07/03/2023
Alegria é combustível para a democracia brasileira e marchinha de Lamartine Babo é inspiração para jornalista escrever sobre a história política do Brasil.
Brasil: A nação carnavalesca
Por Júlia de Arruda Figueiredo
Logo no início deste novo livro, o autor Júlio Lopes defende a vocação carnavalesca da sociedade brasileira, afirmando que, de tão intensa, se torna uma alegria competitiva. Ou seja, há uma competição sobre quem consegue alegrar mais os outros indivíduos. Isto significa que os brasileiros em geral têm o potencial social de alegrar.
Júlio Lopes enxerga o carnaval além de uma data no calendário. Para ele, é algo tão intrínseco ao nosso povo que se fosse associado a políticas públicas eficientes poderia transformar nossa sociedade em um local “mais democrático, com empoderamento feminino, inclusão negreira, embelezamento cotidiano […] e cidadania aberta à diversidade humana”.
Para correlacionar o papel do empoderamento feminino, o autor entrevista duas rainhas de bateria: Evelyn Bastos, da Estação Primeira de Mangueira, e Flávia Lyra, da Imperatriz Leopoldinense.
Evelyn destaca que o desfile é o momento em que “o mundo para pra ver preto e pobre festejando” e entende que seu papel como rainha de bateria é estimular formação e autoestima comunitária, além de apoiar projetos de populações que sofrem de precariedade socioeconômica, assim retribuindo o que foi recebido por ela.
Flávia Lyra que é capitã do Corpo de Bombeiros Militares do Estado do Rio de Janeiro cita alguns preconceitos na vida profissional e o bônus ganho na própria instituição como ser condecorada com medalha por divulgar a corporação. Como rainha de bateria, Flavia defende a responsabilidade de mostrar a importância do estudo, trabalho e independência feminina.
Ao adentrar na organização da escola de samba, Júlio ressalta que o desfile é o único fenômeno cultural onde podem ser encontradas quatro dimensões essenciais: letras- pelo enredo, artes
musicais, plásticas, cênicas, arquitetônicas e moda, memórias coletivas, resgatando acontecimentos historicamente relevantes, e celebrações comunitárias, o que solidifica o grupo local de tradição sambista.
Para corroborar a afirmação, traz o depoimento de Walter Honorário, veterano do carnaval carioca com experiência em composição de sambas-enredo, organização interna e relações institucionais das escolas de samba. Ele enxerga o carnaval como uma mutação, com o barracão sendo uma larva e que chega na avenida sendo a mais bela borboleta.
Quando o assunto é bloco de rua o autor distingue que são desfiles organizados por meio de três formas: por participação direta de foliões, especialmente em oficinas de percussão, por diretorias representativas, e por diálogo social entre comunidades, empresas patrocinadoras e músicos do amador ao profissional. Desta forma, define os blocos de rua como reuniões festivas por afinidades identitárias específicas, em bases comunitárias. Júlio conversa com Hugo Camarate, idealizador do bloco Vagalume Verde, que tem como foco a temática ambiental e os resíduos pós bloco no meio ambiente.
No capítulo sobre “Diversidade humana como centralidade brasileira”, Júlio documenta a formação brasileira discorrendo sobre a colonização portuguesa, genocídio indígena, escambo contínuo e regime escravagista de negros africanos.
Mesmo expondo que a violência sexual foi um dos fatores decisivos para a mistura racial, o pesquisador reconhece no tripé interétnico brasileiro, formado por europeu, povos originários e africanos, a matriz da sociedade carnavalesca. Como exemplo, a reunião de brincadeiras ameríndias, com o entrudo e procissões portuguesas, e as tradições e danças africanas, confluíram para os desfiles de carnaval.
O último capítulo traz um glossário carnavalesco brasileiro que lembra o “Dicionário da história social do samba”, livro de Luiz Antônio Simas e Nei Lopes, importante e sempre oportuno material de consulta. Editora Lisbon Press. Lisboa/São Paulo.
Foi Seu Cabral?
O ex-ministro e jornalista Franklin Martins promoverá em São Paulo o lançamento do novo livro de sua série “Quem Foi que Inventou o Brasil?”, em que revisita a história do país por meio da música. Enumerada como volume zero, a obra sucede três edições que se dedicaram ao período entre 1902 e 2002.
Com 614 páginas, a publicação traz o subtítulo “A Música Conta a História do Império e do Começo da República (1822-1906)” e se propõe a mostrar que “a invenção do Brasil pela música” é muito mais antiga do que se pensa. Cerca de 300 faixas compostas no período foram reunidas pelo autor e disponibilizadas em um site —a maioria delas, gravada pela primeira vez justamente por causa do livro.
O lançamento será na livraria Patuscada (Rua Luís Murat, 40 – Vila Madalena), em São Paulo, na próxima quinta-feira (9), a partir das 19h.