06/06/2023
Por Maria Luiza Busse, diretora de Cultura da ABI
No prédio que já foi o hospício em que ficou internado e depois passou à então Universidade do Brasil, hoje UFRJ, o escritor e jornalista Afonso Henriques Lima Barreto recebeu o título póstumo de Doutor Honoris Causa do Conselho da Universidade Federal do Rio de Janeiro, órgão máximo deliberativo da centenária instituição. Ocasião oportuna para voltar ao livro que revela um Lima socialista em passagens de sua obra que sempre afirmou o combate e nunca fugiu ao debate sobre as mazelas sociais, políticas e econômicas que atravessou na sua curta vida de 41 anos.
Lima Barreto Socialista
No livro organizado pelo jornalista e editor Worney Almeida de Souza, os escritos de Lima selecionados vão de 1906 a 1922, ano do falecimento do autor vítima de ataque cardíaco. São 15 crônicas completas, seis extratos de texto e dez citações sobre anarquismo, maximalismo, e a Revolução Russa com seus principais atores. De acordo com o critério da pesquisa a publicação é intensificada “a partir de 1917, justamente durante o conturbado e tortuoso período do final da I Guerra Mundial, da deflagração da Revolução Russa e da influência crescente entre os operários e militantes brasileiros das filosofias anarquistas e marxistas. Lima Barreto sofre o impacto da roda histórica e suas letras traduzem os acontecimentos e demonstram sua simpatia pela transformação social e econômica que acontecia na Europa e como poderia ser implantada no Brasil”.
No artigo ‘No ajuste de contas’, Lima Barreto inspirado nos ventos revolucionários propõe que algumas medidas sejam colocadas em prática no Brasil: supressão da dívida interna, confisco dos bens das ordens religiosas, sobretudo as militantes, e estabelecimento do divorcio completo e sumário. E em 1917 escreve ‘Manifesto Maximalista’ em que defende a causa socialista. Editora Autonomia Literária.
Junho de 2013: a rebelião fantasma
Este mês faz 10 anos das manifestações que ocorreram no Brasil e ainda são um debate em aberto sobre se foram o ovo da serpente que deu no fascismo ou a explosão da luta de classes. Essa interrogação é a jornada do livro que chega hoje às livrarias. São nove artigos de diferentes autores, com fotos de Maikon Nery, organizados pelo jornalista Breno Altman e Maria Carlotto, cientista social e professora da Universidade Federal do ABC.
Naquele 20013 de um Brasil com taxa de crescimento em alta, emprego e economia próspera, massas tomaram as ruas das principais cidades negando os partidos, a política e contra “tudo o que está aí”. O que seria mais um ato de protesto do Movimento Passe Livre por causa do aumento das passagens de ônibus se transformou em uma insurgência que sacudiu o país.
Entender o que teve início no dia 13 de junho se tornou um dilema para estudiosos e agentes políticos. Além dos textos de Breno e Cartollo, participam da coletânea
Camila Rocha, Jones Manoel, Lucas Monteiro, Mateus Mendes, Paula Nunes, Raquel Rolnik, Roberto Andrés e Vladimir Safatle. Com diferentes perspectivas, os textos buscam desvendar o que foi aquele momento que se tornou uma das maiores ondas de mobilização social dos últimos anos. O prólogo é da ex-presidente Dilma Rousseff.
Segue trecho da visão do cientista social e professor Vladimir Safatle: “Talvez fosse o caso de começar afirmando que 2013 foi o último ano da história da esquerda brasileira e de suas estruturas hegemônicas. Essa revolta popular ressoa ainda como uma espécie de acontecimento não integrado, com uma rede de potencialidades que continua a nos assombrar de forma espectral. O que ocorreu depois de 2013 foi uma lenta e contínua degradação marcada pela atrofia da capacidade de ação e da imaginação política da esquerda brasileira em seus múltiplos partidos, em seus sindicatos e em seus movimentos sociais. Depois de 2013, a esquerda brasileira tornou-se basicamente uma força reativa que responde desesperadamente à capacidade de constituir agenda política e pautar mobilização popular da extrema direita”. Editora Boitempo.
Dom Phillips, presente em livro
O livro sobre a Amazonia que o jornalista inglês Dom Phillips não pode terminar será concluído por quatro colegas de profissão. Há um ano, no dia 5 de junho, Dom Phillips foi assassinado junto com o indigenista Bruno Pereira no Vale do Javari, região amazônica fronteira com Peru e Colômbia. Os jornalistas Jon Lee Anderson, Tom Phillips, Jonathan Watts e Andrew Fishman vão trabalhar com as notas e entrevistas deixadas por Dom e também viajarão à Amazonia para pesquisa de campo. O livro deve se chamar ‘Como salvar a Amazonia :pergunte a quem sabe’ (How to save the Amazon: ask the people who know), e está em fase de arrecadação de fundos para ser editado pela Bonnier Book.