31/03/2021
O programa Memória Musical – ABI, traz novas e curiosas histórias de sambistas. Hoje, a partir das 19h30, no canal da Associação Brasileira de Imprensa do YouTube, o jornalista, produtor cultural e membro da Comissão de Cultura da ABI, Paulo Figueiredo bate um papo com as filhas de dois compositores portelenses: Monica Trepte, cantora, professora e contadora de histórias fala de seu pai, o Casquinha da Portela; e a cantora, professora e Relações Públicas, Eliane Duarte, relembra histórias do seu, Mauro Duarte.
CASQUINHA
Casquinha, o apelido do compositor Oto Enrique Trepte, nasceu em 1º de dezembro de 1922, no subúrbio de Oswaldo Cruz, no Rio, onde desde cedo teve contato com o samba. Inicialmente, compôs para um bloco carnavalesco do bairro e, aos 26 anos, ingressou na Ala dos Compositores do Grêmio Recreativo e Escola de Samba Portela. Foi pintor de paredes e contínuo de banco, mas também tocava vários instrumentos de percussão, destacando-se no tamborim e no surdo.
Recado se tornou uma das composições mais conhecidas de Casquinha, uma parceria com Paulinho da Viola, que ao chegar pela primeira vez na Portela cantou a primeira parte para Casquinha, que, em seguida, respondeu em um improviso, criando a segunda parte do samba. Essa parceria marcou a entrada de Paulinho da Viola na Portela. Outro sucesso foi a Chuva Cai parceria com o também portelense Argemiro Patrocínio, lançado por Beth Carvalho, em 1980.
Outros sucessos foram Maria Sambamba ,incluída por João Nogueira em seu primeiro disco solo, de 1972; Gorjear da Passarada, também com Argemiro, lançado por Beth Carvalho, em 1981; e O Ideal é Competir, parceria com Candeia que Paulinho da Viola gravou em 1996. Na tradição do partido-alto, que honrava com suas improvisações, Zeca Pagodinho gravou Coroa Avançada.
Pode-se dizer que Casquinha passou a criar sambas por acaso. Candeia gostou da voz dele e pediu a Ventura, liderança da Portela, que o deixasse entrar na ala dos compositores. O teste era mostrar dois sambas. Casquinha, que nunca fizera nenhum, produziu os dois – um deles com Candeia – e foi aceito. Isso foi no final da década de 1940. Seu maior momento na ala de compositores aconteceu no Carnaval de 1959, quando a escola foi campeã com o enredo Brasil,Pantheon de Glórias. O samba era dele, de Candeia, Valdir 59, Altair Prego e Bubu.
Nos anos 1960, fez parte do grupo Os Mensageiros do Samba com, entre outros, Candeia, Picolino e Arlindo (pai de Arlindo Cruz).Tocou surdo no primeiro disco da Velha Guarda da Portela, de 1970, e depois passou a integrá-la. No CD, Tudo Azul (1999), produzido por Marisa Monte, ele interpretou seus sambas Vem, Amor e Falsas Juras, outra parceria com Candeia. Seu primeiro disco solo foi realizado apenas em 2001, com produção de Moacyr Luz.
Em 2014, foi reverenciado no DVD Casquinha da Portela – O Samba Não Tem Cor, com participações de Zeca Pagodinho e outros. Morreu, no Rio, aos 95 anos, em 2 de outubro de 2018.
MAURO DUARTE
O mineiro Mauro Duarte, nascido em Matias Barbosa em 2 de junho de 1930, tornou-se carioca desde os três anos e é dos principais representantes do chamado “samba de Botafogo”, o time musical do bairro da Zona Sul que contou com Walter Alfaiate e outros, sendo Paulinho da Viola o nome mais célebre. Mauro compôs inúmeros sambas para os blocos do bairro de Botafogo como os Foliões, Gaviões, Estrela e Barbas.
Muito admirado entre os sambistas, Mauro não é lembrado pelo grande público, mas várias de suas criações são, especialmente as gravadas por Clara Nunes. Seis delas abrem o repertório da cantora e ainda há quatro faixas com Paulinho da Viola e três com Cristina Buarque, a maior conhecedora de sua obra. A voz do próprio Bolacha (o apelido surgiu por causa de seu rosto redondo) está em três gravações. Seu parceiro mais frequente foi Paulo César Pinheiro, mas Mauro, bom em tom menor e em tom maior, também era um craque nas letras. Ele morreu no Rio, dia 26 de agosto de 1989, aos 69 anos.