17/11/2022
Por Érika Werneck, conselheira da ABI
Deus ajude essa criança, de autoria de Toni Morrison, primeira escritora negra a receber o Nobel de Literatura, em 1993, mostra, com maestria, como o racismo na infância e um trauma antigo vivido por alguém podem causar uma tragédia na vida de outrem.
Lançado em 2015, nos EUA, e publicado, no Brasil, em 2018, um ano antes da morte de Toni Morrison, aos 88 anos de idade, Deus ajude essa criança, narra a trajetória de Lula Ann Bridewell – Bride, como prefere ser chamada – uma jovem negra rejeitada pelos pais desde seu nascimento. “Não levou mais de uma hora depois que tiraram a criança do meio das minhas pernas pra perceberem que tinha alguma coisa errada. Muito errada. Ela era tão preta que me assustou”, diz Mel, a mãe de Bride, de pele mais clara, logo abandonada pelo marido, que a culpa pela cor da filha. Mel é incapaz de dar amor e afeto à filha, mas ao mesmo tempo preocupa-se com o futuro de Bride, o que se evidencia ao dizer: “A cor dela é uma cruz que ela vai carregar pra sempre”.
Ainda criança, Bride tenta conquistar o amor da mãe ao contar uma mentira que levou à prisão uma mulher inocente. Da mãe recebe, então, o primeiro e único beijo.
O tempo passa, e Bride, então uma mulher empoderada, com um bom emprego no ramo de cosméticos, vai à procura da mulher que, por sua causa, viveu vários anos encarcerada. Queria, assim, reparar o mal que a mentira na infância acarretou. Em Deus ajude essa criança, Toni Morrison coloca uma questão difícil de ser respondida: o que fazer com o erro cometido por uma criança, motivado por uma força contra a qual ela era incapaz de lutar?
Na contracapa do livro está escrito que se trata de “um conto de fadas moderno”, e é, só que sem príncipes e princesas. Mas o amor, este sim, está presente na vida da autosufientente Bride.