21/06/2017
O New York Times noticiou no ultimo dia 19 que, “desde 2011, pelo menos três agências federais mexicanas gastaram cerca de 80 milhões de dólares [71,5 milhões de euros]” para comprar o software criado pela empresa israelita NSO Group. Segundo a publicação, o governo mexicano usa o software de espionagem para monitorar jornalistas e ativistas de direitos humanos no país.
O Pegasus, como é conhecido, infiltra-se em smartphones para monitorizar cada detalhe da vida cibernética do seu responsável, escrutinando chamadas, mensagens de texto, emails, contactos e calendários. “É até capaz de usar o microfone e a câmara dos telemóveis sob vigilância, transformando cada smartphone numa escuta pessoal”, explica o diário nova-iorquino.
O site Expresso acrescentou que o governo do México deu uma resposta breve em que diz reprovar qualquer tentativa de violar o direito à privacidade de qualquer pessoa.
A revelação tem por base “dezenas de mensagens examinadas pelo NYT e por analistas forenses independentes”, que comprovam que este software é utilizado contra alguns dos maiores críticos do governo do México e as suas respetivas famílias, “no que muitos veem como um esforço sem precedentes para impedir o combate à corrupção que continua a infetar cada membro da sociedade mexicana”, aponta o jornal.
“Somos os novos inimigos do Estado”, diz Juan E. Pardinas, diretor-geral do Instituto Mexicano para a Competitividade, que concentra seu trabalho em criar mais legislação anticorrupção. “A nossa é uma sociedade em que a democracia foi corroída.” De acordo com as análises independentes, o seu iPhone e o da sua mulher foram alvos do Pegasus. Contactada pelo “New York Times”, a empresa israelita que produz o software garantiu que só o vende a governos e sob a condição explícita de apenas ser usado na luta contra terroristas, cartéis da droga e grupos criminosos que continuam a raptar e a matar mexicanos.
Na última segunda-feira (19), durante uma conferência de imprensa na Cidade do México, a jornalista Carmen Aristegui acusou o Estado de atividades criminosas, depois de ter apresentado uma queixa formal contra o governo juntamente com outras oito pessoas. “Os agentes do Estado mexicano, longe de fazerem o que deviam e de forma legal, têm usado os nossos recursos, os nossos impostos e o nosso dinheiro para cometerem crimes sérios”, acusou a repórter.
Em comunicado enviado à BBC, um porta-voz do Presidente Enrique Peña Nieto desmentiu “categoricamente” as alegações, dizendo que o governo só orquestra ciberataques contra o crime organizado e quando há ameaças à segurança nacional, de acordo com as leis do país, e nunca contra jornalistas ou ativisitas. “O governo desmente categoricamente que qualquer dos seus membros tenha vigiado ou interferido nas comunicações dos que defendem os direitos humanos, de jornalistas, de ativistas anticorrupção ou de qualquer outra pessoa sem autorização judicial prévia.”