanais ilustram este ambiente temático, no qual monitores recebem o público infantil para atividades com computadores, instrumentos musicais e confecção de brinquedos artesanais, uma das paixões de Vila-Lobos, que adorava fabricar pipas.
Ainda na infância, Vila-Lobos recebeu o apelido de “tuhú” por gostar de imitar o barulho dos trens. O espaço denominado “Tuhú eterno” reúne entrevistas, depoimentos, fotos e registros sonoros sobre a herança musical de Vila-Lobos renovada no talento de artistas como Tom Jobim, Edu Lobo, Nelson Freire, Turíbio Santos, Raphael Rabello, entre outros.
O setor audiovisual também foi fortemente influenciado pela obra de Vila-Lobos, como revela o espaço “Vila e o cinema”, parte da mostra no qual são exibidos filmes que incluíram composições do maestro no roteiro, como “Descobrimento do Brasil”, de Humberto Mauro — com trilha sonora assinada por Vila-Lobos —, “Deus e o Diabo na Terra do Sol” e “Terra em Transe”, de Glauber Rocha; “Macunaíma”, de Joaquim Pedro de Andrade, “Arraial do Cabo”, de Paulo Cesar Sarraceni; “Menino de Engenho”, de Walter Lima Jr, a cinebiografia “Vila-Lobos”, de Zelito Vianna, além de documentários dedicados à vida e à obra do compositor.
O projeto “Vila in concert” complementa a mostra com espetáculos gratuitos de música, teatro e dança, às terças-feiras, às 18h30, até o dia 15 de dezembro, em palco coberto, com capacidade para duas mil pessoas.
O Centro Cultural Banco do Brasil também homenageia os 50 anos de morte de Vila-Lobos com a série de concertos “Vila-Lobos: Serestas, choros e crianças”, que destaca a paixão do maestro e compositor pelo violão, a música popular e as crianças. Participam das récitas, em cartaz até o dia 15 de dezembro, às terças-feiras, Turibio Santos, diretor artístico do evento, Fábio Zanon, Trio Madeira Brasil, Orquestra do Projeto ‘Vila-Lobos e as Crianças’, sob a regência de Sérgio Barboza, entre outros.
Paris
As celebrações acontecem ainda na capital francesa — onde Vila-Lobos viveu nos anos 20 —, como as apresentações da “Missa de São Sebastião”, na Igreja de Saint-Louis des Invalides e da ópera “Yerma”, no Grand Salon des Invalides, no qual, no próximo dia 30, o violonista Fabio Zanon executará obras do maestro para violão.
Vila-Lobos também será o destaque da Radio France entre os dias 11 e 13 de dezembro, com recitais do violonista Yamandu Costa e da pianista Cristine Ortiz, acompanhados pelo violoncelista Antonio Meneses, e da pianista Sonia Rubinsky consagrado ao chorinho. No repertório, “Quinteto em forma de choro”, “Choros nº 5 (Alma Brasileira)”, peça para cavaquinho e violão, e “Lenda do caboclo”. Também no dia 11 de dezembro, a Orquestra Nacional da França (ONF) vai apresentar as “Bachianas Brasileiras” e “Danças africanas”. Nos dias 14 e 15 de dezembro, a Universidade de Sorbonne sediará um colóquio sobre o compositor.
ABI
Acervo ABI |
Vila-Lobos na ABI |
Em meados da década de 1930 Vila-Lobos residiu no Centro do Rio de Janeiro, no número 145 da Avenida Graça Aranha. A fachada do prédio ostenta ainda hoje a placa que celebra a presença do morador ilustre. A mensagem esmaecida pelo tempo ainda revela os seguintes dizeres: “Edifício onde passou a residir desde 1936, em segundas núpcias, o maestro Heitor Vila-Lobos, compositor que deu ao Brasil voz de destaque no concerto das Nações Unidas”.
O músico era freqüentador assíduo do edifício-sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), na Rua Araújo Porto Alegre, próximo de sua residência. No espaço de lazer da entidade, localizado no 11º andar, Vila-Lobos costumava jogar animadas partidas de bilhar francês e se reunia com amigos. Em sua homenagem o local foi batizado “Salão Heitor Vila-Lobos”.