Hoje é Dia de Livro

Por Maria Luiza Busse, diretora de Cultura da ABI

O fascismo na cor – Uma radiografia do racismo nacional

O fascismo sempre teve a cor do outro como alvo de suas práticas atrozes. O movimento agora retorna com força e o século XXI precisa de instrumental teórico para potencializar a sensibilidade e combater esse filho do liberalismo que emerge nas crises do capitalismo. É o que Muniz Sodré oferece neste novo livro.

O livro do professor e jornalista Muniz Sodré trata da questão racial neste século XXI que agora se mostra como acontecimento transnacional, razão pela qual a precedente e usual caracterização como ‘superestrutural’ já “não basta para delimitar o alcance conceitual do racismo”. De um lado”, justifica, “o fenómeno reflete um aspecto do turbocapitalismo financeiro que enfatiza a preocupação corporativa com a redefinição da ‘ambiência’ social (desde a preservação física do meio ambiente até as barreiras de cor e de gênero). De outro, um giro nos direcionamentos epistemológicos centrados nas coordenadas espaciais do Estado-nação”.

No prólogo, o intelectual público que formou gerações tanto na universidade quanto nos meios de comunicação, destaca que o racismo “irrompe no mundo como um tópico de primeiro plano e não mais como mera ‘contradição secundária’ conforme diagnosticava uma histórica linha de pensamento, segundo a qual a relação de classe, principalmente aferida pela estrutura socioeconômica, esgotaria as relações caracterizadas como’ raciais’”. Muniz aponta que mesmo o pensador referência de movimentos negros, Frantz Fanon, primeiro admitia que “o racismo não passa de um elemento de um todo maior: o da opressão sistematizada de um povo”, para então introduzir a pergunta sobre como se comporta particularmente um povo que oprime”.

Em meio às 194 páginas, o trabalho chama atenção para o fato desse novo lugar provocar na Europa, por exemplo, o “fortalecimento da direita ultranacionalista e extremista, com ênfase nas velhas obsessões antissemitas e antinegras, concomitante à agonia das percepções universalistas e das dicotomias que moldaram o sistema mundo do passado”. “Isso é ainda mais nítido nos Estados Unidos”, salienta, “onde, após a tumultuada transição do Governo Donald Trump para o de Joe Biden (2021), elites intelectuais e colunistas de imprensa referiam-se, pela primeira vez, ao “supremacismo branco” como uma ameaça à democracia”.

Mais uma vez, como de hábito em sua vasta, necessária e potente obra, Muniz Sodré bota em debate um tema durante muitos anos asfixiado por correntes ideológicas de diferentes matizes, mas que nunca deixou de estar presente nas realidades coletivas e individuais de muitos cantos do planeta. Editora Vozes

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